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sábado, 21 de março de 2020

Octavio Paz (México: 1914 – 1998)



Soneto I


Imóvel sob a luz, porém dançante,
teu movimento à quietez se cria,
no cimo da vertigem se associa
detendo, não o voo, senão o instante.

Luz que não se espalha, já diamante,
apresado esplendor do meio-dia,
sol que não se consome nem esfria
de cinzas e chamas equidistante.

Espada, fogo, incêndio cinzelado,
que nem a sede aviva nem a mata,
absorta luz, luzeiro ensimesmado:

Teu corpo de si mesmo se desata
e tomba e dispersa tua brancura
e tornas a ser água e terra escura.


Soneto I


Inmóvil en la luz, pero danzante,
tu movimiento a la quietud se cría
en la cima del vértigo se alía
deteniendo, no al vuelo, sí al instante.

Luz que no se derrama, ya diamante,
detenido esplendor del mediodía,
sol que no se consume ni se enfría
de cenizas y fuego equidistante.

Espada, llama, incendio cincelado,
que ni mi sed aviva ni la mata,
absorta luz, lucero ensimismado

tu cuerpo de sí mismo se desata
y cae y se dispersa tu blancura
y vuelves a ser agua y tierra oscura.


Soneto II


O mar, o mar e tu, plural espelho,
o mar de torso preguiçoso e lento
nadando pelo mar, o mar sedento:
o mar que morre e nasce em fugaz brilho.

O mar e tu, seu mar, o mar espelho:
rocha que escala o mar com passo lento,
pilar de sal que abate o mar sedento,
sede e vaivém e apenas fugaz brilho.

Da soma dos instantes em que cresces,
do círculo das imagens deste ano,
retenho um mês de espumas e de peixes,

e embaixo de céus líquidos de estanho
teu corpo que na luz abre baías
no escuro fluxo das ondas dos dias.


Soneto II


El mar, el mar y tú, plural espejo,
el mar de torso perezoso y lento
nadando por el mar, del mar sediento:
el mar que muere y nace en un reflejo.

El mar y tú, su mar, el mar espejo:
roca que escala el mar con paso lento,
pilar de sal que abate el mar sediento,
sed y vaivén y apenas un reflejo.

De la suma de instantes en que creces,
del círculo de imágenes del año,
retengo un mes de espumas y de peces,

y bajo cielos líquidos de estaño
tu cuerpo que en la luz abre bahías
al oscuro oleaje de los días.




Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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