terça-feira, 25 de agosto de 2020

Oscar Ferreiro (Paraguai: 1921 – 2004)

 

Fuga às três

 

Os carcereiros lá bebem

tranquilos seu tereré

e Humberto nervoso espera

sua liberdade às três.

No sórdido matadouro

de uma masmorra cruel

conta os gélidos barrotes

pela centésima vez.

Do cárcere de Assunção

não mais nem menos que às três

saía Humberto Garcete

por graça de um coronel.

– Não te fies nesses cães

pois eles te irão vender.

– É palavra de um amigo,

palavra de um coronel.

 

– Não te fies nesses cães

pois eles te irão vender.

– É palavra de um amigo,

palavra de um coronel.

– Não te fies companheiro,

que o pó te farão morder.

– É palavra de um soldado,

palavra de um coronel.

– Dize-lhes que não, Garcete,

pois eles te irão vender.

– De um soldado, de um amigo,

promessa de um coronel...

– A promessa de um esbirro

não vale nem num bordel!

 

Girou na torre o relógio,

soaram a uma e as duas;

mas teriam que soar

não mais nem menos que três.

Sangrenta roda de horror

a Catedral bateu duas;

mas teriam que soar

não mais nem menos que três.

Seca a meia hora soou,

dura e breve golpeou

de encontro à alta parede,

tão nervosa para as três.

O vento livre de Deus

quando soara o relógio

por fim iria beber

não mais nem menos que às três

 

– Carcereiro, tenho sede...

– Já em casa hás de beber.

(Com vil riso e de você

disfarça sua doblez).

 

– E esse que geme?

 

– É o trem.

 

– E lá fora há lua?

 

– Assim é.

 

– Ditosos os que a veem!

– Só um minuto e a verás...

(E sempre atento ao relógio

Humberto deu-lhe um sorriso).

– Sim sairá tudo bem...

– Alta lua do laurel,

bela estará tua tez!

(O sorriso do furriel

confirma por sua vez.)

– a cama vão te estender

com lençóis acetinados.

 

Sobre a bigorna da noite

Vulcano obscuro bateu

e nunca tão dura foi

aquela última hora.

À noite em suas gargantas

os grilos já martelavam

como teria de ser

não mais nem menos que três.

Três marteladas de morte

Vulcano obscuro bateu,

três golpes de morte,

três, nem mais nem menos que três.

  

Fuga a las tres

 

Los carceleros se beben

tranquilos su tereré

y Humberto nervioso espera

su libertad a las tres.

En el sucio moridero

de una mazmorra cruel

cuenta los fríos barrotes

por la centésima vez.

De la cárcel de Asunción

exactamente a las tres

saldría Humberto Garcete

por gracia de un coronel.

 

– No te fíes de esos perros

porque te van a vender.

– Es palabra de un amigo,

palabra de un coronel.

– No te fíes, compañero,

que el polvo te harán morder.

– Es palabra de un soldado,

palabra de un coronel.

– Deciles que no, Garcete,

porque te van a vender.

– De un soldado, de un amigo,

promesa de un coronel…

– ¡La promesa de un esbirro

no corre ni en un burdel!

 

Giró en la torre el reloj,

sonó la una, las dos;

pero tenía que ser

exactamente a las tres.

Sangrienta rueda de horror

la Catedral dio las dos;

pero tenía que ser

exactamente a las tres.

Seca la media sonó,

dura y escueta golpeó

contra la alta pared,

tan tensa para las tres.

El viento libre de Dios

cuando sonara el reloj

al fin saldría a beber

exactamente a las tres.

 

– Carcelero, tengo sed…

– Ya en su casa ha de beber.

(Con vil sonrisa y de usted

disimula su doblez).

 

–¿Y eso que gime?

 

– Es el tren.

 

– ¿Y afuera hay luna?

 

– Así es.

 

– ¡Dichosos los que la ven!

– Sólo un minuto y la ve…

(Y siempre atento al reloj

Humberto le sonrió).

– Si todo saldrá tan bien…

– Alta luna del laurel,

¡hermosa estará en su tez!

(La sonrisa del furriel

lo confirma a su vez).

– La cama le han de tender

con sábanas de satén…

 

Sobre el yunque de la noche

Vulcano oscuro golpeó

y nunca tan dura fue

aquella hora postrer.

A la noche en la garganta

los grillos le remachó,

como tenía que ser

exactamente a las tres.

Tres martillazos de muerte

Vulcano oscuro golpeó,

tres golpes de muerte,

tres, ni más ni menos que tres.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

  Argonautas   E se a alma deve conhecer-se a si mesma ela deve voltar os olhos para outra alma: * o estrangeiro e inimigo, vim...