Mostrando postagens com marcador Inglaterra: T. S. Eliot (1888 - 1965) - Uma estrofe de "A Terra Desolada" e sua possível interpretação. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Inglaterra: T. S. Eliot (1888 - 1965) - Uma estrofe de "A Terra Desolada" e sua possível interpretação. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

T. S. Eliot (Inglaterra: 1888 - 1965)

 

Uma estrofe de A Terra Desolada e sua possível interpretação

 

Ernest Shackleton, explorador inglês que fez três incursões à Antártida, escreveu um livro sobre uma delas, intitulado Sul. No livro há uma passagem na qual, após longa e extenuante caminhada por uma planície gelada da Antártica, ele e seus companheiros passaram a ter a impressão de que um estranho caminhava ao seu lado.

Thomas Steams Eliot, mais conhecido por T. S. Eliot, foi um poeta norte-americano que viveu a maior parte de sua vida na Inglaterra. Na juventude, encontrava-se indeciso quanto a abandonar a profissão (ele era bancário) e optar pela poesia, à qual por fim se dedicou graças ao incentivo de outro poeta genial, Ezra Pound. Em decorrência disso, em 1922 ele publicou um poema que terminou por se constituir em um dos marcos da literatura moderna: A Terra Desolada, disponível na internet em belíssima e incomparável tradução de Ivan Junqueira.(*) De difícil compreensão, o poema, dividido em cinco partes, é desafio quase intransponível por quem procura entendê-lo em toda a sua complexidade, por seu simbolismo, pelas inúmeras referências a obras de outros autores, e pelos versos escritos em línguas estrangeiras  – há inúmeras análises do poema na internet, em inglês.

Coincidentemente, mas nada a ver com esta história, no mesmo ano o irlandês James Joyce publicou o seu Ulisses, também graças ao incentivo e à ajuda de Ezra Pound. Ulisses e A Terra Desolada são considerados os pilares inaugurais do modernismo na literatura.

Antes que T. S. Eliot publicasse A Terra Desolada sua mulher, Vivienne Haigh-Wood Eliot, de quem depois ele se divorciou, teve um caso com Bertand Russell, filósofo, matemático e ativista político inglês. Russell notabilizou-se não só por sua vasta cultura como também pela militância política e constante presença nas manifestações de protesto da década de 1960. Há fortes indícios de que o poeta sabia das puladas de cerca de Vivienne.

No quinto poema de A Terra Desolada – O que disse o trovão –, em uma de suas estrofes Eliot faz alusão à passagem narrada por Shackleton em “Sul”. Suponho eu – e isto é só especulação de minha parte, pois há outras interpretações para a passagem –, que Eliot se aproveitou da narrativa para mandar um recado à mulher e ao amante, pois a estrofe é de claríssima compreensão, em um poema por demais complicado. A tradução que se segue é minha, e não de Ivan Junqueira:

 

Quem é o terceiro que vai sempre ao seu lado?

Quando conto, juntos estamos só você e eu

Mas quando olho ao longe o caminho esbranquiçado

Há sempre outro caminhando ao lado seu

Seguindo envolto num manto marrom, encapuzado

Se homem ou se mulher dizer não posso eu

– Mas quem é esse que vai com você, do outro lado?

 

 

Who is the third who walks always beside you?

When I count, there are only you and I together

But when I look ahead up the white road

There is always another one walking beside you

Gliding wrapt in a brown mantle, hooded

I do not know whether a man or a woman

– But who is that on the other side of you?

 

 

(*) A Terra Desolada, na tradução de Ivan Junqueira, pode ser lido aqui: http://www.gilbertogodoy.com.br/ler-post/a-terra-desolada---t-s--eliot--1922



Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

  Argonautas   E se a alma deve conhecer-se a si mesma ela deve voltar os olhos para outra alma: * o estrangeiro e inimigo, vim...