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segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Rosario Ferré (Porto Rico: 1938 – 2016)

 


 

Para escrever este poema

 

Para escrever

Oh musa! eu te juro

que se acumulará pó nas poltronas.

Que os caldeirões ocultarão sua vergonha

no fundo da panela.

Que o assado se queimará no forno

Que os talheres arrefecerão seus tinidos

sobre a toalha de renda da mesa.

Que as batatas multiplicarão seus rizomas

e os tomates apodrecerão na geladeira.

Que o caos de roupa suja aumentará

uma pilha de fantasmas amarrados

no fundo da pia da área de serviço. 

Que a campainha se afundará na moldura da porta

e o telefone tocará com grande furor

sem que ninguém atenda.

Mas sobretudo Oh musa!

prometo a ti

que a noite segurará meu cérebro entre suas mãos

como uma flor que se abre para o universo.

 

 

Para Escribir este Poema

 


Para escribir

¡Oh musa! yo te juro

que se acumulará el polvo en los sillones.

Que los calderos ocultarán su bochorno

al fondo de la olla.

Que el asado se carbonizará en el horno

y los cubiertos amortiguarán su tintineo

sobre el mantel de hilo de la mesa.

Que las papas multiplicarán sus rizomas

 y los tomates se pudrirán en la heladera.

Que el caos de ropa sucia acumulará

un túmulo de fantasmas anudados

al fondo de la pileta del lavadero.

Que el timbre se hundirá en el marco de la puerta

y el teléfono sonará con una rabia larga

sin que nadie conteste.

Pero sobre todo ¡Oh musa!

te prometo

que la noche sostendrá mi cerebro entre sus manos

como una flor que se abre al universo.

Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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