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quinta-feira, 9 de abril de 2020

Gustavo Adolfo Bécquer (Espanha: 1836 – 1870)




Rima III


Sacudidura estranha
que conturba as ideias,
como tufão que empurra
as ondas em tropel.

Burburinho que na alma
se eleva e vai crescendo
como vulcão que surdo
prenuncia seu arder.

Disformes silhuetas
de seres impossíveis;
paisagens que aparecem
como através de um tule.

Cores que se combinam
arremedando no ar
as partículas da íris
que flutuam na luz

Ideias sem palavras,
palavras sem sentido;
cadências que não têm
nem ritmo nem compasso.

Memórias e desejos
de coisas que não existem
acessos de alegria
impulsos de chorar.

Exercício nervoso,
que não acha seu sentido;
sem rédeas que o guiem,
cavalo voador.

Desatino que o espírito
exalta e desfalece.
embriaguez divina
do gênio criador...
Tal qual é a inspiração.

Gigante voz que o caos
organiza no cérebro
e em meio às sombras faz
a luz aparecer.

Brilhante renda de ouro
que poderosa enfrenta
da exacerbada mente
o voador corcel.

Fio de luz que em feixes
os pensamentos ata;
sol que as nuvens transpassa
para tocar no zênite.

Inteligente mão
que num colar de pérolas
consegue as indomáveis
palavras reunir.

Harmonioso ritmo
que com cadência e número
as fugitivas notas
encerra no compasso.

Cinzel que o bloco morde
a estátua modelando,
e a formosura plástica
acrescenta à ideal.

Atmosfera em que giram
em ordem as ideias
qual átomos que agrega
recôndita atração.

Caudal em cujas ondas
sua ânsia a febre aplaca
oásis que ao intelecto
devolve seu vigor...
Tal é nossa razão.

Com ambas sempre em luta
e de ambas vencedor,
tão só ao gênio é dado
a um jugo atar as duas.


Rima III


Sacudimiento extraño
que agita las ideas,
como huracán que empuja
las olas en tropel.

Murmullo que en el alma
se eleva y va creciendo
como volcán que sordo
anuncia que va a arder.

Deformes siluetas
de seres imposibles;
paisajes que aparecen
como al través de un tul.

Colores que fundiéndose
remedan en el aire
los átomos del iris
que nadan en la luz.

Ideas sin palabras,
palabras sin sentido;
cadencias que no tienen
ni ritmo ni compás.

Memorias y deseos
de cosas que no existen;
accesos de alegría,
impulsos de llorar.

Actividad nerviosa
que no halla en qué emplearse;
sin riendas que le guíen,
caballo volador.

Locura que el espíritu
exalta y desfallece,
embriaguez divina
del genio creador...
Tal es la inspiración.

Gigante voz que el caos
ordena en el cerebro
y entre las sombras hace
la luz aparecer.

Brillante rienda de oro
que poderosa enfrena
de la exaltada mente
el volador corcel.

Hilo de luz que en haces
los pensamientos ata;
sol que las nubes rompe
y toca en el zenít.

Inteligente mano
que en un collar de perlas
consigue las indóciles
palabras reunir.

Armonioso ritmo
que con cadencia y número
las fugitivas notas
encierra en el compás.

Cincel que el bloque muerde
la estatua modelando,
y la belleza plástica
añade a la ideal.

Atmósfera en que giran
con orden las ideas,
cual átomos que agrupa
recóndita atracción.

Raudal en cuyas ondas
su sed la fiebre apaga,
oasis que al espíritu
devuelve su vigor...
Tal es nuestra razón.

Con ambas siempre en lucha
y de ambas vencedor,
tan sólo al genio es dado
a un yugo atar las dos.




Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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