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quarta-feira, 29 de abril de 2020

Eugenio Montejo (Venezuela: 1938 – 2008)



O Naufrágio


O naufrágio de um corpo em outro corpo
quando em sua noite, súbito, vai a pique...
As bolhas que sobem vindas do fundo
até a bordada dobra dos lençóis.
Negros abraços e gritos na penumbra
para morrer um no outro,
até apagar-se no interior do escuro
sem que o rancor se apodere desta morte.
Os enlaçados corpos que soçobram
sob uma mesma tormenta solitária,
a luta contra o tempo já sem tempo,
apalpando o infinito aqui tão próximo,
o desejo que devora com suas fauces,
a lua que consola e já não basta.
O naufrágio final contra a noite,
sem mais para além da água, senão a água,
sem outro paraíso nem outro inferno
além do fugaz epitáfio da espuma
e a carne que morre em outra carne.



El naufragio


El naufragio de un cuerpo en otro cuerpo
cuando en su noche, de pronto, se va a pique…
Las burbujas que suben desde el fondo
hasta el bordado pliegue de las sábanas.
Negros abrazos y gritos en la sombra
para morir uno en el otro,
hasta borrarse dentro de lo oscuro
sin que el rencor se adueñe de esta muerte.
Los enlazados cuerpos que zozobran
bajo una misma tormenta solitaria,
la lucha contra el tiempo ya sin tiempo,
palpando lo infinito aquí tan cerca,
el deseo que devora con sus fauces,
la luna que consuela y ya no basta.
El naufragio final contra la noche,
sin más allá del agua, sino el agua,
sin otro paraíso ni otro infierno
que el fugaz epitafio de la espuma
y la carne que muere en otra carne.



Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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