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quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Alphonse de Lamartine (França: 1790 – 1869)


O lago



Assim, sempre impelidos rumo a novas beiras,

Levados pela noite eterna sem voltar,

Nem mesmo por um só dia no mar das eras

Iremos aportar?



Ó lago! mal findou o ano sua passagem,

E ao pé das ondas caras que ela reveria,

Olha! venho sentar sozinho nessa margem

Onde ela sentou um dia.



Bramias assim sobre essas rochas profundas;

Assim quebravas sobre os costados rompidos;

Assim lançava o vento a espuma dessas ondas

Sobre seus pés queridos.



Certa noite, não lembras? íamos calados;

Não se ouvia a distância, em meio ao céu e às águas,

Senão o rumor de remos batendo ritmados

Tuas formosas vagas.



Súbito, entonações a nós desconhecidas

Reverberaram ecos nas margens formosas;

A onda pôs-se atenta, e a voz que me é querida

Disse-lhe estas palavras:



“Ó tempo! susta teu voo, e vós, horas propícias!

Sustai esta correria:

Deixai-nos desfrutar as fugazes delícias

Do nosso melhor dia!



“Todos os infelizes aqui vos imploram:

Passai, passai veloz;

Com seus dias levai as mágoas que os devoram,

Esquecei-vos de nós.



“Mas em vão peço ao tempo mais algumas horas,

E ele escapa de mim;

Digo à noite, sê mais lenta; mas a aurora

Logo trará seu fim.



“Amemos pois, amemos! das horas que fogem,

Desfrutemos, corramos!

O homem não tem um porto; o tempo, uma margem;

Ele flui, e nós passamos.”



Tempo invejoso, pode tal embriaguez

Na qual o amor em ondas traz contentamento

Adejar para longe com a rapidez

Dos dias de tormento?



Como? não guardaremos nem mesmo um sinal?

Como? Tudo passou, nada nos restará?

Retira-nos o tempo o que nos deu, afinal?

Nunca o devolverá?



Eternidade, nada, passado, ermo abismo,

Que fizestes dos dias que vós devorastes?

Dizei: devolvereis estes sublimes mimos

Que de nós arrancastes?



Ó lago! rochas mudas! grutas! mata obscura!

Vós, que o passar dos anos conserva ou remoça,

Desta noite guardai, guardai bela natura,

Ao menos a lembrança!



Que ela esteja em teus temporais e quietudes

Belo lago, em tuas encostas graciosas,

Em teus negros pinheiros e rochedos rudes,

Que pendem sobre as águas.



Que ela esteja no zéfiro que freme e vai-se,

No fragor que de borda a borda tu repetes,

Na lua de prata que aclara tua face

Com brandas claridades.



Que o gemido do vento, o juncal que suspira,

Que os aromas suaves que os ares perfumaram,

Que tudo o que se vê, se escuta ou se respira,

Tudo diga: se amaram!



Le Lac





Ainsi, toujours poussés vers de nouveaux rivages,
Dans la nuit éternelle emportés sans retour,
Ne pourrons-nous jamais sur l'océan des âges
Jeter l'ancre un seul jour?


O lac! l'année à peine a fini sa carrière,
Et près des flots chéris qu'elle devait revoir,
Regarde! je viens seul m'asseoir sur cette pierre
Où tu la vis s'asseoir!


Tu mugissais ainsi sous ces roches profondes;
Ainsi tu te brisais sur leurs flancs déchirés;
Ainsi le vent jetait l'écume de tes ondes
Sur ses pieds adorés.


Un soir, t'en souvient-il? nous voguions en silence,
On n'entendait au loin, sur l'onde et sous les cieux,
Que le bruit des rameurs qui frappaient en cadence
Tes flots harmonieux.


Tout à coup des accents inconnus à la terre
Du rivage charmé frappèrent les échos;
Le flot fut attentif, et la voix qui m'est chère
Laissa tomber ces mots:


O temps, suspends ton vol! et vous, heures propices
Suspendez votre cours:
Laissez-nous savourer les rapides délices
Des plus beaux de nos jours!


Assez de malheureux ici-bas vous implorent:
Coulez, coulez pour eux;
Prenez avec leurs jours les soins qui les dévorent,
Oubliez les heureux.


Mais je demande en vain quelques moments encore,
Le temps m'échappe et fuit;
Je dis à cette nuit: Sois plus lente; et l'aurore
Va dissiper la nuit.


Aimons donc, aimons donc! de l'heure fugitive,
Hâtons-nous, jouissons!
L'homme n'a point de port, le temps n'a point de rive;
Il coule, et nous passons!


Temps jaloux, se peut-il que ces moments d'ivresse,
Où l'amour à longs flots nous verse le bonheur,
S'envolent loin de nous de la même vitesse
Que les jours de malheur?


Eh quoi! n'en pourrons-nous fixer au moins la trace?
Quoi! passés pour jamais? quoi! tout entiers perdus?
Ce temps qui les donna, ce temps qui les efface,
Ne nous les rendra plus?


Eternité, néant, passé, sombres abîmes,
Que faites-vous des jours que vous engloutissez?
Parlez: nous rendrez-vous ces extases sublimes
Que vous nous ravissez?


O lac! rochers muets! grottes! forêt obscure!
Vous, que le temps épargne ou qu'il peut rajeunir,
Gardez de cette nuit, gardez, belle nature,
Au moins le souvenir!


Qu'il soit dans ton repos, qu'il soit dans tes orages,
Beau lac, et dans l'aspect de tes riants coteaux,
Et dans ces noirs sapins, et dans ces rocs sauvages
Qui pendent sur tes eaux.


Qu'il soit dans le zéphyr qui frémit et qui passe,
Dans les bruits de tes bords par tes bords répétés,
Dans l'astre au front d'argent qui blanchit ta surface
De ses molles clartés.


Que le vent qui gémit, le roseau qui soupire
Que les parfums légers de ton air embaumé,
Que tout ce qu'on entend, l'on voit ou l'on respire,
Tout dise : Ils ont aimé!





(Você pode ouvir a declamação deste poema na voz de Isaias Edson Sidney neste endereço: TRAPICHE DE VERSOS E AFINS • Um podcast na Anchor)

Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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