terça-feira, 30 de junho de 2020

Emily Dickinson (Estados Unidos: 1830 – 1886)




Poema J712  /  F479 


Por não poder parar para a Morte –
Gentil, parou ela para mim –  
Na Carruagem fomos Nós –
E a Imortalidade.

Sem pressa fomos – Ela não tinha pressa
E eu deixei de lado
A minha labuta e também o meu lazer,
Por sua Cortesia –

Passamos pela Escola, onde Crianças esforçavam-se
No Recreio – em Círculo –
Passamos pelos campos de Grãos Afrontantes 
Passamos pelo Sol Poente –

Ou antes - Ela passou a Nós –
O Orvalho tornou-se Tiritante e Gelado –
Pois só de Gaze - o meu Vestido –
O meu Xale - só de Tule –  

Paramos ante uma Casa que lembrava
A um Inchaço do Chão –
O Teto, mal se notava –
A Cornija - no Chão –

Desde então – são Séculos – e ainda assim
Sentia-os mais breves que o Dia
De antemão supus que as Cabeças dos Cavalos
Rumavam para a Eternidade –


Poem J712 / F479


Because I could not stop for Death –
He kindly stopped for me –
The Carriage held but just Ourselves –
And Immortality.

We slowly drove – He knew no haste
And I had put away
My labor and my leisure too,
For His Civility –

We passed the School, where Children strove
At Recess - in the Ring –
We passed the Fields of Gazing Grain –
We passed the Setting Sun –

Or rather - He passed Us –
The Dews drew quivering and Chill –
For only Gossamer, my Gown –
My Tippet – only Tulle –

We paused before a House that seemed
A Swelling of the Ground –
The Roof was scarcely visible –
The Cornice - in the Ground –

Since then - 'tis Centuries – and yet
Feels shorter than the Day
I first surmised the Horses' Heads
Were toward Eternity –



segunda-feira, 29 de junho de 2020

Siegfried Sassoon (Inglaterra: 1886 – 1967)





O Leito de Morte


Ele cochilou e estava ciente de que o silêncio se adensava
a sua volta, inabalável qual sólida muralha;
Aquoso qual raios de luz âmbar ondulante,
Pairando trêmulo nas asas do sono.
Silêncio e segurança; e sua orla mortal
Beijada na noite sem lua pelas insinuantes ondas da morte.

Alguém levava água a sua boca,
Ele engoliu, sem resistir; gemeu e afundou-se
Na escuridão por entre o vermelho vivo da tristeza; e esqueceu-se
da pulsação opiácea e dolorida de seu ferimento.
Água - calma, deslizando esverdeada sobre a barragem.
Água - uma passagem iluminada pelo céu para seu barco,
Ave - sonora, e circundada por reflexos de flores.
E matizes difusos de verão; ao flutuar,
Remou com pugnacidade, e suspirou, e adormeceu.

Noite - com uma rajada de vento, ela adentrou a enfermaria,
Agitando a cortina em curva bruxuleante.
Noite - estava cego; não via as estrelas
Reluzindo por entre fantasmas de tristeza divagante;
Estranhos borrões coloridos, púrpura, escarlate, verde,
Cintilando e desvanecendo em seus olhos marejados.

Chuva - podia ouvi-la rumorejar na escuridão;
Fragrância entrelaçada a música desapaixonada;
Chuva morna sobre rosas pendentes; aguaceiro tamborilante
Que encharca os bosques; não a chuva áspera que arrasa
Ao som do trovão, mas a paz gotejante,
Que delicada e lentamente vai ceifando a vida.

Ele moveu-se, arredando o corpo; então a dor
Saltou como besta desgovernada, e agarrou e rasgou
Seus sonhos tateantes com garras e presas que dilaceravam.
Mas alguém estava ao seu lado; logo acalmou-se
Estremecendo,  pois aquela coisa malévola havia passado.
E a morte, que se aproximara, interrompeu seus passos e fitou-o.

Acendam luzes suficientes e juntem-se ao redor de sua cama.
Emprestem-lhe seus olhos, sangue quente, e a vontade de viver.
Falem com ele; estimulem-no; ainda podem salvá-lo.
Ele é jovem; ele odiava a Guerra; como pode ele morrer
Enquanto velhos e cruéis propugnadores salvam-se vitoriosos?

Mas a morte respondeu: "Eu o escolhi." Então ele se foi,
E fez-se silêncio na noite de verão;
Silêncio e segurança; e os véus do sono.
Depois, muito ao longe, o troar das armas.


