quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

W. H. Auden (Inglaterra, 1907 – 1973)


  

Ao Cidadão Anônimo

(A JS/07 M 378. Este Monumento de Mármore foi Erigido pelo Estado)

Ele foi considerado pelo Departamento de Estatística como havendo sido
Uma pessoa contra a qual não houve nenhuma queixa oficial,
E todos os relatórios sobre a sua conduta concordam
Que, no sentido moderno desta palavra antiquada, ele foi um santo,
Pois tudo o que ele fez foi em prol da Grande Comunidade.
Exceto durante a guerra, até o dia em que se aposentou
Ele trabalhou numa fábrica e nunca foi demitido,
Pois agradou aos seus empregadores, a Motores Fajutos S/A.

Além disso, ele não foi um fura-greves ou estranho em seus pontos de vista,
E o seu sindicato relata que ele pagou suas mensalidades,
(O nosso relatório do sindicato mostra que isso procede)
E nossos especialistas em Psicologia Social declaram
Que ele foi popular entre seus colegas e apreciava uma bebida.
A Imprensa está convencida de que ele comprava o seu jornal diário.
Apólices adquiridas em seu nome comprovam que ele estava plenamente assegurado,
E seu Cartão de Saúde atesta que ele se internou num hospital e de lá saiu curado.

Tanto as Pesquisas de Consumo quanto as de Alto Padrão de Vida informam
Que ele se sensibilizava totalmente com as vantagens dos Planos de Prestação
E possuía tudo o que fosse necessário a um Homem Moderno,
Um aparelho de som, um rádio, um carro e uma geladeira.
Nossos pesquisadores de Opinião sentem-se satisfeitos
Pelo fato de que ele tinha opiniões adequadas à época do ano;
Em tempos de paz ele era pela paz; em tempos de guerra ele se alistava.
Ele era casado e acrescentou cinco crianças à população,
o que o nosso Eugenista diz ser quantidade apropriada para um pai da sua geração,
E nossos professores relatam que ele nunca desaprovou seus métodos educacionais.
Ele foi livre? Ele foi feliz? A questão é absurda;
Houvesse algo de errado com ele, por certo teríamos sido notificados.


The Unknown Citizen

(To JS/07 M 378. This Marble Monument Is Erected by the State)

He was found by the Bureau of Statistics to be
One against whom there was no official complaint,
And all the reports of his conduct agree
That, in the modern sense of the old-fashioned word, he was a saint,
For in everything he did he served the Greater Community.
Except for the war till the day he retired
He worked in a factory and never got fired,
But satisfied his employers, Fudge Motors Inc.
Yet he wasn’t a scab or odd in his views,
For his union reports that he paid his dues,
(Our report of his union shows it was sound)
And our Social Psychology workers found
That he was popular with his mates and liked a drink.
The Press are convinced that he bought a paper every day,
And that his reactions to advertisements were normal in every way.
Policies taken out in his name prove that he was fully insured,
And his Health-card shows that he was once in hospital but left it cured.
Both Producers Research and High–Grade Living declare
He was fully sensible to the advantages of the Installment Plan
And had everything necessary to the Modern Man,
A gramophone, a radio, a car and a frigidaire.
Our researchers into Public Opinion are content
That he held the proper opinions for the time of the year;
When there was peace he was for peace; when there was war he went.
He was married and added five children to the population,
which our Eugenist says was the right number for a parent of his generation,
And our teachers report he never interfered with their education.
Was he free? Was he happy? The question is absurd:
Had anything been wrong, we should certainly have heard.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

  Argonautas   E se a alma deve conhecer-se a si mesma ela deve voltar os olhos para outra alma: * o estrangeiro e inimigo, vim...