segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Gloria Young (Panamá: 1952 – )

 Sou

  

Sou receptáculo

de todas as palavras suspensas no vento

da luz que atravessa minha curvada cordilheira

da canção do sonho

do mar com suas espumas

da alma vertida no limiar de uma estrela

 

Sou voz

que não se esconde

que explora suas texturas

que uiva no mistério de todos os silêncios

que murmura a vida

que espreita na vigília

que faz voar o riso vencendo a nostalgia.

 

Sou água

da chuva

do mar

da tormenta

e busco os tesouros

e lavo

as memórias

 

Sou mulher

deste século

escalando esperanças

cavalgando corcéis

de amor e ternura

abrindo meus poros

ao perfume das frutas

soltando os cabelos

singrando a doçura

aqui

na penumbra

do

pôr do sol

 

Soy

  

Soy recinto

de todas las palabras colgadas en el viento

de la luz que atraviesa mi curva cordillera

de la canción del sueño

del mar con sus espumas

del alma desbocada al filo de una estrella

 

Soy voz

que no se esconde

que explora sus tejidos

que aúlla en el misterio de todos los silencios

que murmura a la vida

que acecha en la vigilia

que da vuelo a la risa venciendo la nostalgia.

 

Soy agua

de la lluvia

del mar

de la tormenta

y busco los tesoros

y lavo

las memorias

 

soy mujer

de este siglo

escalando esperanzas

cabalgando corceles

de amor y de ternura

abriéndome los poros

al olor de las frutas

soltándome el cabello

surcando la dulzura

aquí

en la penumbra

de la

puesta del sol



domingo, 30 de agosto de 2020

Rubén Darío (Nicarágua: 1867 – 1966)

 


Melancolia

 

A Domingos Bolívar

 

Irmão, tu que tens a luz, dá-me a minha.

Como um cego, vou sem rumo, às palpadelas.

Vou debaixo de tormentas e procelas

cego de sonho e louco de harmonia.

 

Esse é meu mar. Sonhar. A poesia

é a camisa férrea de mil aguilhões cruentos

que levo sobre a alma. Os espinhos sangrentos

deixam cair gotas de minha melancolia.

 

E assim vou, cego e louco, por este mundo amargo;

às vezes penso que meu caminho é muito longo,

e às vezes que é bem curto.

 

E neste titubeio de alento e agonia,

trago pleno de penas o que apenas suporto.

Não ouves cair gotas de minha melancolia?

 

 

Melancolía

 

A Domingo Bolívar

 

Hermano, tú que tienes la luz, dime la mía.

Soy como un ciego. Voy sin rumbo y ando a tientas.

Voy bajo tempestades y tormentas

ciego de sueño y loco de armonía.

 

Ése es mi mal. Soñar. La poesía

es la camisa férrea de mil puntas cruentas

que llevo sobre el alma. Las espinas sangrientas

dejan caer las gotas de mi melancolía.

 

Y así voy, ciego y loco, por este mundo amargo;

a veces me parece que el camino es muy largo,

y a veces que es muy corto…

 

Y en este titubeo de aliento y agonía,

cargo lleno de penas lo que apenas soporto.

¿No oyes caer las gotas de mi melancolía?



 

 

sábado, 29 de agosto de 2020

Matilde Ladrón de Guevara (Chile: 1910 – 2009)

 

A aurora

  

(à minha filha Sybila Arredondo)

  

Vertes, aurora, o múltiplo horizonte

dourados lírios e inflamadas rosas,

espargem luz tuas asas ruidosas

e lavras em cor o árduo monte.

 

Jovem e alegre ante meus olhos, ponte

sobre um poente de estrelas laboriosas

e com lanças e flechas vitoriosas

queima a nuvem que tu giras monte.

 

Irradias na noite, casto mito,

e quebras seu silêncio com um grito

de amor e sede na brumosa entranha.

 

Todo o universo virgem te enamora.

Acelera teus corcéis, vencedora,

a criação do homem te acompanha!

  

La Aurora

  

(a mi hija Sybila Arredondo)

  

Viertes, aurora, al múltiple horizonte

dorados lirios y encendidas rosas,

emanan luz tus alas bulliciosas

y labras en color el arduo monte.

 

Joven y alegre ante mis ojos, ponte

sobre un puente de estrellas laboriosas

y con lanzas y flechas victoriosas

quema la nube que tu rueda monte.

 

Irradias en la noche, casto mito,

y quiebras su silencio con un grito

de amor y sed en la brumosa entraña.

 

El universo virgen te enamora.

¡Apura tus corceles, vencedora,

la creación del hombre te acompaña!



sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Adela Zamudio (Bolívia: 1854 – 1928)

  

Quo vadis

 

Quo vadis

 

Sozinha, no amplo páramo do mundo,

Sozinha com a dor,

Em seu confim com estupor profundo

Olho alçar-se um celeste resplendor:

 

É Ele! Aparição deslumbradora

Doce e branca feição,

Que avança, com a destra protetora

Em conduta de paz e bendição.

