A Luis Cernuda
Por que tocas meu
peito novamente?
Chegas, silenciosa,
em segredo, armada,
tal qual guerreiros
a uma cidade adormecida;
queimas minha
língua com teus lábios, polvo,
e despertas os furores,
os gozos,
e esta angústia sem
fim
que excita o que
toca
e engendra em cada
coisa
uma avidez sombria.
O mundo cede e se
desfaz
como metal ao fogo.
Por entre minhas
ruínas me levanto,
só, despido,
despojado,
sobre a rocha
imensa do silêncio,
como um solitário
combatente
contra invisíveis
hostes.
Verdade abrasadora,
a que me empurras?
Não quero tua
verdade,
tua insensata
pergunta.
Por que esta luta
estéril?
Não é o homem
criatura capaz de refrear-te,
avidez que só na
sede se sacia,
chama que a todos
os lábios consome,
espírito que não
vive em nenhuma forma,
mas faz arder todas
as formas
com um secreto fogo
indestrutível.
Mas insistes,
lágrima escarnecida,
e eriges em mim teu
império desolado.
Emerges do mais
profundo de mim,
do centro
inominável de meu ser,
exército, maré.
Cresces, tua sede
me afoga,
expulsando,
tirânica,
aquilo que não cede
à tua espada
frenética.
Já apenas tu me
habitas,
tu, sem nome,
furiosa substância,
avidez subterrânea,
delirante.
Golpeiam-me o peito
teus fantasmas,
despertas ao meu
tato,
gelas minha fronte
e tornas proféticos
meus olhos.
Percebo o mundo e
te toco,
substância
intocável,
unidade de minha
alma e de meu corpo,
e contemplo o
combate que combato
e minhas bodas de
terra.
Anuviam os meus
olhos imagens opostas,
e às mesmas imagens
outras, mais
profundas, as negam,
ardente balbucio,
águas a que inunda
uma água mais oculta e densa.
Em sua úmida treva
vida e morte,
quietude e
movimento, são o mesmo.
Insiste, vencedora,
porque tão só
existo porque existes,
e minha boca e
minha língua se formaram
para dizer tão só
tua existência
e tuas secretas
sílabas, palavra
impalpável e
despótica,
substância de minha
alma.
És tão só um sonho,
mas em ti sonha o
mundo
e sua mudez fala
com tuas palavras.
Roço ao tocar o teu
peito
a elétrica
fronteira da vida,
a treva de sangue
onde pactua a boca
cruel e enamorada,
ávida ainda de
destruir o que ama
e reavivar o que
destrói,
com o mundo,
impassível
e sempre idêntico a
si mesmo,
porque não se detém
em nenhuma forma,
nem se demora sobre
o que engendra.
Leva-me, solitária,
leva-me, por entre
os sonhos,
leva-me, minha mãe,
desperta-me de
todo,
faz-me sonhar teu
sonho,
unta meus olhos com
azeite,
para que ao
conhecer-te eu me conheça.
A Luis Cernuda
¿Por qué tocas mi
pecho nuevamente?
Llegas, silenciosa, secreta, armada,
tal los guerreros a una ciudad dormida;
quemas mi lengua con tus labios, pulpo,
y despiertas los furores, los goces,
y esta angustia sin fin
que enciende lo que toca
y engendra en cada cosa
una avidez sombría.
El mundo cede y se
desploma
como metal al fuego.
Entre mis ruinas me levanto,
solo, desnudo, despojado,
sobre la roca inmensa del silencio,
como un solitario combatiente
contra invisibles huestes.
Verdad abrasadora,
¿a qué me empujas?
No quiero tu verdad,
tu insensata pregunta.
¿A qué esta lucha estéril?
No es el hombre criatura capaz de contenerte,
avidez que sólo en la sed se sacia,
llama que todos los labios consume,
espíritu que no vive en ninguna forma
mas hace arder todas las formas
con un secreto fuego indestructible.
Pero insistes,
lágrima escarnecida,
y alzas en mí tu imperio desolado.
Subes desde lo más
hondo de mí,
desde el centro innombrable de mi ser,
ejército, marea.
Creces, tu sed me ahoga,
expulsando, tiránica,
aquello que no cede
a tu espada frenética.
Ya sólo tú me habitas,
tú, sin nombre, furiosa sustancia,
avidez subterránea, delirante.
Golpean mi pecho tus
fantasmas,
despiertas a mi tacto,
hielas mi frente
y haces proféticos mis ojos.
Percibo el mundo y te
toco,
sustancia intocable,
unidad de mi alma y de mi cuerpo,
y contemplo el combate que combato
y mis bodas de tierra.
Nublan mis ojos
imágenes opuestas,
y a las mismas imágenes
otras, más profundas, las niegan,
ardiente balbuceo,
aguas que anega un agua más oculta y densa.
En su húmeda tiniebla vida y muerte,
quietud y movimiento, son lo mismo.
Insiste, vencedora,
porque tan sólo existo porque existes,
y mi boca y mi lengua se formaron
para decir tan sólo tu existencia
y tus secretas sílabas, palabra
impalpable y despótica,
sustancia de mi alma.
Eres tan sólo un
sueño,
pero en ti sueña el mundo
y su mudez habla con tus palabras.
Rozo al tocar tu pecho
la eléctrica frontera de la vida,
la tiniebla de sangre
donde pacta la boca cruel y enamorada,
ávida aún de destruir lo que ama
y revivir lo que destruye,
con el mundo, impasible
y siempre idéntico a sí mismo,
porque no se detiene en ninguna forma
ni se demora sobre lo que engendra.
Llévame, solitaria,
llévame entre los sueños,
llévame, madre mía,
despiértame del todo,
hazme soñar tu sueño,
unta mis ojos con aceite,
para que al conocerte me conozca.
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