The Death Bed


He drowsed and was aware of silence heaped
Round him, unshaken as the steadfast walls;
Aqueous like floating rays of amber light,
Soaring and quivering in the wings of sleep.
Silence and safety; and his mortal shore
Lipped by the inward, moonless waves of death.

Someone was holding water to his mouth.
He swallowed, unresisting; moaned and dropped
Through crimson gloom to darkness; and forgot
The opiate throb and ache that was his wound.
Water — calm, sliding green above the weir.
Water — a sky-lit alley for his boat,
Bird — voiced, and bordered with reflected flowers
And shaken hues of summer; drifting down,
He dipped contented oars, and sighed, and slept.

Night — with a gust of wind, was in the ward,
Blowing the curtain to a glimmering curve.
Night — he was blind; he could not see the stars
Glinting among the wraiths of wandering cloud;
Queer blots of colour, purple, scarlet, green,
Flickered and faded in his drowning eyes.

Rain — he could hear it rustling through the dark;
Fragrance and passionless music woven as one;
Warm rain on drooping roses; pattering showers
That soak the woods; not the harsh rain that sweeps
Behind the thunder, but a trickling peace,
Gently and slowly washing life away.

He stirred, shifting his body; then the pain
Leapt like a prowling beast, and gripped and tore
His groping dreams with grinding claws and fangs.
But someone was beside him; soon he lay
Shuddering because that evil thing had passed.
And death, who'd stepped toward him, paused and stared.

Light many lamps and gather round his bed.
Lend him your eyes, warm blood, and will to live.
Speak to him; rouse him; you may save him yet.
He's young; he hated War; how should he die
When cruel old campaigners win safe through?

But death replied: 'I choose him.' So he went,
And there was silence in the summer night;
Silence and safety; and the veils of sleep.
Then, far away, the thudding of the guns.


domingo, 28 de junho de 2020

Rubén Darío (Nicarágua: 1867 – 1916)



  
Se minhas mãos pudessem desfolhar


Pronuncio o teu nome
Pelas noites escuras,
Assim que vêm os astros
Se abeberar na lua
E adormece a ramagem
Das copas escondidas.
E eu me sinto vazio
De ardor e melodia.
Louco relógio a cantar
Mortas horas antigas.

Pronuncio o teu nome,
Por esta noite escura,
E o teu nome me soa
Mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
E mais dolorido que a mansa chuva.

Te desejarei como então
Por outra vez? Que culpa
Tem o meu coração?
Se a névoa se desfaz
Que outra paixão me espera?
Será tranquila e pura?
Se meus dedos pudessem
A lua desfolhar!!


Si mis manos pudieran deshojar


Yo pronuncio tu nombre
En las noches oscuras
Cuando vienen los astros
A beber en la luna
Y duermen los ramajes
De las frondas ocultas.
Y yo me siento hueco
De pasión y de música.
Loco reloj que canta
Muertas horas antiguas.

Yo pronuncio tu nombre,
En esta noche oscura,
Y tu nombre me suena
Más lejano que nunca.
Más lejano que todas las estrellas
Y más doliente que la mansa lluvia.

¿Te querré como entonces
Alguna vez? ¿Qué culpa
Tiene mi corazón?
Si la niebla se esfuma
¿Qué otra pasión me espera?
¿Será tranquila y pura?
¡¡Si mis dedos pudieran
Deshojar a la luna!!





Quarta de Quatro Canções Melancólicas


sábado, 27 de junho de 2020

Rubén Darío (Nicarágua: 1867 – 1916)


Triste, muito tristemente


Um dia estava eu triste, muito tristemente
olhando como caía a água de uma fonte.

Era a noite doce e argentina. Chorava
a noite. Suspirava a noite. Soluçava

a noite. E o crepúsculo em sua terna ametista,
diluía a lágrima de um misterioso artista.

E esse artista era eu, misterioso e gemente,
que misturava minha alma ao jorro da fonte.


Triste, muy tristemente


Un día estaba yo triste, muy tristemente
viendo cómo caía el agua de una fuente.

Era la noche dulce y argentina. Lloraba
la noche. Suspiraba la noche. Sollozaba

la noche. Y el crepúsculo en su suave amatista,
diluía la lágrima de un misterioso artista.

Y ese artista era yo, misterioso y gimiente,
que mezclaba mi alma al chorro de la fuente.



Terceira de Quatro Canções Melancólicas 


sexta-feira, 26 de junho de 2020

Rubén Darío (Nicarágua: 1867 – 1916)



  
Siga em Frente e Olvida


Esse é meu mal: sonhar

Peregrino que vais buscando em vão
um destino melhor que teu destino,
como queres que te dê a minha mão,
se meu signo é teu signo, Peregrino?

