domingo, 29 de novembro de 2020

Louise Glück (EUA: 1943 – )

 O triunfo de Aquiles*

 

Na história de Pátroclo

ninguém sobrevive, nem mesmo Aquiles

que era quase um deus.

Pátroclo se parecia com ele; usaram

a mesma armadura.

 

Sempre nessas amizades

um serve ao outro, um é menor que o outro:

a hierarquia

está sempre presente, embora as lendas

não possam ser comprovadas –

sua fonte é o sobrevivente,

aquele que foi abandonado.

 

O que eram os navios gregos incendiados

se comparados a essa perda?

 

Em sua tenda, Aquiles

sofreu com todo o seu ser

e os deuses viram que

ele já era um homem morto, uma vítima

de sua porção que amava,

a porção que era mortal.

 

 

The Triumph of Achilles

 

In the story of Patroclus

no one survives, not even Achilles

who was nearly a god.

Patroclus resembled him; they wore

the same armor.

 

Always in these friendships

one serves the other, one is less than the other:

the hierarchy

is always apparant, though the legends

cannot be trusted—

their source is the survivor,

the one who has been abandoned.

 

What were the Greek ships on fire

compared to this loss?

 

In his tent, Achilles

grieved with his whole being

and the gods saw

he was a man already dead, a victim

of the part that loved,

the part that was mortal.

 


(*) A história de Pátroclo e Aquiles é contada na Ilíada, de Homero, Cantos XVI – XVIII.

 

 

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