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terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Alejandra Pizarnik (Argentina: 1936 – 1972)




O despertar

Senhor
A gaiola virou pássaro
e voou
e meu coração está louco
porque uiva para a morte
e sorri detrás do vento
aos meus delírios

Que farei com o medo
Que farei com o medo

Já não baila a luz em meu sorriso
nem as estações queimam pombas em minhas ideias
Minhas mãos se desnudaram
e foram-se para aonde a morte
ensina a viver os mortos 

Senhor
O ar castiga-me o ser
Detrás do ar há monstros
que bebem meu sangue

É o desastre
É a hora do vazio nenhum vazio
É a hora de colocar ferrolho nos lábios
ouvir os condenados gritarem
contemplar a cada um de meus nomes
enforcados no nada.

Senhor
tenho vinte anos
Também meus olhos têm vinte anos
e no entanto não dizem nada

Senhor
Consumou-se minha vida em um instante
A última inocência explodiu
Agora é nunca ou jamais
ou simplesmente fui

Como não me suicido defronte a um espelho
e desapareço para reaparecer no mar
onde um grande barco me esperaria
com as luzes acesas?

Como não retiro minhas veias
e faço com elas uma escada
para ouvir o outro lado da noite?

O princípio deu à luz o fim
Tudo continuará igual
Os sorrisos erodidos
O interesse interessado
As perguntas de pedra em pedra
As gesticulações que arremedam o amor
Tudo continuará igual

Mas meus braços insistem em abraçar o mundo
porque ainda não lhes ensinaram
que já é demasiadamente tarde

Senhor
Expulsa os féretros de meu sangue

Recordo minha meninice
quando eu era uma anciã
As flores morriam em minhas mãos
porque a dança selvagem da alegria
destruía-lhes o coração

Recordo as negras manhãs de sol
quando era menina
é como dizer ontem
é como dizer há séculos

Senhor
A gaiola virou pássaro
e devorou minhas esperanças

Senhor
A gaiola virou pássaro
Que farei com meu medo


El despertar


Señor
La jaula se ha vuelto pájaro
y se ha volado
y mi corazón está loco
porque aúlla a la muerte
y sonríe detrás del viento
a mis delirios

Qué haré con el miedo
Qué haré con el miedo

Ya no baila la luz en mi sonrisa
ni las estaciones queman palomas en mis ideas
Mis manos se han desnudado
y se han ido donde la muerte
enseña a vivir a los muertos

Señor
El aire me castiga el ser
Detrás del aire hay monstruos
que beben de mi sangre

Es el desastre
Es la hora del vacío no vacío
Es el instante de poner cerrojo a los labios
oír a los condenados gritar
contemplar a cada uno de mis nombres
ahorcados en la nada.

Señor
Tengo veinte años
También mis ojos tienen veinte años
y sin embargo no dicen nada

Señor
He consumado mi vida en un instante
La última inocencia estalló
Ahora es nunca o jamás
o simplemente fue

¿Cómo no me suicido frente a un espejo
y desaparezco para reaparecer en el mar
donde un gran barco me esperaría
con las luces encendidas?

¿Cómo no me extraigo las venas
y hago con ellas una escala
para huir al otro lado de la noche?

El principio ha dado a luz el final
Todo continuará igual
Las sonrisas gastadas
El interés interesado
Las preguntas de piedra en piedra
Las gesticulaciones que remedan amor
Todo continuará igual

Pero mis brazos insisten en abrazar al mundo
porque aún no les enseñaron
que ya es demasiado tarde

Señor
Arroja los féretros de mi sangre

Recuerdo mi niñez
cuando yo era una anciana
Las flores morían en mis manos
porque la danza salvaje de la alegría
les destruía el corazón

Recuerdo las negras mañanas de sol
cuando era niña
es decir ayer
es decir hace siglos

Señor
La jaula se ha vuelto pájaro
y ha devorado mis esperanzas

Señor
La jaula se ha vuelto pájaro
Qué haré con el mied



Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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