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sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Rosario Ferré (Porto Rico: 1938 – 2016)

 

Perdeste, dizem-me, a sanidade

 

Perdeste, dizem-me, a sanidade

ouve-me bem

quando vais pela rua

todos apontam o dedo para tua cabeça inclinada

como se a quisessem derrubar

só apertar o gatilho e plaft!

o rosto é esmagado como uma lata de cerveja

 

não cumprimentas ninguém

não te penteias, não lustras teus sapatos

cruza a rua dando-te o próprio braço

dá-te a mão, fecha o colarinho

mantém-te atento

 

aí vai o louco, dizem

 

tu passas bamboleando a cabeça empoeirada

como um santo de madeira retirado da procissão

os pés cravados no palanque carcomido

olhando mais além

não deixes que tua carne floresça

deixa-te apedrejar

 

perdeste

escuta bem

 

amarra-te fortemente ao mastro

ata-te à polar

não mudes agora as tábuas antigas

não retires os remos de seus pivôs

crava na estrela teu melhor olho

mantém-te fiel

não pestanejes senão de hora em hora

dorme tranquilo sobre teus punhos

não tenhas medo de recordar

cerra teus dentes cristal-cortantes

enjaula tua língua

não engulas mais

 

perdeste a sanidade, amigo, já é hora

corta a corda

sobe no vento

endurece o coração.

 

Has Perdido, Me Dicen, La Cordura

  

Has perdido, me dicen, la cordura

óyeme bien

cuando vas por la calle

todos apuntan con el dedo a tu cabeza ladeada

como si te la quisieran tumbar

solo apretar gatillo y plaf!

la frente se te hunde como una lata de cerveza

 

no saludes a nadie

no te peines, no brilles tus zapatos

cruza la calle de tu propio brazo

date la mano, ciérrate el cuello

mantente atento

 

ahí va el loco, dicen

 

tú pasas bamboleando la cabeza polvorienta

como un santo de madera sacado en procesión

los pies clavados a la tarima carcomida

mirando más allá

no dejes que tu carne florezca

déjate apedrear

 

has perdido

escucha bien

 

amárrate fuerte al mástil

átate a la polar

no desgonces ahora los tablones antiguos

no alces los remos de sus pivotes

clava a la estrella tu mejor ojo

mantente fiel

no pestañees sino de hora en hora

duerme tranquilo sobre tus puños

no tengas miedo de recordar

cierra tus dientes cristal-cortantes

jaula tu lengua

no tragues más

 

has perdido la cordura, amigo, ya es ahora

corta la cuerda

súbete al viento

endura tu corazón.

 

 

Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

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