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segunda-feira, 29 de junho de 2020

Siegfried Sassoon (Inglaterra: 1886 – 1967)





O Leito de Morte


Ele cochilou e estava ciente de que o silêncio se adensava
a sua volta, inabalável qual sólida muralha;
Aquoso qual raios de luz âmbar ondulante,
Pairando trêmulo nas asas do sono.
Silêncio e segurança; e sua orla mortal
Beijada na noite sem lua pelas insinuantes ondas da morte.

Alguém levava água a sua boca,
Ele engoliu, sem resistir; gemeu e afundou-se
Na escuridão por entre o vermelho vivo da tristeza; e esqueceu-se
da pulsação opiácea e dolorida de seu ferimento.
Água - calma, deslizando esverdeada sobre a barragem.
Água - uma passagem iluminada pelo céu para seu barco,
Ave - sonora, e circundada por reflexos de flores.
E matizes difusos de verão; ao flutuar,
Remou com pugnacidade, e suspirou, e adormeceu.

Noite - com uma rajada de vento, ela adentrou a enfermaria,
Agitando a cortina em curva bruxuleante.
Noite - estava cego; não via as estrelas
Reluzindo por entre fantasmas de tristeza divagante;
Estranhos borrões coloridos, púrpura, escarlate, verde,
Cintilando e desvanecendo em seus olhos marejados.

Chuva - podia ouvi-la rumorejar na escuridão;
Fragrância entrelaçada a música desapaixonada;
Chuva morna sobre rosas pendentes; aguaceiro tamborilante
Que encharca os bosques; não a chuva áspera que arrasa
Ao som do trovão, mas a paz gotejante,
Que delicada e lentamente vai ceifando a vida.

Ele moveu-se, arredando o corpo; então a dor
Saltou como besta desgovernada, e agarrou e rasgou
Seus sonhos tateantes com garras e presas que dilaceravam.
Mas alguém estava ao seu lado; logo acalmou-se
Estremecendo,  pois aquela coisa malévola havia passado.
E a morte, que se aproximara, interrompeu seus passos e fitou-o.

Acendam luzes suficientes e juntem-se ao redor de sua cama.
Emprestem-lhe seus olhos, sangue quente, e a vontade de viver.
Falem com ele; estimulem-no; ainda podem salvá-lo.
Ele é jovem; ele odiava a Guerra; como pode ele morrer
Enquanto velhos e cruéis propugnadores salvam-se vitoriosos?

Mas a morte respondeu: "Eu o escolhi." Então ele se foi,
E fez-se silêncio na noite de verão;
Silêncio e segurança; e os véus do sono.
Depois, muito ao longe, o troar das armas.


The Death Bed


He drowsed and was aware of silence heaped
Round him, unshaken as the steadfast walls;
Aqueous like floating rays of amber light,
Soaring and quivering in the wings of sleep.
Silence and safety; and his mortal shore
Lipped by the inward, moonless waves of death.

Someone was holding water to his mouth.
He swallowed, unresisting; moaned and dropped
Through crimson gloom to darkness; and forgot
The opiate throb and ache that was his wound.
Water — calm, sliding green above the weir.
Water — a sky-lit alley for his boat,
Bird — voiced, and bordered with reflected flowers
And shaken hues of summer; drifting down,
He dipped contented oars, and sighed, and slept.

Night — with a gust of wind, was in the ward,
Blowing the curtain to a glimmering curve.
Night — he was blind; he could not see the stars
Glinting among the wraiths of wandering cloud;
Queer blots of colour, purple, scarlet, green,
Flickered and faded in his drowning eyes.

Rain — he could hear it rustling through the dark;
Fragrance and passionless music woven as one;
Warm rain on drooping roses; pattering showers
That soak the woods; not the harsh rain that sweeps
Behind the thunder, but a trickling peace,
Gently and slowly washing life away.

He stirred, shifting his body; then the pain
Leapt like a prowling beast, and gripped and tore
His groping dreams with grinding claws and fangs.
But someone was beside him; soon he lay
Shuddering because that evil thing had passed.
And death, who'd stepped toward him, paused and stared.

Light many lamps and gather round his bed.
Lend him your eyes, warm blood, and will to live.
Speak to him; rouse him; you may save him yet.
He's young; he hated War; how should he die
When cruel old campaigners win safe through?

But death replied: 'I choose him.' So he went,
And there was silence in the summer night;
Silence and safety; and the veils of sleep.
Then, far away, the thudding of the guns.


Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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