As árvores de Botticelli
O alfabeto
das árvores
desvanece na
canção das folhas
as hastes cruzadas
das finas letras
que soletram
inverno
e o frio
foi iluminado
com
agudo verde –
pela chuva e o sol –
os precisos e simples
preceitos dos
adelgaçados ramos
vão sendo alterados
por podados
se’s de cor, devotadas
condições
os sorrisos do amor –
.......
até as frases
desnudas
movem-se como braços e pernas
de uma mulher sob um tecido
e louvam com reserva
o rápido desejo
o poder do amor
no verão –
no verão a canção
canta a si mesma
acima das surdas palavras
The Botticellian trees
The alphabet
of the trees
is fading in the
song of the leaves
the crossing
bars of thin
letters that spelled
winter
and the cold
have been illuminated
with
pointed green –
by the rain and sun –
The strict simple
principles of
straight branches
are being modified
by pinched-out
ifs of color, devout
conditions
the smiles of love –
……
until the stript
sentences
move as a woman’s
limbs under a cloth
and praise from secrecy
quick with desire
love’s ascendancy
in summer –
In summer the song
sings itself
above the muffled words.
Nota:
A casca contém uma potencial renovação poética. Aqui os ramos com pontas verdes soletram no céu as premissas de uma nova estação. Rapidamente o traçado abrupto e retilíneo dos ramos nus se engrossam, se turvam para desenhar formas aleatórias. As folhas que recobrem as árvores no verão cantarolam uma canção que abafa os galhos e o alfabeto que tracejam. Mas, para o poeta, o que conta acima de tudo é o que se encontra sob a folhagem, o corpo que se move graciosamente sob o tecido, a própria estrutura, exposta, desnuda, carnal e fértil: o poema. É por isso que a estrutura dos galhos é aqui comparada ao corpo de uma mulher sob suas roupas, "uma mulher / braços e pernas sob o tecido". O que interessa a Williams é o que está sob a folhagem, e a folhagem aí encontra seu duplo significado. Williams usa a mesma imagem que explica sua definição do romance em oposição ao poema. O poeta iconoclasta é encarregado de despir, desvelar. Esta é também a razão pela qual Williams evita as metáforas, sedas pomposas que vêm, segundo ele, para encobrir e sufocar a carne crua, como a casca do plátano. Esquematicamente, para Williams, o romance são as folhas; o poema, o tronco.
A casca contém uma potencial renovação poética. Aqui os ramos com pontas verdes soletram no céu as premissas de uma nova estação. Rapidamente o traçado abrupto e retilíneo dos ramos nus se engrossam, se turvam para desenhar formas aleatórias. As folhas que recobrem as árvores no verão cantarolam uma canção que abafa os galhos e o alfabeto que tracejam. Mas, para o poeta, o que conta acima de tudo é o que se encontra sob a folhagem, o corpo que se move graciosamente sob o tecido, a própria estrutura, exposta, desnuda, carnal e fértil: o poema. É por isso que a estrutura dos galhos é aqui comparada ao corpo de uma mulher sob suas roupas, "uma mulher / braços e pernas sob o tecido". O que interessa a Williams é o que está sob a folhagem, e a folhagem aí encontra seu duplo significado. Williams usa a mesma imagem que explica sua definição do romance em oposição ao poema. O poeta iconoclasta é encarregado de despir, desvelar. Esta é também a razão pela qual Williams evita as metáforas, sedas pomposas que vêm, segundo ele, para encobrir e sufocar a carne crua, como a casca do plátano. Esquematicamente, para Williams, o romance são as folhas; o poema, o tronco.
Fonte: Anna Oublet: L’oracle en son jardin: William
Carlos Williams et Allen Ginsberg
(https://tel.archives-ouvertes.fr/tel-02057356/document)