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segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Orfila Bardesio (Uruguai: 1922 – 2009)




O rio


ignora que leopardos ou que oliveiras
colaboraram em seu números de chamas.
Em que escuras entranhas
levantaram-se suas origens do musgo.
Em que fechamento de álamos moveram-se os lábios
de seu contínuo nascimento.
– Seu nascimento não terminou nunca. –
É estranha a suas mãos e seus ossos,
estranha às colunas de suas pernas.
– Entre elas reina a amizade de companheiros,
seu respeitoso amor as torna
cada vez mais desconhecidas –
Estranha é a andarilha que entrou em seu semblante distante.
Conduzida por guias ao mais seguro lugar
perdeu-se em uma harpa de horas.
Ignora aonde vão os carros de seu enterro
e se realmente morreu.
Se as carruagens levam seus olhos à visão
ou só o peso de desertos,
bruscamente aumentados.
Nua, nem a delgada linha de um cabelo
separa-a de remotas estrelas.
– Sua geografia constrói fronteiras com andorinhas –
Sua vigília é queimar arredores.
Seu trabalho é sair, é correr.
Sua profissão é a de um rio
que não quer consolo.
Não há tesouro que possa detê-la.


El Rio

A Jorge Luis Borges.

ignora qué leopardos o qué olivos
colaboraron en su número de llamas.
En qué oscuras entrañas
se levantaron sus orígenes del musgo.
En qué fecha de álamos se movieron los labios
de su continuo nacimiento.
–Su nacimiento no ha cesado nunca.–
Es extraña a sus manos y a sus huesos,
extraña a las columnas de sus piernas.
– Entre ellas, reina amistad de compañeros,
su respetuoso amor las vuelve
cada vez más desconocidas.–
Extraña es la viajera que entró en su rostro lejano.
Conducida por guías al más seguro sitio
se ha perdido en un arpa de hojas.
Ignora a dónde van los coches de su entierro
y si realmente ha muerto.
Si los carruajes llevan sus ojos a la visión
o solo el peso de desiertos,
bruscamente aumentados.
Desnuda, ni la delgada línea de un cabello
la separa de remotas estrellas.
– Su geografía gasta fronteras con golondrinas
Su vigilia es quemar alrededores.
Su trabajo es salir, es correr.
Su profesión es la de un río
que no quiere consuelo.
No hay tesoro que pueda detenerla.



Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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