Averno – 1/18
As migrações noturnas
Este é o
momento em que você vê de novo
As frutas
vermelhas das cerejeiras [1]
E no céu
escuro
As migrações
noturnas dos pássaros.
Dói-me pensar
que os mortos
não as verão
essas coisas
de que dependemos,
elas
desaparecem.
E o que fará
a alma para se consolar?
Digo a mim
mesma que talvez ela não
mais
precisará de tais prazeres;
talvez apenas
não ser já lhe baste,
igualmente
penoso é imaginar.
The Night Migrations
This is the
moment when you see again
the red
berries of the mountain ash
and in the
dark sky
the bird’s
night migrations.
It grieves me
to think
the dead
won’t see them
these things
we depend on,
they disappear.
What will the
soul do for solace then?
I tell myself
maybe it won’t need
these
pleasures anymore;
maybe just
not being is simply enough,
hard as that
is to imagine.
Nota:
[1] “Mountain ash” em português pode ser traduzida por “sorveira”, “cumã”, “cumaí”, “cumameri”; e “berry”, dentre outras possíveis acepções, por “baga” – palavras que por certo não fazem bonito em um verso poético. Por tais motivos, optei por “frutas vermelhas das cerejeiras”, que se assemelham às berries vermelhas da mountain ash. [N. T.]