Mostrando postagens com marcador Inglaterra: William Blake (1757 – 1827) - O Tigre / The Tyger. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Inglaterra: William Blake (1757 – 1827) - O Tigre / The Tyger. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

William Blake (Inglaterra: 1757 – 1827)

O Tigre (*)

  

TiGRE, tigre, que se abrasa fulgente
Nas florestas tenebrosas da noite,
Qual olho ou mão imortal poderia
Moldar tua terrível simetria? [1]

 

Em que remotos abismos ou céus
Arderam as chamas dos olhos teus?
Com quais asas se atreve ele a voar?
Qual mão se atreve ao fogo dominar? [2]

 

E qual ombro e qual arte o criou
Torcendo as forças do teu coração?
E quando o teu coração latejou,
Que terríveis pés e terrível mão? [3]

 

Mas com que corrente? Com que martelo?
Em que fornalha forjou-se o teu cérebro?
Que bigorna? Que terríveis tenazes
Ousam apertar teus letais terrores? [4]

 

Quando as estrelas arremessam lanças,
Umedecendo o céu com suas lágrimas,
Ao enxergar o que fez, Ele sorriu?
Se criou a ovelha, Ele te produziu? [5]

 

TiGRE, tigre, que se abrasa fulgente
Nas florestas tenebrosas da noite,
Que olho ou mão imortal, por ousadia,
Molda tua terrível simetria?
[6]
 


The Tyger

  

TYGER, tyger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?

 

In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare seize the fire?

 

And what shoulder and what art
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand and what dread feet?

 

What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? What dread grasp
Dare its deadly terrors clasp?

 

When the stars threw down their spears,
And water'd heaven with their tears,
Did He smile His work to see?
Did He who made the lamb make thee?

 

TYGER, tyger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?

 

 (*) Se no original o poema foi escrito em versos heptassílabos, faço sua tradução em versos decassílabos, visando não perder conteúdo ou simplesmente reinterpretá-lo.


Notas

[1] Qual ser imortal criou essa terrível criatura que, com suas perfeitas proporções, é uma impressionante máquina de matar?

[2] O tigre foi criado no inferno ou no céu? Se quem o criou possuía asas, como chegou tão próximo à fornalha em que o moldou? Como ele pode trabalhar com fogo tão flamejante?

[3] Que força e que arte modelou o coração do tigre? Qual criador conseguiria permanecer à frente de tão terrível criatura e concluí-la?

[4] Temos aqui as ferramentas e dispositivos de um ferreiro (a corrente que liga o pedal ao fole que aviva o fogo da fornalha), martelo, bigorna e tenaz.

[5] Quando as estrelas atiraram suas lanças (armas, na tradução) sobre o novo ser e as nuvens choraram, o criador deleitou-se com sua criatura? Como ele pôde criar tanto a mansa ovelha quanto o terrível tigre?

[6] Nesta estrofe há uma sutileza raramente levada em conta pelos tradutores deste poema, dentre eles o consagrado Augusto de Campos, talvez para não complicar o verso: se na primeira estrofe o poeta indaga sobre quem ‘poderia moldar’ o tigre, nesta última ele não só sabe quem foi seu Criador como o censura, ao fazer uso do verbo ‘moldar’ no presente do indicativo: ‘quem molda’. 






Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

  Argonautas   E se a alma deve conhecer-se a si mesma ela deve voltar os olhos para outra alma: * o estrangeiro e inimigo, vim...