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quarta-feira, 4 de março de 2020

Miguel de Unamuno (Espanha: 1864 –1936)





Morrer Sonhando


"Em realidade, ele dizia a si mesmo, parece
que meu destino é morrer sonhando."
(Stendhal, O Vermelho e o Negro,LXX,
«A tranquilidade»)

Morrer sonhando, sim, mas se se sonha
morrer, a morte é sonho; uma ventana
para o vazio; não sonhar; nirvana;
ao tempo enfim a eternidade apanha.

Viver o presente sob o estandarte
do ontem que no amanhã se desfaz;
viver acorrentado ao que não apraz
é acaso viver? e é do viver a arte?

Sonhar a morte não é matar o sonho?
Viver o sonho não é matar a vida?
Por que a ele dedicar tanto labor?

Aprender o que em breve e ao fim se olvida
fixando o cenho pleno de rigor
– céu deserto – do perene Senhor?


Morir soñado


Au fait, se disait-il a lui-même, il parait que
mon destin est de mourir en rêvant.
(Stendhal, Le Rouge et le Noir, LXX,
«La tranquillité»)

Morir soñando, sí, mas si se sueña
morir, la muerte es sueño; una ventana
hacia el vacío; no soñar; nirvana;
del tiempo al fin la eternidad se adueña.

Vivir el día de hoy bajo la enseña
del ayer deshaciéndose en mañana;
vivir encadenado a la desgana
¿es acaso vivir? ¿y esto qué enseña?

¿Soñar la muerte no es matar el sueño?
¿Vivir el sueño no es matar la vida?
¿A qué poner en ello tanto empeño?:

¿aprender lo que al punto al fin se olvida
escudriñando el implacable ceño
– cielo desierto – del eterno Dueño?

Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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