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sábado, 1 de agosto de 2020
Julio Cortázar (Argentina: 1914 – 1984)
O breve amor
Com que pura doçura
levanta-me do leito em que sonhava
profundas plantações perfumadas,
passeia os dedos por minha pele e me desenha
no espaço, instável, até que o beijo
pouse curvo e recorrente
para que o fogo lento comece
a dança cadenciada da fogueira
tecendo-se em rajadas, em hélices,
ir e vir de um furação de fumo –
(por que, a seguir,
o que resta de mim
é apenas um afogar-se entre as cinzas
sem um adeus, sem nada mais que o gesto
de libertar as mãos?)
El breve amor
Con qué tersa dulzura
me levanta del lecho en que soñaba
profundas plantaciones perfumadas,
me pasea los dedos por la piel y me dibuja
en el espacio, en vilo, hasta que el beso
se posa curvo y recurrente
para que a fuego lento empiece
la danza cadenciosa de la hoguera
tejiédose en ráfagas, en hélices,
ir y venir de un huracán de humo
(por qué, después,
lo que queda de mí
es sólo un anegarse entre las cenizas
sin un adiós, sin nada más que el gesto
de liberar las manos?)
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