 

Inclino ante Ele a face dolorida

Trêmula de ternura e de temor,

E exclamo com comovida inflexão:

– Aonde vais, Senhor?

 

– A Roma em que teus mártires souberam

Em horríveis suplícios perecer

É hoje o que seus césares quiseram:

Empório de elegância e de prazer.

 

Ali está Pedro. O pescador que um dia

Profetizou a pobreza e a humildade,

Coberto de faustosa pedraria

Ostenta seu poder e majestade.

 

Violento imitador dos pagãos,

O Santo Inquisidor

Em teu nome pôs fogo em seus irmãos...

– Aonde vais, Senhor?

 

Lá, nos teus templos onde o culto impera

No fundo o que existe? O lucro e a vaidade.

Quão poucos são os que com fé verdadeira

Adoram-te em espírito e verdade!

 

O mundo com teu sangue redimido,

Séculos depois de tua paixão,

Está mais infeliz, mais pervertido,

Mais que no tempo de Nero, pagão.

 

Defronte o altar da Deidade impura,

Órfã de um ideal, a juventude

Contrária ao amor da alma se conjura

Proclamando o prazer como virtude.

 

As antigas barbáries que subsistem,

Só alteram seus nomes com a idade;

A escravidão e o tormento ainda persistem

E é mentira grosseira a igualdade.

 

Sempre em luta oprimidos e opressores!

De um lado, quem riqueza e poder tem,

Do outro estão a miséria e seus horrores;

E toda iniquidade... Hoje como ontem.

 

Hoje como ontem os povos da terra

Se armam diante do assalto e a traição,

E alça triunfante o monstro da guerra

A bandeira de espanto e confusão.

 

Nos antros da perversão e do engano

Cego, fatal, o homem sente horror.

E perplexo, duvida de si mesmo...

– Aonde vais, Senhor?

  

Quo Vadis


Sola, en el ancho páramo del mundo,

Sola con mi dolor,

En su confín, con estupor profundo

Miro alzarse un celeste resplandor:

 

¡Es Él! Aparición deslumbradora

De blanca y dulce faz,

Que avanza, con la diestra protectora

En actitud de bendición y paz.

 

Inclino ante Él mi rostro dolorido

Temblando de ternura y de temor,

Y exclamo con acento conmovido:

– ¿A dónde vas, Señor?

 

– La Roma en que tus mártires supieron

En horribles suplicios perecer

Es hoy lo que los césares quisieron:

Emporio de elegancia y de placer.

 

Alli está Pedro. El pescador que un día

Predicó la pobreza y la humildad,

Cubierto de lujosa pedrería

Ostenta su poder y majestad.

 

Feroz imitador de los paganos,

El Santo Inquisidor

Ha quemado en tu nombre a sus hermanos...

¿A dónde vas, Señor?

 

Allá en tus templos donde el culto impera

¿Qué hay en el fondo? O lucro o vanidad.

¡Cuán pocos son los que con fe sincera

Te adoran en espíritu y verdad!

 

El mundo con tu sangre redimido,

Veinte siglos después de tu pasión,

Es hay más infeliz, más pervertido,

Más pagano que en el tiempo de Nerón.

 

Ante el altar de la Deidad impura,

Huérfana de ideal, la juventud

Contra el amor del alma se conjura

Proclamando el placer como virtud.

 

Las antiguas barbaries que subsisten,

Sólo cambian de nombre con la edad;

La esclavitud y aun el tormento existen

Y es mentira grosera la igualdad.

 

¡Siempre en la lucha oprimidos y opresores!

De un lado, la fortuna y el poder,

Del otro, la miseria y sus horrores;

Y todo iniquidad... Hoy como ayer.

 

Hoy como ayer, los pueblos de la tierra

Se arman para el asalto y la traición,

Y alza triunfante el monstruo de la guerra

Su bandera de espanto y confusión.

 

Ciega, fatal, la humanidad se abisma

En los antros del vicio y del error.

Y duda, horrorizada de sí misma...

– ¿A dónde vas, Señor?



quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Matilde Ladrón de Guevara (Chile: 1910 – 2009)

 

O vento na planície

 

Gritei na tarde uma palavra ao vento,

e o vento – eu não sei! – com sua linguagem,

foi-se aventurando pela cinza ramagem

Como ave ferida em estarrecimento.

 

Uma palavra simples, um sentimento

de citação morta, cor de viagem;

de pena acumulada na paisagem,

como a cor cinza do poente lento.

 

Depois, a noite. A planície, o páramo

apenas com seus astros, sonolento,

sem rumo certo pela sombra eu ia,

 

perseguindo-me; depois, em um voo

de pássaro agourento, só o vento

gritava seu adeus em minha via.

  

El Viento en la llanura

 

Grité en la tarde una palabra al viento,

y el viento -¡yo no sé!- con su lenguaje,

la fue aventando por el gris ramaje

como pájaro herido en ardimiento.

 

Una palabra simple, un sentimiento

de cita muerta, de color de viaje;

de pena acumulada en el paisaje,

tal la ceniza del ocaso lento.

