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sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Jorge Luis Borges (Argentina: 1899 – 1986)


Do livro Elogio da sombra – 30 / 31

 

Um leitor

 

Que outros se jactem das páginas que escreveram;

a mim orgulham-me as que li.

Não fui um filólogo,

não investiguei as declinações, os modos, a laboriosa

        mutação das letras,

o dê que se endurece em tê,

a equivalência do gê e do cá,

mas ao longo de meus anos tenho professado

a paixão da linguagem.

Minhas noites estão repletas de Virgílio;

ter sabido e ter esquecido o latim

é uma possessão, porque o esquecimento

é uma das formas da memória, seu impreciso porão,

o outro lado secreto da moeda.
Quando em meus olhos se apagaram

as vãs aparências queridas,

os rostos e a página,

entreguei-me ao estudo da linguagem de ferro

que usaram meus antepassados para cantar

espadas e solidões,

e agora, ao longo de sete séculos,

desde a Última Tule,

tua voz me chega, Snorri Sturluson.

O jovem, diante do livro, impõe-se uma disciplina precisa

e o faz em busca de um conhecimento preciso;

em minha idade, toda tarefa é uma aventura

que confina com a noite.

Não  terminei de decifrar as antigas línguas do Norte,

não afundarei as mãos ávidas no ouro de Sigurd;

a tarefa que empreendo é limitada

e há de acompanhar-me até o fim,

não menos misteriosa que o universo

e que eu, o aprendiz.

 

Un Lector


Que otros se jacten de las páginas que han escrito;
a mí me enorgullecen las que he leído.
No habré sido un filólogo,
no habré inquirido las declinaciones, los modos, la laboriosa
        mutación de las letras,
la de que se endurece en te,
la equivalencia de la ge y de la ka,
pero a lo largo de mis años he profesado
la pasión del lenguaje.

Mis noches están llenas de Virgilio;
haber sabido y haber olvidado el latín
es una posesión, porque el olvido
es una de las formas de la memoria, su vago sótano,
la otra cara secreta de la moneda.

Cuando en mis ojos se borraron
las vanas apariencias queridas,
los rostros y la página,
me di al estudio del lenguaje de hierro
que usaron mis mayores para cantar
espadas y soledades,
y ahora, a través de siete siglos,
desde la Última Thule,
tu voz me llega, Snorri Sturluson.
El joven, ante el libro, se impone una disciplina precisa
y lo hace en pos de un conocimiento preciso;
a mis años, toda empresa es una aventura
que linda con la noche.

No acabaré de descifrar las antiguas lenguas del Norte,
no hundiré las manos ansiosas en el oro de Sigurd;
la tarea que emprendo es ilimitada
y ha de acompañarme hasta el fin,
no menos misteriosa que el universo
y que yo, el aprendiz.


Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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