terça-feira, 4 de agosto de 2020

Ali Chumacero (México: 1918 – 2010)


 

Espelho e água

 

Tua alma em mim deixou sua fria imagem,

apenas lembrança do que vivias,

e se ao espelho olho e me reflito

ali encontro teus olhos, teu silêncio de cera

com um repouso de desanimado alento,

como se caindo areias

ou um tropel de lembranças

sobre minha pele, com sossegado passo

rumo ao cristal caíram.

Não caem folhas como frases mortas,

e meus olhos em ti não foram rosas

afogadas em teu aroma?

Se a água olhas, olhas

meu coração ornado de sepulcros

sob as ondas que o movem,

crescido entre as ruínas de teu nome,

entre perder-se na morte ou florescer

como uma eterna espera ou o lamento

de um Adão impassível que sonhava

contigo e teu enganoso Paraíso.

Porque ao olhar-te contra a água, olhas

meu pensamento em tua alma suspenso.

  

Espejo y agua

 

Tu alma en mí dejó su fría imagen,

sólo recuerdo de lo que vivías,

y si al espejo miro y me reflejo

allí encuentro tus ojos, tu silencio de cera

con un reposo de apagado aliento,

como si descendiendo arenas

o un tropel de recuerdos

sobre mi piel, con sosegado paso

hacia el cristal cayeran.

¿No caen hojas como frases muertas,

y mis ojos en ti no fueron rosas

ahogadas en tu aroma?

Si al agua miras, mira

mi corazón ornado de sepulcros

bajo las olas que lo mueven,

crecido entre las ruinas de tu nombre,

entre perderse en muerte o florecer

como una eterna espera o el lamento

de un Adán impasible que soñaba

contigo y tu mentido Paraíso.

Porque al mirarte contra el agua, miras

mi pensamiento en tu alma suspendido.


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