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domingo, 2 de agosto de 2020

Ali Chumacero (México: 1918 – 2010)


 

A uma estátua

  

Cessa tua voz e morra

sobre teus lábios minha alegria.

Não haverá palavra que em tua pele levante

nem um incerto sabor de brisa assombreada

como a lembrança que em meus olhos deixa

o passo do teu alento,

porque vives imersa em teu silêncio,

impenetrável aos meus sentidos

e se minhas mãos em tua pela pousam

inclinas a cabeça,

navegas em um tempo que escuta teu pulsar,

e entre suas águas, inundando-te

sob a suave forma de seu espelho,

estás abandonada,

próxima a ser violenta permanência,

inimiga de esquecimentos,

quase perdida em íntimo naufrágio

e sim mais vontade

que a crueldade entre teus lábios muda.

 

Toma teu corpo agora, volve o rosto,

Olha-te assim, segura e colapsada

em um poço onde mora o medo,

onde há apenas imagens

e o corpo deixa sua encarcerada dor

para entrar na fonte de sua origem.

Verás nascer o sonho de teu corpo

submerso em pureza por toda a vida,

todo impulso dissimulado em puro movimento

e toda forma sustentada em puro resplendor

já não será a flor senão seu aroma,

já não serás tu mesma.

 

Não importa mais se de repente morres

e percas toda sombra

caindo em escombros amparada,

se por inteiro tu pereças,

náufraga de teu próprio mar,

presa dentro de ti, vencida

como um anjo que assolado pelo fogo

lançasse sua impotência,

e apenas um desengano

entre rochas de esquecimento e trevas

deixem teus lábios mudos

e a pureza inútil de teu corpo.

 

Morre, desnuda forma,

gelo que mata minha alegria,

crueldade vertida em mármore fatigado;

morre já, e deixa que contemple

a luta de teu corpo com a sombra,

o debater inútil de teus lábios

contra o vazio esquecimento de tuas ruínas,

que em ataúde ou tumbas dormes

entre um querer ou não de teus sentidos.

  

A una estatua

  

Cesa tu voz y muere

sobre tus labios mi alegría.

No habrá palabra que en tu piel levante

ni un incierto sabor de brisa oscurecida

como el recuerdo que en mis ojos deja

el paso de tu aliento,

porque vives inmersa en tu silencio,

impenetrable a mis sentidos

y si mis manos en tu piel se posan

inclinas la cabeza,

navegas en un tiempo que escucha tu latido,

y entre sus aguas, inundándote

bajo la tersa forma de su espejo,

estás abandonada,

próxima a ser violenta permanencia,

enemiga de olvidos,

casi perdida en íntima zozobra

y sin más voluntad

que la crueldad entre tus labios muda.

 

Toma tu cuerpo ahora, vuelve el rostro,

mírate así, segura y desplomada

hacia un estanque donde mora el miedo,

donde sólo hay imágenes

y el cuerpo deja su cautivo duelo

para entrar en la fuente de su origen.

Verás nacer el sueño de tu cuerpo

anegando en pureza toda vida,

todo impulso negado en puro movimiento

y toda forma sostenida en puro resplandor

ya no será la flor sino su aroma,

ya no serás tú misma.

 

No importa entonces que de pronto mueras

y pierdas toda sombra

quedándote en escombros defendida,

si toda tú pereces,

náufraga de tu propio mar,

presa dentro de ti, vencida

como ángel que asolado por el fuego

lanzara su impotencia,

y sólo un desengaño

entre rocas de olvido y de tinieblas

dejan tus labios mudos

y la pureza inútil de tu cuerpo.

 

Muere, desnuda forma,

hielo que mata mi alegría,

crueldad vertida en mármol fatigado;

muere ya, y deja que contemple

la lucha de tu cuerpo con la sombra,

el debatir inútil de tus labios

contra el vacío olvido de tus ruinas,

que en ataúd o tumbas duermes

entre un querer o no de tus sentidos.



Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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