sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Adela Zamudio (Bolívia: 1854 – 1928)

  

Quo vadis

 

Quo vadis

 

Sozinha, no amplo páramo do mundo,

Sozinha com a dor,

Em seu confim com estupor profundo

Olho alçar-se um celeste resplendor:

 

É Ele! Aparição deslumbradora

Doce e branca feição,

Que avança, com a destra protetora

Em conduta de paz e bendição.

 

Inclino ante Ele a face dolorida

Trêmula de ternura e de temor,

E exclamo com comovida inflexão:

– Aonde vais, Senhor?

 

– A Roma em que teus mártires souberam

Em horríveis suplícios perecer

É hoje o que seus césares quiseram:

Empório de elegância e de prazer.

 

Ali está Pedro. O pescador que um dia

Profetizou a pobreza e a humildade,

Coberto de faustosa pedraria

Ostenta seu poder e majestade.

 

Violento imitador dos pagãos,

O Santo Inquisidor

Em teu nome pôs fogo em seus irmãos...

– Aonde vais, Senhor?

 

Lá, nos teus templos onde o culto impera

No fundo o que existe? O lucro e a vaidade.

Quão poucos são os que com fé verdadeira

Adoram-te em espírito e verdade!

 

O mundo com teu sangue redimido,

Séculos depois de tua paixão,

Está mais infeliz, mais pervertido,

Mais que no tempo de Nero, pagão.

 

Defronte o altar da Deidade impura,

Órfã de um ideal, a juventude

Contrária ao amor da alma se conjura

Proclamando o prazer como virtude.

 

As antigas barbáries que subsistem,

Só alteram seus nomes com a idade;

A escravidão e o tormento ainda persistem

E é mentira grosseira a igualdade.

 

Sempre em luta oprimidos e opressores!

De um lado, quem riqueza e poder tem,

Do outro estão a miséria e seus horrores;

E toda iniquidade... Hoje como ontem.

 

Hoje como ontem os povos da terra

Se armam diante do assalto e a traição,

E alça triunfante o monstro da guerra

A bandeira de espanto e confusão.

 

Nos antros da perversão e do engano

Cego, fatal, o homem sente horror.

E perplexo, duvida de si mesmo...

– Aonde vais, Senhor?

  

Quo Vadis


Sola, en el ancho páramo del mundo,

Sola con mi dolor,

En su confín, con estupor profundo

Miro alzarse un celeste resplandor:

 

¡Es Él! Aparición deslumbradora

De blanca y dulce faz,

Que avanza, con la diestra protectora

En actitud de bendición y paz.

 

Inclino ante Él mi rostro dolorido

Temblando de ternura y de temor,

Y exclamo con acento conmovido:

– ¿A dónde vas, Señor?

 

– La Roma en que tus mártires supieron

En horribles suplicios perecer

Es hoy lo que los césares quisieron:

Emporio de elegancia y de placer.

 

Alli está Pedro. El pescador que un día

Predicó la pobreza y la humildad,

Cubierto de lujosa pedrería

Ostenta su poder y majestad.

 

Feroz imitador de los paganos,

El Santo Inquisidor

Ha quemado en tu nombre a sus hermanos...

¿A dónde vas, Señor?

 

Allá en tus templos donde el culto impera

¿Qué hay en el fondo? O lucro o vanidad.

¡Cuán pocos son los que con fe sincera

Te adoran en espíritu y verdad!

 

El mundo con tu sangre redimido,

Veinte siglos después de tu pasión,

Es hay más infeliz, más pervertido,

Más pagano que en el tiempo de Nerón.

 

Ante el altar de la Deidad impura,

Huérfana de ideal, la juventud

Contra el amor del alma se conjura

Proclamando el placer como virtud.

 

Las antiguas barbaries que subsisten,

Sólo cambian de nombre con la edad;

La esclavitud y aun el tormento existen

Y es mentira grosera la igualdad.

 

¡Siempre en la lucha oprimidos y opresores!

De un lado, la fortuna y el poder,

Del otro, la miseria y sus horrores;

Y todo iniquidad... Hoy como ayer.

 

Hoy como ayer, los pueblos de la tierra

Se arman para el asalto y la traición,

Y alza triunfante el monstruo de la guerra

Su bandera de espanto y confusión.

 

Ciega, fatal, la humanidad se abisma

En los antros del vicio y del error.

Y duda, horrorizada de sí misma...

– ¿A dónde vas, Señor?



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