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quarta-feira, 13 de maio de 2020

Katerína Gógou (Grécia: 1940 – 1993)



Poema 05 / 24


É isso aí, estou dizendo Niko, ninguém está a salvo.
Haverá confusão com certeza.
Olha o meu caso, por exemplo.
Tem esse cara
que está pensando
que é meu amigo.
Há anos ele me persegue
cuspindo conselhos e saliva
escolhendo por mim
os homens com quem vou pra cama e a que filmes devo assistir.
Eu te digo ninguém está a salvo nestes dias
Todo mundo encarando todo mundo
um fantoche praguejando contra o outro
somos todos fantoches
todos usando casacos de lã e veludo cotelê
lendo “O Mundo Livre” às escondidas [1]
um querendo a garota do outro
nossas coxas estão enroscadas.
Aquele cara que me persegue
pensa que sabe.
Ele raspou a cabeça à la Kojak [2]
e seu relógio mostra a hora certa.
Fico a ponto de ter um treco
quando ele me dá a agulha: vai, ele diz, eu estou aqui
e dá um sorriso (nenhum chiclete)
diz que é índio
mas eu não vejo nenhuma pena.
O americano que é dono do bar do outro lado da rua insinuou
que o meu cara aprontou comigo por uma porção de erva barata
ele é um agente stalinista, ele diz.
Eu não engulo essa merda – o cara alto deseja algo de mim, vai ver só.
Além de tudo eu o amei Niko, podes crer
Estou numa boa com Kojak
ele é o meu cara
minha viagem como dizem os viciados
compra meus cigarros e o souvlaki [3]
julga que a minha poesia é demais
e diz “Você é abençoada, boneca, guarde-se bem.”
Entenda, nem sei como, mas isso me dá autoconfiança.
Não. Não vou sair à noite.
Nem isso.
Nem aquilo.
Nem isso.
Nem aquilo.
É isso, Niko, não me ligue mais.


05 / 24



Yeah, I’m telling you Niko, no one’s safe.
There’ll be trouble for sure.
Look at me, forexample.
There’s someone
who’s pretending
he's my friend.
For years now he's been running after me
dripping advice and saliva
choosing for me
the men I bed down with and what films I see.
I tell you no one's safe these days
everybody staring down everybody else
one stooge cursing another
we're all stooges
all wearing black dufflecoats and corduroys
reading "The Free World" on the sly to learn
one wanting the other's chick
our thighs are entangled.
That type behind me
thinks he knows.
He's shaved his head à la Kojak
and his watch is right on time.
I'm just about to have a fit
when he gives me the needle: go on, he says, I'm right here
and cracks a smiles (no gums)
says he's an Indian
but I see he's got no feather.
The american who keeps bar across the street hissed
my guy's set me up for a tin-can lid
he's a Stalinist agent, he says.
I don't chew that crap - the tall guy wants something from me, you'll see.
After all I've loved him Niko, yeah
I'm used to Kojak
he's my guy
my trip as the junkies say
buys me cigarets and souvlaki
thinks my poetry's just great
and says "Bless you, doll, just keep well."
You understand, no matter how, this gives me self-confidence.
No. No. I won't go out tonight.
Neither.
Nor.
Neither.
Nor.
Yeah, Niko, don't call me anymore.


Do livro Três Cliques à Esquerda: o título refere-se à  ordem militar para que um operador de metralhadora corrija a mira girando o cano da arma sobre o tripé três furos à esquerda (nesta caso)

Notas:


[1] O Mundo Livre: jornal fascista grego.
[2] Detetive careca que raspava toda a cabeça, encarnado pelo ator Telly Savalas em uma série de TV dos anos 1970.
[3] Souvlaki: fast food grega. Ler a respeito em http://pt.wikipedia.org/wiki/Souvlaki



Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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