Não chegarás jamais ao teu destino;
levas a morte em ti qual vaga-lume
que ao que possuis de humano em ti consome...
o que tens de humano e tens de divino!



Segue tranquilamente, oh! caminhante!
Todavia fica muito distante
esse país ignoto com que sonhas...

... E sonhar é um mal. Siga em frente e olvida,
pois se te empenhas em sonhar, te empenhas
em aventar a chama de tua vida.


Pasa y olvida


Ese es mi mal: Soñar.

Peregrino que vas buscando en vano
un camino mejor que tu camino,
¿cómo quieres que yo te dé la mano,
si mi signo es tu signo, Peregrino?

No llegarás jamás a tu destino;
llevas la muerte en ti como el gusano
que te roe lo que tienes de humano…
¡lo que tienes de humano y de divino!

Sigue tranquilamente, ¡oh, caminante!
Todavía te queda muy distante
ese país incógnito que sueñas …

… Y soñar es un mal. Pasa y olvida,
pues si te empeñas en soñar, te empeñas
en aventar la llama de tu vida.



Segunda de Quatro Canções Melancólicas




quinta-feira, 25 de junho de 2020

Rubén Darío (Nicarágua: 1867 – 1916)



Noturno


a Mariano de Cavia


Vós, os que auscultastes o coração da noite, 
vós, que pela tenaz insônia haveis ouvido
o cerrar de uma porta, o ressoar distante 
de um carro, um eco vago, um rápido ruído...

Nos instantes do silêncio misterioso,
quando são libertos da prisão os esquecidos,
na hora que é dos mortos, na hora que é do repouso,
sabereis ler estes versos de amargor embebidos!

Como num vaso verto neles minhas dores
de antigas lembranças e desgraças funestas,
e as tristes nostalgias da alma, ébria de flores,
e a dor do meu coração, saudoso de festas.

E o pesar de não mais ser o que havia sido,
e a perda do reino que estava reservado a mim,
a ideia de que eu pudesse não ter nascido,
e o sonho desta vida desde que nasci!

Tudo isto vem em meio ao silêncio profundo
no qual a noite envolve a terrena ilusão,
e sinto-o como o eco do coração do mundo
que adentra e comove o meu próprio coração.


Nocturno


a Mariano de Cavia


Los que auscultasteis el corazón de la noche,
los que por el insomnio tenaz habéis oído
el cerrar de una puerta, el resonar de un coche
lejano, un eco vago, un ligero ruido …

En los instantes del silencio misterioso,
cuando surgen de su prisión los olvidados,
en la hora de los muertos, en la hora del reposo,
¡sabréis leer estos versos de amargor impregnados!

Como en un vaso vierto en ellos mis dolores
de lejanos recuerdos y desgracias funestas,
y las tristes nostalgias de mi alma, ebria de flores,
y el duelo de mi corazón, triste de fiestas.

Y el pesar de no ser lo que yo hubiera sido,
y la pérdida del reino que estaba para mí,
el pensar que un instante pude no haber nacido,
¡y el sueño que es mi vida desde que yo nací!

Todo esto viene en medio del silencio profundo
en que la noche envuelve la terrena ilusión,
y siento como un eco del corazón del mundo
que penetra y conmueve mi propio corazón.



 (Primeira de Quatro Canções Melancólicas)


quarta-feira, 24 de junho de 2020

Rubén Darío (Nicarágua: 1867 – 1916) *



Canção de Outono na Primavera


Juventude, excelso tesouro,
já te vais para não volver!
Se desejo chorar, não choro...
e às vezes choro sem querer...


Múltipla tem sido a celeste
história do meu coração.
Era a doce menina, neste
mundo de dor e de aflição.


Olhava como a alba mais pura;
sorria tal qual uma flor.
A sua cabeleira escura
Formada era de noite e dor.


Eu, tímido qual garotinho,
Ela, naturalmente, era,
para a minha afeição de arminho
Herodíade e Salomé...


Juventude, excelso tesouro,
já te vais para não volver!
Se desejo chorar, não choro...
e às vezes choro sem querer...


E mais consoladora e mais
bajuladora e expressiva,
a outra foi mais sensitiva
como não pensei achar jamais.


Pois à sua contínua ternura
uma paixão violenta unia.
Em um peplo de gaze pura
Uma bacante se envolvia...


Nos seus braços tomou meu sonho
e o ninou como a um bebé...
e te matou, infante e tristonho,
falto de luz, falto de fé.


