Abertura do livro “Olhe em direção ao lar,
anjo” (prosa poética):
... uma pedra, uma folha, uma porta não encontrada; de uma
pedra, de uma folha, de uma porta. E de todos os rostos esquecidos.
Nus e sós viemos para o exílio. Em seu útero escuro não
conhecemos a face de nossa mãe; da prisão de sua carne viemos para a prisão
indescritível e incomunicável desta terra.
Qual de nós conheceu seu irmão? Qual de nós olhou dentro do
coração de seu pai? Qual de nós não se sentiu para sempre prisioneiro? Qual de
nós não se sentiu para sempre estrangeiro e só?
Ó desperdício de perdas, nos labirintos escaldantes, perdido,
entre as estrelas brilhantes sobre este carvão opaco e exaurido, perdido!
Recordando, sem palavras, buscamos pelo grande idioma esquecido,
o fim do caminho que leva ao céu, uma pedra, uma folha, uma porta não
encontrada. Onde? Quando?
Ó perdido – e pelo vento pranteado – espírito, retorne outra
vez.
Um destino que conduz os ingleses aos holandeses é já bastante
estranho; mas aquele que leva de Epsom à Pensilvânia, e dali às colinas que se
fecham em Altamont sobre o imponente canto coral do galo, e o suave sorriso
pétreo de um anjo, aquele é tocado pelo milagre obscuro do acaso que produz
nova magia em um mundo empoeirado.
Cada um de nós é todas as somas que não computou: se fôssemos
subtraídos e levados de volta e por mais uma vez à nudez e à noite, veríamos
começar em Creta, há quatro mil anos, o amor que ontem chegou ao fim no Texas.
A semente de nossa destruição florescerá no deserto, o remédio
de nossa cura cresce ao lado de uma rocha na montanha, e nossas vidas são atormentadas
por uma rampeira da Georgia, porque um punguista de Londres escapou da forca.
Cada momento é o fruto de quarenta mil anos. Os dias que vencem os minutos,
como moscas, zumbem voando de casa em direção à morte, e cada momento é uma
janela que se abre sobre todo o tempo.
Este é um momento.
Opening of the book “Look Homeward, Angel”
... a stone, a leaf, an unfound door; of a stone, a leaf, a
door. And of all the forgotten faces.
Naked and alone we came into exile. In her dark womb we did not
know our mother's face; from the prison of her flesh have we come into the
unspeakable and incommunicable prison of this earth.
Which of us has known his brother? Which of us has looked into
his father's heart? Which of us has not remained forever prison-pent? Which of
us is not forever a stranger and alone?
O waste of loss, in the hot mazes, lost, among bright stars on
this most weary unbright cinder, lost! Remembering speechlessly we seek the
great forgotten language, the lost lane-end into heaven, a stone, a leaf, an
unfound door. Where? When?
O lost, and by the wind grieved, ghost, come back again.
A destiny that leads the English to the Dutch is strange enough;
but one that leads from Epsom into Pennsylvania, and thence into the hills that
shut in Altamont over the proud coral cry of the cock, and the soft stone smile
of an angel, is touched by that dark miracle of chance which makes new magic in
a dusty world.
Each of us is all the sums he has not counted: subtract us into
nakedness and night again, and you shall see begin in Crete four thousand years
ago the love that ended yesterday in Texas.
The seed of our destruction will blossom in the desert, the
alexin of our cure grows by a mountain rock, and our lives are haunted by a
Georgia slattern, because a London cut-purse went unhung. Each moment is the
fruit of forty thousand years. The minute-winning days, like flies, buzz home
to death, and every moment is a window on all time.
This is a moment.