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segunda-feira, 9 de março de 2020

Rodrigo Lira (Chile: 1949 – 1981)



Comunicado


À Gente Pobre é comunicado
Que há Cebolas para Ela na Prefeitura de Santiago.
As Cebolas são vistas através de umas janelas
Do pátio da Ilustre Prefeitura de Santiago.
Atrás das janelas do terceiro andar divisam-se
uns bebês em seus berços e pelas situadas mais abaixo
vê-se algo das Cebolas para a Gente Pobre.
Para vê-las é preciso chegar a um pátio
Ao pátio com duas Árvores bem verdes
Depois de passar ao lado de uma gaiola
Com uma caixa que sobe e desce
Depois de atravessar uma sala grande com piso de lajota e teto de vidro
Com umas senhoritas atrás do que parecem mostruários
Depois de subir umas escadas bem largas
Depois de passar por umas portas grandes
Na esquina de uma praça que se chama
'das Armas', na esquina do lado esquerdo
De uma estátua de um senhor a cavalo, de metal,
Com a espada grudada ao cavalo
Para que não seja roubada e cause dano.
Ali, sob as janelas com os bebês,
Estão as Cebolas.
Não sei se é possível conseguir
Um pouquinho delas.
O cavalheiro que manobra
O elevador, esse, com paredes gradeadas,
Disse-me que eram
para a gente pobre.
Depois, disse algo como Emprego Mínimo.
Eu tinha que sair logo e comprar um mapa de Santiago
e uma máquina de escrever.


(acontecido e escrito em junho de 1979, durante a ditadura militar chilena)


Comunicado


A la Gente Pobre se le comunica
Que hay Cebollas para Ella en la Municipalidad de Santiago.
Las Cebollas se ven asomadas a unas ventanas
Desde el patio de la I. Municipalidad de Santiago.
Tras las ventanas del tercer piso se divisan
Unas guaguas en sus cunas y por las que están un poco más abajo
Se ve algo de las Cebollas para la Gente Pobre.
Para verlas hay que llegar a un patio
Al patio con dos Arboles bien verdes
Después de pasar por el lado de una como jaula
Con una caja que sube y baja
Después de atravesar una sala grande con piso de baldosas
Y con tejado de vidrio
Con unas señoritas detrás de unos como mostradores
Después de subir unas escaleras bien anchas
Después de pasar unas puertas grandes
En la esquina de una plaza que se llama
'de Armas', en la esquina del lado izquierdo
De una estatua de un señor a caballo, de metal,
Con la espada apernada al caballo
Para que no se la roben y hagan daño.
Ahí, debajo de las ventanas con las guaguas,
Están las Cebollas.
No sé si podra conseguir
Unas poquitas.
El caballero que maneja
El ascensor ese, con paredes de reja.
Me dijo que eran
para la gente pobre.
Después, dijo algo del Empleo Mínimo.
Yo tenía que irme luego a comprar un plano de Santiago
y una máquina de escribir.


(sucedido y escrito en junio de 1979).



Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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