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segunda-feira, 11 de maio de 2020

Katerína Gógou (Grécia: 1940 – 1993)


Poema 03 / 24


Aos meus amigos e graúnas pretas
que brincam alvoroçadas sobre os telhados de casas em ruínas
Exarchia Patisia Metaxurgio Metz [1]
Eles fazem o que pinta. [2]
Vendedores de livros de culinária e enciclopédias
constroem estradas e conectam desertos
propagandeiam bares miseráveis da rua Zynonos
rebeldes profissionais
encurralados e forçados a baixar as calças nos velhos tempos
hoje eles engolem pílulas e álcool para dormir
mas são assaltados por sonhos e não dormem.
Penso que meus amigos são arames tensos
sobre telhados de casas antigas
Exarchia Victoria Gookaki Geazy. 
Com um milhão de cavilhas de aço vocês os aguilhoaram com
suas culposas decisões de partido vestidos emprestados
queimaduras cefaleias estranhas
silêncios ameaçadores vaginites
eles se apaixonam por homossexuais
triconomíases períodos atrasados
o telefone o telefone o telefone
vidros partidos e ninguém uma ambulância.
Eles fazem o que pinta.
Meus amigos estão sempre de mudança
pois vocês não cederam nem um milímetro.
Todos os meus amigos pintam com a cor preta
pois vocês degradaram para eles o vermelho
eles escrevem numa língua simbólica
pois a de vocês só serve pra lamber rabos.
Meus amigos são graúnas pretas e arames
nas mãos. Na sua garganta.
Meus amigos.


Poema 3 / 24


To my friends and blackbirds
playing see-saw on roofs of crumbling houses
Exarchia Patisia Metaxurgio Metz.
They do whatever comes along.
Peddlers of cookbooks and encyclopedias
they build roads and connect deserts
barkers for Zinonos St. dives
professional rebels
cornered in the old days and forced to pull down their pants
now they swallow pills and alcohol to sleep
but they see dreams so they don't sleep.
To memy friends are taut wires
on the roofs of old houses
Exarchia Victoria Gookaki Geazy.
With a million steel pegs you pinned them with
your guilt party-meeting decisions borrowed dresses
burn-marks strange headaches
threatening silences vaginitis
they fall in love with gays
triconoma late-periods
the telephone the telephone the telephone
bronken glasses and no one an ambulance.
They do whatever comes along.
My friends always are on the move
because you haven't given them an inch.
All my friends paint with black
because you've debased the red for them
they write in a symbolic tongue
because your own's only for asslicking.
My friends are blackbirds and wires
in your hands. At your throat.
My friends.


Do livro Três Cliques à Esquerda: o título refere-se à  ordem militar para que um operador de metralhadora corrija a mira girando o cano da arma sobre o tripé três furos à esquerda (nesta caso)


Notas:

[1] Na época em que os poemas foram escritos, bairros residenciais da classe média baixa de Atenas.
[2] Face à linguagem francamente coloquial utilizada por Katerína Gógou em seus poemas, permito-me fazer uso do verbo pintar, gíria dos anos 1960 para "tornar-se realidade no tempo e no espaço; ocorrer, acontecer" (Houaiss)



Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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