segunda-feira, 10 de agosto de 2020

María Mercedes Carranza (Colômbia: 1945 – 2003)

 


 

A Pátria

  

Esta casa de espessas paredes coloniais

e um pátio de azaleias muito século XIX

há vários séculos vem abaixo.

Como se não fosse nada as pessoas vão e vêm

pelas casas em ruínas,

fazem amor, bailam, escrevem cartas.

Com frequência silvam balas ou talvez o vento

que silva através do teto destroçado.

Nesta casa os vivos dormem com os mortos,

imitam seus costumes, repetem seus gestos

e quando cantam, cantam seus fracassos.

 

Tudo é ruína nesta casa,

estão em ruínas o abraço e a música,

o destino, cada manhã, o riso são ruínas;

As janelas mostram paisagens destruídas,

carne e cinza se confundem nas casas,

nas bocas as palavras se revolvem com medo.

Nesta casa todos estamos enterrados vivos.

  

La Patria

  

Esta casa de espesas paredes coloniales

y un patio de azaleas muy decimonónico

hace varios siglos que se viene abajo.

Como si nada las personas van y vienen

por las habitaciones en ruina,

hacen el amor, bailan, escriben cartas.

 

A menudo silban balas o es tal vez el viento

que silba a través del techo desfondado.

En esta casa los vivos duermen con los muertos,

imitan sus costumbres, repiten sus gestos

y cuando cantan, cantan sus fracasos.

 

Todo es ruina en esta casa,

están en ruina el abrazo y la música,

el destino, cada mañana, la risa son ruina;

las lágrimas, el silencio, los sueños.

Las ventanas muestran paisajes destruidos,

carne y ceniza se confunden en las caras,

en las bocas las palabras se revuelven con miedo.

En esta casa todos estamos enterrados vivos.

 

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