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domingo, 12 de setembro de 2021

Jorge Luis Borges (Argentina: 1899 – 1986)

Do livro Elogio da sombra – 07 / 31

 

20 de maio de 1928

 

Agora é invulnerável como os deuses.

Nada na terra pode feri-lo, nem o desamor de uma mulher, nem a tísica, nem as ansiedades do verso, nem essa coisa branca, a lua, que já não tem que fixar em palavras.

Caminha lentamente sob as tílias; olha as balaustradas e as portas não para recordá-las.

Já sabe quantas noites e quantas manhãs lhe restam.

Sua vontade impôs-lhe uma disciplina precisa. Executará determinados atos, atravessará previstas esquinas, tocará uma árvore ou uma grade, para que o porvir seja tão irrevogável como o passado.

Age dessa maneira para que o feito que deseja realizar e teme não seja outra coisa a não ser o termo final de uma série.

Caminha pela rua 49; pensa que nunca atravessará tal ou qual saguão lateral.

Sem que suspeitassem, já se despedira de muitos amigos.

Pensa o que nunca saberá, se o dia seguinte será um dia de chuva.

Passa por um conhecido e lhe prega uma peça.

Sabe que este episódio será, por um tempo, uma piada.

Agora  é invulnerável como os mortos.

Na hora acertada, subirá por alguns degraus de mármore. (Isto perdurará na memória dos outros.)

Descerá ao lavatório; no piso axadrezado a água rapidamente apagará o sangue. O espelho o aguarda.

Penteará o cabelo, ajustará o nó da gravata (sempre foi um pouco dândi, como convém a um jovem poeta) e procurará imaginar que o outro, o do espelho, executa os atos e que ele, seu sósia, os repete. A mão não vacilará no que fará por último. Docilmente, magicamente, já terá apoiado a arma contra a têmpora.

Assim, creio, aconteceram as coisas.

 

Mayo 20, 1928


Ahora es invulnerable como los dioses.
Nada en la tierra puede herirlo, ni el desamor de una mujer, ni la tisis, ni las ansiedades del verso, ni esa cosa blanca, la luna, que ya no tiene que fijar en palabras.
Camina lentamente bajo los tilos; mira las balaustradas y las puertas, no para recordarlas.
Ya sabe cuántas noches y cuántas mañanas le faltan.
Su voluntad le ha impuesto una disciplina precisa. Hará determinados actos, cruzará previstas esquinas, tocará un árbol o una reja, para que el porvenir sea tan irrevocable como el pasado.
Obra de esa manera para que el hecho que desea y que teme no sea otra cosa que el término final de una serie.

Camina por la calle 49; piensa que nunca atravesará tal o cual zaguán lateral.
Sin que lo sospecharan, se ha despedido ya de muchos amigos.
Piensa lo que nunca sabrá, si el día siguiente será un día de lluvia.
Se cruza con un conocido y le hace una broma.
Sabe que este episodio será, durante algún tiempo, una anécdota.
Ahora es invulnerable como los muertos.
En la hora fijada, subirá por unos escalones de mármol. (Esto perdurará en la memoria de otros.)
Bajará al lavatorio; en el piso ajedrezado el agua borrará muy pronto la sangre. El espejo lo aguarda.
Se alisará el pelo, se ajustará el nudo de la corbata (siempre fue un poco dandy, como cuadra a un joven poeta) y tratará de imaginar que el otro, el del cristal, ejecuta los actos y que él, su doble, los repite. La mano no le temblará cuando ocurra el último. Dócilmente, mágicamente, ya habrá apoyado el arma contra la sien.
Así, lo creo, sucedieron las cosas.

Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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