quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Ingeborg Bachmann (Áustria: 1926 – Itália: 1973)



Uma Espécie de Perda

Compartilhados: estações do ano, livros, uma música.
As chaves, as chávenas de chá, a cesta de pão, lençóis de linho e uma cama.
Um dote de palavras, gestos, o que foi trazido, usado, consumido.
Uma casa com normas respeitadas. O dito. O feito. E sempre a mão estendida.
Apaixonei-me pelo inverno, por um septeto vienense e pelo verão.
Por um mapa, um ninho na montanha, uma praia, uma cama.
Um culto praticado com datas, promessas irrevogáveis declaradas,
idolatrei um não-sei-quê adorável e devotei-me a um nada,
(– o jornal dobrado, as cinzas frias, o bilhete com um recado),
sem os temores da religião, pois a igreja era esta cama.
Da vista para o lago foi-se a minha inexaurível pintura.
Do balcão cumprimentei as pessoas, meus vizinhos.
Defronte à lareira, em segurança, meu cabelo adquiria a sua cor mais profunda.
O toque da campainha da porta era o alarme para a minha alegria.
Não foi a ti que perdi,
mas ao mundo.


Eine Art Verlust


Gemeinsam benutzt: Jahreszeiten, Bücher und eine Musik.
Die Schlüssel, die Teeschalen, den Brotkorb, Leintücher und ein Bett.
Eine Aussteuer von Worten, von Gesten, mitgebracht, verwendet, verbraucht.
Eine Hausordnung beachtet. Gesagt. Getan. Und immer die Hand gereicht.
In Winter, in ein Wiener Septett und in Sommer habe ich mich verliebt.
In Landkarten, in ein Bergnest, in einen Strand und in ein Bett.
Einen Kult getrieben mit Daten, Versprechen für unkündbar erklärt,
angehimmelt ein Etwas und fromm gewesen vor einem Nichts,
(– der gefalteten Zeitung, der kalten Asche, dem Zettel mit einer Notiz)
furchtlos in der Religion, denn die Kirche war dieses Bett.
Aus dem Seeblick hervor ging meine unerschöpfliche Malerei.
Von dem Balkon herab waren die Völker, meine Nachbarn, zu grüßen.
Am Kaminfeuer, in der Sicherheit, hatte mein Haar seine äußerste Farbe.
Das Klingeln an der Tür war der Alarm für meine Freude.
Nicht dich habe ich verloren,
sondern die Welt.

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