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sexta-feira, 29 de maio de 2020

Nazim Hikmet (Tessalônica/Grécia: 1902 – Moscou/Rússia: 1963)




Hino à Vida


O cabelo caindo sobre tua testa
esvoaçou de repente.
De repente algo moveu-se no solo.
As árvores estão sussurrando
na escuridão.
Teus braços nus ficarão frios.

Ao longe,
onde não podemos divisar,
a lua deve estar subindo.
Ela não nos alcançou ainda,
deslizando por entre as folhas
para iluminar teus ombros.
Mas sei
que um vento vem com a lua.
As árvores estão sussurrando.
Teus braços nus ficarão frios.

Do alto,
desde os galhos perdidos na escuridão,
algo caiu aos teus pés.
Vieste para mais perto de mim.
Sob minha mão tua carne desnuda é como a pele penujada de uma fruta.
Nem é uma canção do coração nem é “senso comum” -
em frente às árvores, aos pássaros e insetos,
minha mão sobre a carne de minha mulher
está pensando.
Nesta noite minha mão
não pode ler ou escrever.
Nem é amável nem é descortês…
É a língua de um leopardo no salto,
uma folha de uva,
a pata de um lobo.
Para mover-se, respirar, comer, beber.
Minha mão é como a semente
rompendo a casca sob a terra.
Nem é canção do coração nem é “senso comum”,
nem é amável nem descortês.
Minha mão pensando sobre a carne de minha mulher
é a mão do primeiro homem.
Como uma raiz que encontra água subterrânea,
ela me diz:
“Comer, beber, frio, quente, luta, cheiro, cor -
não é viver para morrer
mas morrer para viver...”

E agora
enquanto cabelos femininos vermelhos fustigam-me o rosto,
enquanto algo se move sobre o solo,
enquanto as árvores sussurram na escuridão,
e enquanto a lua eleva-se ao longe
onde não podemos divisar,
minha mão sobre a carne de minha mulher
diante das árvores, dos pássaros e insetos,
quero o direito à vida,
do leopardo no salto, da semente rompendo a casca -
quero o direito do primeiro homem.


Hymn To Life


(Traduzido para o inglês por Randy Blasing e Mutlu Konuk) 

The hair falling on your forehead
suddenly lifted.
Suddenly something stirred on the ground.
The trees are whispering
in the dark.
Your bare arms will be cold.

Far off
where we can't see,
the moon must be rising.
It hasn't reached us yet,
slipping through the leaves
to light up your shoulder.
But I know
a wind comes up with the moon.
The trees are whispering.
Your bare arms will be cold.

From above,
from the branches lost in the dark,
something dropped at your feet.
You moved closer to me.
Under my hand your bare flesh is like the fuzzy skin of a fruit.
Neither a song of the heart nor "common sense"–
before the trees, birds, and insects,
my hand on my wife's flesh
is thinking.
Tonight my hand
can't read or write.
Neither loving nor unloving...
It's the tongue of a leopard at a spring,
a grape leaf,
a wolf's paw.
To move, breathe, eat, drink.
My hand is like a seed
splitting open underground.
Neither a song of the heart nor "common sense,"
neither loving nor unloving.
My hand thinking on my wife's flesh
is the hand of the first man.
Like a root that finds water underground,
it says to me:
"To eat, drink, cold, hot, struggle, smell, color–
not to live in order to die
but to die to live..."

And now
as red female hair blows across my face,
as something stirs on the ground,
as the trees whisper in the dark,
and as the moon rises far off
where we can't see,
my hand on my wife's flesh
before the trees, birds, and insects,
I want the right of life,
of the leopard at the spring, of the seed splitting open–
I want the right of the first man.




Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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