quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Ileana Espinel Cedeño (Equador: 1933 – 2001)

 

Quero-te

  

Quero-te porque tens tudo o que não tenho:

um sorriso vago que amanhece em teu rosto

como o orvalho brando,

a atitude frágil, lânguida como meu tédio,

o coração vestido, submergido o sangue

e a alma verde.

Uma vida para viver, outra para rir

e outra para morrer,

o método e a ordem

rimando com o deserto de tuas razões,

a alegria no canto, o ronco na noite

e por demais, de dia.

 

Eu que rio de angústia e de prazer soluço,

que conheço a estranha plenitude das horas,

que morro a cada instante e, sem morrer, elevo

meu sangue alucinado ao zênite do desejo,

que poetizo – sem ver minha coroa de ossos –

com um mar no percurso e um punhal nas asas,

quero-te porque tenho tudo o que não tens.

 

 Te quiero

  

Te quiero porque tienes todo lo que no tengo:

una vaga sonrisa que amanece en tu frente

como el rocío leve,

la actitud débil, lánguida como mi tedio,

el corazón vestido, sumergida la sangre

y el alma verde.

Una vida para vivir, otra para reír

y otra para morir,

el método y el orden

rimando con el yermo de tus razones,

la alegría en el canto, el ronquido en la noche

y lo demás, de día…

 

Yo que río de angustia y de placer sollozo,

que conozco la extraña plenitud de las horas,

que muero a cada instante y, sin morir, elevo

mi sangre alucinada al cenit del deseo,

que poetizo – sin ver mi corona de huesos –

con un mar en la ruta y un puñal en las alas,

te quiero porque tengo todo lo que no tienes.

 

 

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