sábado, 24 de outubro de 2020

Louise Glück (EUA: 1943 – )

 

Averno – 1/18

 

As migrações noturnas

 

Este é o momento em que você vê de novo

As frutas vermelhas das cerejeiras [1]

E no céu escuro

As migrações noturnas dos pássaros.

 

Dói-me pensar

que os mortos não as verão

essas coisas de que dependemos,

elas desaparecem.

 

E o que fará a alma para se consolar?

Digo a mim mesma que talvez ela não

mais precisará de tais prazeres;

talvez apenas não ser já lhe baste,

igualmente penoso é imaginar.

 


The Night Migrations

 

This is the moment when you see again

the red berries of the mountain ash

and in the dark sky

the bird’s night migrations.

 

It grieves me to think

the dead won’t see them

these things we depend on,

they disappear.

 

What will the soul do for solace then?

I tell myself maybe it won’t need

these pleasures anymore;

maybe just not being is simply enough,

hard as that is to imagine.



Nota:

[1] “Mountain ash” em português pode ser traduzida por “sorveira”, “cumã”, “cumaí”, “cumameri”; e “berry”, dentre outras possíveis acepções, por “baga” – palavras que por certo não fazem bonito em um verso poético. Por tais motivos, optei por “frutas vermelhas das cerejeiras”, que se assemelham às berries vermelhas da mountain ash. [N. T.]

 

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