A
solidão
não
ostenta em seu olhar a cor entristecida
das
mulheres burras apatetadas. [1]
Ela
não perambula de modo abstrato e íntima satisfação
rebolando
as ancas em salas de concerto
e
museus congelados.
Ela
não é os quadros militares covardes dos 'bons' velhos tempos
A
naftalina no peito das velhinhas
As
fitas róseas e chapéus de palha.
Ela
não abre as pernas dando risadinhas fingidas
O
olhar fixo de vaca em suspiros ritmados
e
roupas íntimas de cores sortidas.
A
solidão
tem
a cor dos paquistaneses, essa solidão, [2]
E é
avaliada metro a metro
Junto
com suas coisas
Encontrada
no final das filas nos sinais fechados [3]
Ela
permanece pacientemente enfileirada
Bournazi
– Santa Barbara – Kokkinia
Touba
– Stavroupoli – Kalamaria [4]
Sob
quaisquer condições climáticas
Com
sua cabeça suada
Ela
ejacula aos gritos e estraçalha vidraças com correntes
Ela
controla os meios de produção
Ela
detona a propriedade privada
Ela
é uma visita domingueira na prisão
O
mesmo passo no pátio revolucionários e prisioneiros penais
Ela
é vendida e comprada minuto a minuto, suspiro a suspiro
Nos
mercados de escravos da terra – Kotzia é logo ali [5]
Levante-se
cedo
Levante-se
e comprove.
Ela
é uma puta nos prostíbulos
O
treinamento militar alemão para recrutas
E
os últimos
Infindáveis
quilômetros da rodovia nacional que leva ao centro
Nas
carnes interditadas da Bulgária.
E
quando seu sangue se adensa e ela não consegue mais
Suportar
que sua espécie seja negociada a preço tão vil
Ela
dança uma zeibekiko descalça sobre as mesas [6]
Segurando
em suas mãos azuis machucadas
Um
bem afiado machado
A
Solidão
A
nossa solidão eu digo. É sobre a nossa solidão que estou falando,
É
um machado em nossas mãos
Que
sobre suas cabeças está girando girando girando
Loneliness
does
not have the saddened color
of
the cloudy bimbo in her eyes. [1]
She
does not stroll abstractly and self-content
Shaking
her hips in concert halls
And
in frozen museums.
She
is not the yellow cadres of “good” old times
And
naphthalene in granny’s chests
Rosy
ribbons and straw hats.
She
does not open her legs with fake small laughers
A
cow’s gaze rhythmic sighs
And
assorted underwear.
Loneliness
Has
the color of Pakistanis, this loneliness [2]
And
she is counted inch by inch
Along
with their pieces
In
the bottom of the light-shaft. [3]
She
stands patiently queuing
Bournazi
– Santa Barbara – Kokkinia
Touba
–Stavroupoli – Kalamaria [4]
Under
all weathers
With
a sweaty head
She
ejaculates screaming and smashes the front windows with chains
She
occupies the means of production
She
blows up private property
She
is a Sunday visit in prison
Same
step in the yard revolutionaries and penal prisoners
She
is sold and bought minute by minute, breath by breath
In
the slave markets of the earth – Kotzia is near here [5]
Wake
up early.
Wake
up to see it.
She
is a whore in the rotten-houses
The
German drill for conscripts
And
the last
Endless
miles of the national highway towards the centre
In
the suspended meats from Bulgaria.
And
when her blood clots and she can take no more
Of
her kind being sold so cheaply
She
dances barefoot on the tables a zeibekiko [6]
Holding
in her bruised blue hands
A
well sharpened axe.
Loneliness,
Our
loneliness I say. Its our loneliness I am speaking about,
Is
a axe in our hands
That
over your heads is revolving revolving revolving revolving.
Notas:
[1]
Bimbo (gíria): garota pouco inteligente, super maquiada e obcecada por homens e
roupas. Em geral, ela é loura.
[1]
Cloudy (gíria): ligeiramente bêbado e apatetado.
[2]
Os paquistaneses foram os primeiros trabalhadores imigrantes da Grécia. Em 1970
eles organizaram uma das mais violentas greves do país, num tempo em que o
movimento pela autonomia dos trabalhadores estava em seu auge.
[3]
Lightshaft: Quando um semáforo só muda para verde quando uma certa quantidade
de carros enfileira-se a sua frente.
[4]
Bairros proletários de Atenas e Salônica.
[5]
Praça em que se situa a prefeitura de Atenas, onde os trabalhadores da
construção civil se reuniam antes do amanhecer, para ser levados para o
trabalho.
[6]
Dança grega.
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