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quarta-feira, 3 de março de 2021

Pablo Neruda (Chile: 1904 – 1973)


De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”

 

Poema XVII / XXI

 

Pensando, entretecendo sombras na profunda solidão,

Tu também estás distante, ah mais distante que ninguém, sepultando lâmpadas.

Campanário de brumas, quão distante, lá no alto!

Afogando lamentos, moendo esperanças sombrias, moleira taciturna,

vem de bruços a noite, distante da cidade.

 

Tua presença é alheia, é-me estranha como uma coisa.

Penso, caminho longamente, por minha vida antes de ti.

Minha vida antes de ninguém, minha áspera vida.

O grito em frente ao mar, por entre as pedras

correndo livre, louco, no eflúvio do mar.

A fúria triste, o grito, a solidão do mar.

Desbocado, violento, estendido até o céu.

 

Tu, mulher, o que eras ali, que arraia, que varinha

desse leque imenso? Estavas distante como agora.

Incêndio no bosque! Arde em cruzes azuis.

Arde, arde, chameja, faíscas em árvores de luz.

Precipita-se, crepita. Incêndio. Incêndio.

E minha alma baila ferida por fagulhas de fogo.

Quem chama? Que silêncio povoado de ecos?

Hora da nostalgia, hora da alegria, hora da solidão,

hora minha entre todas!

Concha pela qual o vento passa cantando.

Tanta paixão de pranto desnudada em meu corpo.

 

Desapossada de todas as raízes,

assalto de todas as ondas!

Girava, alegre, triste, interminável, minha alma.

 

Pensando, sepultando lâmpadas na profunda solidão.

Quem és tu, quem és?

 

 

Poema XVII / XXI

 

Pensando, enredando sombras en la profunda soledad.

Tú también estás lejos, ah más lejos que nadie.

Pensando, soltando pájaros, desvaneciendo imágenes, enterrando lámparas.

Campanario de brumas, qué lejos, allá arriba!

Ahogando lamentos, moliendo esperanzas sombrías, molinero taciturno,

se te viene de bruces la noche, lejos de la ciudad.

 

Tu presencia es ajena, extraña a mí como una cosa.

Pienso, camino largamente, mi vida antes de ti.

Mi vida antes de nadie, mi áspera vida.

El grito frente al mar, entre las piedras,

corriendo libre, loco, en el vaho del mar.

La furia triste, el grito, la soledad del mar.

Desbocado, violento, estirado hacia el cielo.

 

Tú, mujer, qué eras allí, qué raya, qué varilla

de ese abanico inmenso? Estabas lejos como ahora.

Incendio en el bosque! Arde en cruces azules.

Arde, arde, llamea, chispea en árboles de luz.

Se derrumba, crepita. Incendio. Incendio.

Y mi alma baila herida de virutas de fuego.

Quién llama? Qué silencio poblado de ecos?

Hora de la nostalgia, hora de la alegría, hora de la soledad,

hora mía entre todas!

Bocina en que el viento pasa cantando.

Tanta pasión de llanto anudada a mi cuerpo.

 

Sacudida de todas las raíces,

asalto de todas las olas!

Rodaba, alegre, triste, interminable, mi alma.

 

Pensando, enterrando lámparas en la profunda soledad.

Quién eres tú, quién eres?

Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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