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sexta-feira, 8 de maio de 2020

Katerína Gógou (Grécia: 1940 – 1993)


O que mais temo


O que mais temo
é transformar-me “em uma poeta”…
Trancar-me num quarto
com os olhos fixos no mar
e esquecer...

Temo que as suturas em minhas veias cicatrizem
e, em vez de guardar lembranças desfocadas de notícias da TV,
eu comece a rabiscar papéis e a vender “minhas opiniões”...
Temo que aqueles que nos pisotearam possam aceitar-me
para depois usar-me.

Temo que meus gritos se transformem em sussurros
que façam com que meu povo adormeça.
Temo que eu possa aprender a usar métrica e ritmo
e venha a ficar presa em seu meio
ansiando para que meus versos virem canções populares.

Temo que eu venha a comprar binóculos que aproximem
os atos de sabotagem de que não participarei.
Temo ficar enfastiada – presa fácil de sacerdotes e acadêmicos –
E em razão disso me transforme numa patricinha...
Eles dão seus jeitos...

Eles podem se aproveitar da rotina a que você se acostumou,
eles nos transformaram em cães:
eles cuidam para que nos envergonhemos por não trabalharmos...
eles cuidam para que nos orgulhemos de estar desempregados...
É como funciona.
Psiquiatras sagazes e policiais nojentos
estão nos aguardando na esquina.

Marx...
Eu tenho medo dele...
Minha mente passa por ele também...
Aqueles bastardos... eles precisam ser responsabilizados...
Eu não posso – foda-se – nem mesmo terminar esta escrita...
Talvez – hum? – talvez num outro dia...


What I fear most


What I fear most
is becoming "a poet"...
Locking myself in the room
gazing at the sea
and forgetting...

I fear that the stitches over my veins might heal
and, instead of having blur memories about TV news,
I take to scribbling papers and selling "my views"...
I fear that those who stepped over us might accept me
so that they can use me.

I fear that my screams might become a murmur
so that to serve putting my people to sleep.
I fear that I might learn to use meter and rhythm
and thus I will be trapped within them
longing for my verses to become popular songs.

I fear that I might buy binoculars in order to bring closer
the sabotage actions in which I won't be participating.
I fear getting tired - an easy prey for priests and academics -
and so turn into a "sissy"...
They have their ways...

They can utilize the routine in which you get used to,
they have turned us into dogs:
they see to us being ashamed for not working...
they see to us being proud for being unemployed...
That's how it is.
Keen psychiatrists and lousy policemen
are waiting for us in the corner.

Marx...
I am afraid of him...
My mind walks past him as well...
Those bastards...they are to blame...
I cannot - fuck it - even finish this writing...
Maybe...eh?...may be some other day...



(traduzido do grego para o inglês por G. Chalkiadakis)





Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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