segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Mary Oliver (EUA: 1935 – 2019)


Gansos selvagens

 

Você não precisa ser bom.

Você não precisa caminhar sobre os joelhos

por cento e sessenta e um quilômetros pelo deserto, arrependendo-se.

Apenas deixe o suave animal de seu corpo

amar o que ele ama.

Fale-me sobre desespero, o seu, e eu lhe direi sobre o meu.

Enquanto isso o mundo gira.

Enquanto isso o sol e os seixos claros da chuva

movem-se pelas paisagens,

sobre as pradarias e as árvores profundas,

as montanhas e os rios.

Seja quem você for, não importa quão solitário,

o mundo se oferece à sua imaginação,

chama por você como aos gansos selvagens, ásperos e excitantes –

incansavelmente anunciando seu lugar

na família das coisas.

 

 

Wild Geese

 

You do not have to be good.

You do not have to walk on your knees

for a hundred miles through the desert, repenting.

You only have to let the soft animal of your body

love what it loves.

Tell me about despair, yours, and I will tell you mine.

Meanwhile the world goes on.

Meanwhile the sun and the clear pebbles of the rain

are moving across the landscapes,

over the prairies and the deep trees,

the mountains and the rivers.

Meanwhile the wild geese, high in the clean blue air,

are heading home again.

Whoever you are, no matter how lonely,

the world offers itself to your imagination,

calls to you like the wild geese, harsh and exciting –

over and over announcing your place

in the family of things.

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