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quarta-feira, 24 de junho de 2020

Rubén Darío (Nicarágua: 1867 – 1916) *



Canção de Outono na Primavera


Juventude, excelso tesouro,
já te vais para não volver!
Se desejo chorar, não choro...
e às vezes choro sem querer...


Múltipla tem sido a celeste
história do meu coração.
Era a doce menina, neste
mundo de dor e de aflição.


Olhava como a alba mais pura;
sorria tal qual uma flor.
A sua cabeleira escura
Formada era de noite e dor.


Eu, tímido qual garotinho,
Ela, naturalmente, era,
para a minha afeição de arminho
Herodíade e Salomé...


Juventude, excelso tesouro,
já te vais para não volver!
Se desejo chorar, não choro...
e às vezes choro sem querer...


E mais consoladora e mais
bajuladora e expressiva,
a outra foi mais sensitiva
como não pensei achar jamais.


Pois à sua contínua ternura
uma paixão violenta unia.
Em um peplo de gaze pura
Uma bacante se envolvia...


Nos seus braços tomou meu sonho
e o ninou como a um bebé...
e te matou, infante e tristonho,
falto de luz, falto de fé.


Juventude, excelso tesouro,
já te vais para não volver!
Se desejo chorar, não choro...
e às vezes choro sem querer...


Outra julgou ser minha boca
um estojo da sua paixão;
e que roeria, aloucada,
com seus dentes meu coração.


Pondo num afeto sobejo
a mira de sua vontade,
enquanto que abraços e beijos
síntese eram da eternidade;


e de nossa carne ligeira
sempre um Éden imaginar,
sem esperar que a Primavera
vai como a carne se acabar.


Juventude, excelso tesouro,
já te vais para não volver!
Se desejo chorar, não choro...
e às vezes choro sem querer...


E as outras mais! Em tantos climas,
em tantas terras sempre são,
senão pretextos das mi'as rimas
fantasmas do meu coração.


Em vão eu busco pela princesa
já triste de tanto esperar.
A vida é dura. Amarga e pesa.
Já não há mais princesa a cantar!


Apesar do tempo teimoso
Mi'a sede de amor não tem fim;
com o meu cabelo grisalho
chego aos roseirais do jardim.


Juventude, excelso tesouro,
já te vais para não volver!
Se desejo chorar, não choro...
e às vezes choro sem querer...


Mas a mim pertence a Alba de ouro!



Canción de Otoño en Primavera


Juventud, divino tesoro,
¡ya te vas para no volver!
Cuando quiero llorar, no lloro...
y a veces lloro sin querer...

Plural ha sido la celeste
historia de mi corazón.
Era una dulce niña, en este
mundo de duelo y de aflicción.

Miraba como el alba pura;
sonreía como una flor.
Era su cabellera obscura
hecha de noche y de dolor.

Yo era tímido como un niño.
Ella, naturalmente, fue,
para mi amor hecho de armiño,
Herodías y Salomé...

Juventud, divino tesoro,
¡ya te vas para no volver!
Cuando quiero llorar, no lloro...
y a veces lloro sin querer...

Y más consoladora y más
halagadora y expresiva,
la otra fue más sensitiva
cual no pensé encontrar jamás.

Pues a su continua ternura
una pasión violenta unía.
En un peplo de gasa pura
una bacante se envolvía...

En sus brazos tomó mi ensueño
y lo arrulló como a un bebé...
Y te mató, triste y pequeño,
falto de luz, falto de fe...



Juventud, divino tesoro,
¡te fuiste para no volver!
Cuando quiero llorar, no lloro...
y a veces lloro sin querer...

Otra juzgó que era mi boca
el estuche de su pasión;
y que me roería, loca,
con sus dientes el corazón.

Poniendo en un amor de exceso
la mira de su voluntad,
mientras eran abrazo y beso
síntesis de la eternidad;

y de nuestra carne ligera
imaginar siempre un Edén,
sin pensar que la Primavera
y la carne acaban también...

Juventud, divino tesoro,
¡ya te vas para no volver!
Cuando quiero llorar, no lloro...
y a veces lloro sin querer.

¡Y las demás! En tantos climas,
en tantas tierras siempre son,
si no pretextos de mis rimas
fantasmas de mi corazón.

En vano busqué a la princesa
que estaba triste de esperar.
La vida es dura. Amarga y pesa.
¡Ya no hay princesa que cantar!

Mas a pesar del tiempo terco,
mi sed de amor no tiene fin;
con el cabello gris, me acerco
a los rosales del jardín...

Juventud, divino tesoro,
¡ya te vas para no volver!
Cuando quiero llorar, no lloro...
y a veces lloro sin querer...



¡Mas es mía el Alba de oro!


Nota:

(*) Félix Rubén García Sarmiento foi iniciador e máximo representante do Modernismo literário em língua espanhola. É possivelmente o poeta que tenha tido, na poesia espanhola do século XX, uma maior e mais duradoura influência. É chamado príncipe de las letras castellanas. O erotismo é um dos temas centrais de sua poesia, e alguns críticos afirmam que se trata do tema essencial de sua obra poética, ao que todos os demais estão subordinados. A poesia de Darío se diferencia da poesia de outros poetas amorosos pela inexistência da personagem literária da amada ideal, pois nela sobressaem muitas amadas passageiras.

Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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