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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Eduardo Mitre (Bolívia: 1943 –)




Ao pé da letra

A mulher que de repente
aparece na esquina
como a passante de Baudelaire.
Seus olhos de noite do Líbano,
brilhantes como a pele
das tâmaras,
enigmáticos como as linhas
que traça o destino
nas folhas de coca.
Seu corpo esbelto,
seu talhe fino,
seu andar de palmeira à brisa,
seus cabelos que ao ar
açoitam e perfumam,
suas longas pernas
pressentidas sob a saia rubra,
seus seios como duas ondas
que quebram
a ponto de se perderem no mar.

E o mantel que prolonga a neve
sobre a mesa do bar
sob o olhar que lê
o que ao azar a realidade inventa.

E o poema que diz
ao pé da letra.


Al pie de la letra


a Guillermo Sucre

La mujer que de pronto
aparece en la esquina
como la pasante de Baudelaire.
Sus ojos de noche del Líbano,
brillosos como la piel
de los dátiles,
enigmáticos como las líneas
que traza el destino
en las hojas de coca.
Su cuerpo esbelto,
su talle fino,
su andar de palmera con brisa,
su cabellera que al aire
latiga y aroma,
sus largas piernas
presentidas bajo la falda roja,
sus senos como dos olas
rompientes
a punto de perderse en el mar.

Y el mantel que prolonga a la nieve
sobre la mesa del bar
bajo la mirada que lee
lo que al azar la realidad inventa.

Y el poema que dice
al pie de la letra.


Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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