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quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Adela Zamudio (Bolívia: 1854 – 1928)

 

No campo

 

Que noite! O teto que ampara

meu solitário aposento

estala ao sopro que o abate;

de onde me assento, sem fala,

ouço da água e do vento

o prolongado combate.

 

Mas, já cessa; lentamente

calam os lúgubres ecos

de uma distante procela.

Apenas se ouve a torrente

que em pedrosos buracos

queixa-se ao pé da janela.

 

Diante dos vidros, lá fora,

presa na rocha musgosa

que forma rústico banco,

uma débil trepadeira

treme encharcada e chorosa

sobre o sombrio barranco.

 

Na fragorosa quebrada

murmúrios fundos, sombrios,

à opressão vão cedendo,

e a chuva já sossegada

escorre pelos baixios

com monótona cadência.

 

Só, em pé eu permaneço;

eu somente em toda a casa,

que a obscuridade bordeja;

a intervalos estremeço

ao ver vacilar a escassa

luz que junto a mim flameja.

 

Nervoso desassossego

turba com terrores múltiplos,

vagamente meus sentidos,

e em um lúgubre sossego

penso que escuto, longínquos,

pavorosos alaridos.

 

Que diz o vento em seu voo

trazendo-me do passado

este eco desvanecido?...

– Morrer! oh, acre lenitivo!

morrer sem haver amado,

morrer sem haver vivido!

 

Sombrio espectro do nada

que te elevas nos rincões

e chegas moroso e ledo,

sombra dolente e calada

destas murchas ilusões

não venhas, que tenho medo...

 

Amanhã, assim que a aurora

com luz reluzente e pura

banhar a várzea louçã,

prenhe de horror, como agora

me oprimirá a amargura

desta noite sem manhã.

 

En el Campo

 

¡Qué noche! El techo que escuda

mi solitario aposento

cruje al soplo que lo abate;

y desde mi asiento, muda,

oigo del agua y el viento

el prolongado combate.

 

Mas, ya cesa ; lentamente

callan los lúgubres ecos

de la tempestad lejana.

Ya sólo se oye el torrente

que entre los pedrosos huecos

gime al pié de mi ventana.

 

Contra los vidrios, afuera,

presa en la peña musgosa

que forma rústico banco,

la débil enredadera

tiembla empapada y llorosa

sobre el oscuro barranco.

 

En la fragosa quebrada

murmullos hondos, sombríos,

van ya cediendo en violencia,

y la lluvia sosegada

se escurre por los bajíos

con monótona cadencia.

 

Yo sola en pie permanezco;

yo sola en toda la casa,

que la oscuridad rodea;

a intervalos me estremezco

al ver vacilar la escasa

luz que junto a mí flamea.

 

Nervioso desasosiego

turba con terrores varios,

vagamente mis sentidos,

y en el lúgubre sosiego

pienso que escucho lejanos

pavorosos alaridos.

 

¿Qué dice el viento en su vuelo

trayéndome del pasado

el eco desvanecido?...

– ¡Morir ! ¡oh, triste consuelo!

¡morir sin haber amado,

morir sin haber vivido!

 

Negro espectro de la nada

que te alzas en los rincones

y llegas pausado y ledo,

sombra doliente y callada

de mis mustias ilusiones

no vengas, que tengo miedo...

 

Mañana, cuando la aurora

con su luz brillante y pura

bañe la vega lozana,

llena de horror, como ahora

me oprimirá la negrura

de mi noche sin mañana.



 

Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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