De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”
Poema VIII / XXI
Abelha branca zumbes – ébria de mel – em minha alma
e te retorces em lentas espirais de fumaça.
Sou o desesperado, a palavra sem ecos,
o que perdeu tudo, e o que tudo teve.
Última amarra, estala em ti minha ansiedade última.
Em minha terra deserta és a última rosa.
Ah silenciosa!
Cerra teus olhos profundos. Ali adeja a noite.
Ah desnuda teu corpo de estátua temerosa.
Tens os olhos profundos onde a noite se funde.
Frescos braços de flor e regaço de rosa.
Parecem os teus seios a caracóis brancos.
Veio adormecer em teu ventre uma mariposa de sombra.
Ah silenciosa.
Sou aqui a solidão da qual estás ausente.
Chove. O vento do mar caça errantes gaivotas.
A água anda descalça pelas ruas molhadas.
Daquela árvore se queixam, como enfermos, as folhas.
Abelha branca, ausente, ainda zumbes em minha alma.
Renasces no tempo, delgada e silenciosa.
Ah silenciosa!
Poema VIII / XXI
Abeja blanca zumbas -ebria de miel- en mi alma
y te tuerces en lentas espirales de humo.
Soy el desesperado, la palabra sin ecos,
el que lo perdió todo, y el que todo lo tuvo.
Última amarra, cruje en ti mi ansiedad última.
En mi tierra desierta eres la última rosa.
Ah silenciosa!
Cierra tus ojos profundos. Allí aletea la noche.
Ah desnuda tu cuerpo de estatua temerosa.
Tienes ojos profundos donde la noche alea.
Frescos brazos de flor y regazo de rosa.
Se parecen tus senos a los caracoles blancos.
Ha venido a dormirse en tu vientre una mariposa de
sombra.
Ah silenciosa!
He aquí la soledad de donde estás ausente.
Llueve. El viento del mar caza errantes gaviotas.
El agua anda descalza por las calles mojadas.
De aquel árbol se quejan, como enfermos, las hojas.
Abeja blanca, ausente, aún zumbas en mi alma.
Revives en el tiempo, delgada y silenciosa.
Ah silenciosa!