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sexta-feira, 19 de junho de 2020

Jorge Luis Borges (Argentina: 1899 – 1986)




O Apaixonado (*)

Luas, marfins, instrumentária, rosas,
lâmpadas, também de Dürer o traço,
nove algarismos e o mutável zero,
devo fingir que existem essas coisas.

Devo fingir que antes existiram
Persépolis e Roma e que uma areia
etérea mensurou a sorte da ameia
que os séculos de ferro corroeram.

Devo fingir as armas e a fogueira
da epopeia e os mais tormentosos mares
que desgastaram da terra os pilares;

Devo fingir que há outros. É mentira.
Apenas tu és. Tu, mi'a desventura
e mi'a ventura, inesgotável e pura.


El Enamorado


Lunas, marfiles, instrumentos, rosas,
lámparas y la línea de Durero,
las nueve cifras y el cambiante cero,
debo fingir que existen esas cosas.

Debo fingir que en el pasado fueron
Persépolis y Roma y que una arena
sutil midió la suerte de la almena
que los siglos de hierro deshicieron.

Debo fingir las armas y la pira
de la epopeya y los pesados mares
que roen de la tierra los pilares.

Debo fingir que hay otros. Es mentira.
Sólo tú eres. Tú, mi desventura
y mi ventura, inagotable y pura.


Nota:

(*) por fidelidade a métrica e rimas, vi-me forçado (até encontrar melhor solução) a traduzir 'linha de Dürer' por 'traço de Dürer', além de inverter a ordem das palavras e introduzir um 'também' que não existe no verso original. Ler a respeito do que seja a linha de Dürer em http://100swallows.wordpress.com/2012/01/26/durers-ingenious-lines/ (em inglês)

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