 

Después, la noche. La llanura, el cielo

apenas con los astros, soñoliento,

y mi errar por la sombra sin destino,

 

persiguiéndome; entonces, en un vuelo

de pájaro agorero, sólo el viento

me gritaba su adiós en mi camino.



terça-feira, 25 de agosto de 2020

Oscar Ferreiro (Paraguai: 1921 – 2004)

 

Fuga às três

 

Os carcereiros lá bebem

tranquilos seu tereré

e Humberto nervoso espera

sua liberdade às três.

No sórdido matadouro

de uma masmorra cruel

conta os gélidos barrotes

pela centésima vez.

Do cárcere de Assunção

não mais nem menos que às três

saía Humberto Garcete

por graça de um coronel.

– Não te fies nesses cães

pois eles te irão vender.

– É palavra de um amigo,

palavra de um coronel.

 

– Não te fies nesses cães

pois eles te irão vender.

– É palavra de um amigo,

palavra de um coronel.

– Não te fies companheiro,

que o pó te farão morder.

– É palavra de um soldado,

palavra de um coronel.

– Dize-lhes que não, Garcete,

pois eles te irão vender.

– De um soldado, de um amigo,

promessa de um coronel...

– A promessa de um esbirro

não vale nem num bordel!

 

Girou na torre o relógio,

soaram a uma e as duas;

mas teriam que soar

não mais nem menos que três.

Sangrenta roda de horror

a Catedral bateu duas;

mas teriam que soar

não mais nem menos que três.

Seca a meia hora soou,

dura e breve golpeou

de encontro à alta parede,

tão nervosa para as três.

O vento livre de Deus

quando soara o relógio

por fim iria beber

não mais nem menos que às três

 

– Carcereiro, tenho sede...

– Já em casa hás de beber.

(Com vil riso e de você

disfarça sua doblez).

 

– E esse que geme?

 

– É o trem.

 

– E lá fora há lua?

 

– Assim é.

 

– Ditosos os que a veem!

– Só um minuto e a verás...

(E sempre atento ao relógio

Humberto deu-lhe um sorriso).

– Sim sairá tudo bem...

– Alta lua do laurel,

bela estará tua tez!

(O sorriso do furriel

confirma por sua vez.)

– a cama vão te estender

com lençóis acetinados.

 

Sobre a bigorna da noite

Vulcano obscuro bateu

e nunca tão dura foi

aquela última hora.

À noite em suas gargantas

os grilos já martelavam

como teria de ser

não mais nem menos que três.

Três marteladas de morte

Vulcano obscuro bateu,

três golpes de morte,

três, nem mais nem menos que três.

  

Fuga a las tres

 

Los carceleros se beben

tranquilos su tereré

y Humberto nervioso espera

su libertad a las tres.

En el sucio moridero

de una mazmorra cruel

cuenta los fríos barrotes

por la centésima vez.

De la cárcel de Asunción

exactamente a las tres

saldría Humberto Garcete

por gracia de un coronel.

 

– No te fíes de esos perros

porque te van a vender.

– Es palabra de un amigo,

palabra de un coronel.

– No te fíes, compañero,

que el polvo te harán morder.

– Es palabra de un soldado,

palabra de un coronel.

– Deciles que no, Garcete,

porque te van a vender.

– De un soldado, de un amigo,

promesa de un coronel…

– ¡La promesa de un esbirro

no corre ni en un burdel!

 

Giró en la torre el reloj,

sonó la una, las dos;

pero tenía que ser

exactamente a las tres.

Sangrienta rueda de horror

la Catedral dio las dos;

pero tenía que ser

exactamente a las tres.

Seca la media sonó,

dura y escueta golpeó

contra la alta pared,

tan tensa para las tres.

El viento libre de Dios

cuando sonara el reloj

al fin saldría a beber

exactamente a las tres.

 

– Carcelero, tengo sed…

– Ya en su casa ha de beber.

(Con vil sonrisa y de usted

disimula su doblez).

 

–¿Y eso que gime?

 

– Es el tren.

 

– ¿Y afuera hay luna?

 

– Así es.

 

– ¡Dichosos los que la ven!

– Sólo un minuto y la ve…

(Y siempre atento al reloj

Humberto le sonrió).

– Si todo saldrá tan bien…

– Alta luna del laurel,

¡hermosa estará en su tez!

(La sonrisa del furriel

lo confirma a su vez).

– La cama le han de tender

con sábanas de satén…

 

Sobre el yunque de la noche

Vulcano oscuro golpeó

y nunca tan dura fue

aquella hora postrer.

A la noche en la garganta

los grillos le remachó,

como tenía que ser

exactamente a las tres.

Tres martillazos de muerte

Vulcano oscuro golpeó,

tres golpes de muerte,

tres, ni más ni menos que tres.


Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

  Argonautas   E se a alma deve conhecer-se a si mesma ela deve voltar os olhos para outra alma: * o estrangeiro e inimigo, vim...