Juventude, excelso tesouro,
já te vais para não volver!
Se desejo chorar, não choro...
e às vezes choro sem querer...


Outra julgou ser minha boca
um estojo da sua paixão;
e que roeria, aloucada,
com seus dentes meu coração.


Pondo num afeto sobejo
a mira de sua vontade,
enquanto que abraços e beijos
síntese eram da eternidade;


e de nossa carne ligeira
sempre um Éden imaginar,
sem esperar que a Primavera
vai como a carne se acabar.


Juventude, excelso tesouro,
já te vais para não volver!
Se desejo chorar, não choro...
e às vezes choro sem querer...


E as outras mais! Em tantos climas,
em tantas terras sempre são,
senão pretextos das mi'as rimas
fantasmas do meu coração.


Em vão eu busco pela princesa
já triste de tanto esperar.
A vida é dura. Amarga e pesa.
Já não há mais princesa a cantar!


Apesar do tempo teimoso
Mi'a sede de amor não tem fim;
com o meu cabelo grisalho
chego aos roseirais do jardim.


Juventude, excelso tesouro,
já te vais para não volver!
Se desejo chorar, não choro...
e às vezes choro sem querer...


Mas a mim pertence a Alba de ouro!



Canción de Otoño en Primavera


Juventud, divino tesoro,
¡ya te vas para no volver!
Cuando quiero llorar, no lloro...
y a veces lloro sin querer...

Plural ha sido la celeste
historia de mi corazón.
Era una dulce niña, en este
mundo de duelo y de aflicción.

Miraba como el alba pura;
sonreía como una flor.
Era su cabellera obscura
hecha de noche y de dolor.

Yo era tímido como un niño.
Ella, naturalmente, fue,
para mi amor hecho de armiño,
Herodías y Salomé...

Juventud, divino tesoro,
¡ya te vas para no volver!
Cuando quiero llorar, no lloro...
y a veces lloro sin querer...

Y más consoladora y más
halagadora y expresiva,
la otra fue más sensitiva
cual no pensé encontrar jamás.

Pues a su continua ternura
una pasión violenta unía.
En un peplo de gasa pura
una bacante se envolvía...

En sus brazos tomó mi ensueño
y lo arrulló como a un bebé...
Y te mató, triste y pequeño,
falto de luz, falto de fe...



Juventud, divino tesoro,
¡te fuiste para no volver!
Cuando quiero llorar, no lloro...
y a veces lloro sin querer...

Otra juzgó que era mi boca
el estuche de su pasión;
y que me roería, loca,
con sus dientes el corazón.

Poniendo en un amor de exceso
la mira de su voluntad,
mientras eran abrazo y beso
síntesis de la eternidad;

y de nuestra carne ligera
imaginar siempre un Edén,
sin pensar que la Primavera
y la carne acaban también...

Juventud, divino tesoro,
¡ya te vas para no volver!
Cuando quiero llorar, no lloro...
y a veces lloro sin querer.

¡Y las demás! En tantos climas,
en tantas tierras siempre son,
si no pretextos de mis rimas
fantasmas de mi corazón.

En vano busqué a la princesa
que estaba triste de esperar.
La vida es dura. Amarga y pesa.
¡Ya no hay princesa que cantar!

Mas a pesar del tiempo terco,
mi sed de amor no tiene fin;
con el cabello gris, me acerco
a los rosales del jardín...

Juventud, divino tesoro,
¡ya te vas para no volver!
Cuando quiero llorar, no lloro...
y a veces lloro sin querer...



¡Mas es mía el Alba de oro!


Nota:

(*) Félix Rubén García Sarmiento foi iniciador e máximo representante do Modernismo literário em língua espanhola. É possivelmente o poeta que tenha tido, na poesia espanhola do século XX, uma maior e mais duradoura influência. É chamado príncipe de las letras castellanas. O erotismo é um dos temas centrais de sua poesia, e alguns críticos afirmam que se trata do tema essencial de sua obra poética, ao que todos os demais estão subordinados. A poesia de Darío se diferencia da poesia de outros poetas amorosos pela inexistência da personagem literária da amada ideal, pois nela sobressaem muitas amadas passageiras.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Emily Dickinson (Estados Unidos: 1830 – 1886)


Poema J425 / F382


Bom dia - Meia-Noite –
Estou de volta à Casa –
O Dia – enfastiou-se Comigo –
Como poderia eu – com Ele?

A luz solar era um lugar de doçura –
Lá, ficar eu gostaria –
Mas a Manhã - não me quis – agora –
Então – Boa noite – Dia!

Posso olhar – não posso? –
O Leste em sua Vermelhidão?
As colinas – elas dão seu jeito – pois –
De pôr à larga – o Coração –

Você - não é tão clara – Meia-Noite –
Eu escolhi – o Dia –
Mas – peço-lhe que acolha uma Garotinha –
A quem ele rejeitaria.


J425 / F382


Good Morning - Midnight -
I'm coming Home -
Day - got tired of Me -
How could I - of Him?

Sunshine was a sweet place -
I liked to stay -
But Morn - didn't want me - now -
So - Goodnight - Day!

I can look - can't I -
When the East is Red?
The Hills - have a way - then -
That puts the Heart - abroad -

You - are not so fair - Midnight -
I chose - Day -
But - please take a little Girl -
He turned away!

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Roque Dalton García (São Salvador: 1935 – 1975)


Por Assim Dizer


"O marxismo-leninismo é uma pedra
para quebrar-se a cabeça do imperialismo
e da burguesia."
"Não. O marxismo-leninismo é uma tira de borracha
com que se arremessa uma pedra."

"Não, não. O marxismo-leninismo é uma ideia
que move o braço
que por sua vez retesa a tira de borracha
da atiradeira que arremessa essa pedra."

"O marxismo-leninismo é a espada
para se cortar as mãos do imperialismo."

"Que seja! O marxismo-leninismo é a teoria
de como cortar as unhas do imperialismo
enquanto se busca pela oportunidade de amarrar-lhe as mãos."

"Que farei eu se passei a vida
lendo o marxismo-leninismo
e depois de crescido esqueci
que tenho os bolsos cheios de pedras
e uma atiradeira no bolso de trás
e que facilmente conseguiria uma espada
e que não suportaria ficar por cinco minutos
num Salão de Beleza?


Decires 


«El marxismo-leninismo es una piedra
para romperle la cabeza al imperialismo
y a la burguesía.»

«No. El marxismo-leninismo es la goma elástica
con que se arroja esa piedra.»

«No, no. El marxismo-leninismo es la idea
que mueve el brazo
que a su vez acciona la goma elástica
de la honda que arroja esa piedra.»

«El marxismo-leninismo es la espada
para cortar las manos del imperialismo.»

«Qué va! El marxismo-leninismo es la teoría
de hacerle la manicure al imperialismo
mientras se busca la oportunidad de amarrarle las manos.»

¿Qué voy a hacer si me he pasado la vida
leyendo el marxismo-leninismo
y al crecer olvidé
que tengo los bolsillos llenos de piedras
y una honda en el bolsillo de atrás
y que muy bien me podría conseguir una espada
y que no soportaría estar cinco minutos
en un Salón de Belleza?



("Faz-se política pondo-se a vida em jogo, ou dela não se fala.")

domingo, 21 de junho de 2020

Paul Verlaine (França: 1884 – 1896)



Em Surdina (*)


Calmos no dia em seu meio
Por altos galhos formado,
O nosso amor saturemos
Com o silêncio profundo.

Alma, coração, sentidos
extasiados fundamos
Com esses langores vagos
Dos pinhais e dos arbustos.

Os teus olhos fecha em parte,
Cruza os braços sobre os seios,
Do coração que adormece
Insiste em todos os sonhos.

Deixemo-nos transportar
Ao sopro embalante e doce
Que aos teus pés vem encrespar
As ondas da relva agreste.

Quando a noite, majestosa,
Dos negros robles baixar
A voz da nossa descrença,
O rouxinol vai cantar.


En Sourdine


Calmes dans le demi-jour
Que les branches hautes font,
Pénétrons bien notre amour
De ce silence profond.

Fondons nos âmes, nos cœurs
Et nos sens extasiés,
Parmi les vagues langueurs
Des pins et des arbousiers.

Ferme tes yeux à demi,
Croise tes bras sur ton sein,
Et de ton cœur endormi
Chasse à jamais tout dessein.

Laissons-nous persuader
Au souffle berceur et doux
Qui vient, à tes pieds, rider
Les ondes des gazons roux.

Et quand, solennel, le soir
Des chênes noirs tombera
Voix de notre désespoir,
Le rossignol chantera.


Nota:

(*) Em maio de 1891, Fauré começou a compor um ciclo de canções para voz e piano - Cinq mélodies de Venise, Op. 58 - com poemas de Paul Verlaine. Claude Debussy também compôs música para este poema. 




Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

  Argonautas   E se a alma deve conhecer-se a si mesma ela deve voltar os olhos para outra alma: * o estrangeiro e inimigo, vim...