sábado, 15 de fevereiro de 2020

Simón Zavala Guzmán (Equador: 1943 – )



  
Recordação


Foi em seus seios pequenos e
delicados
que minhas palavras aprenderam
a cavilar sobre brasas
quando era tenra ainda
e tímida
e não amada
e eu era um sexo ávido
percorrendo-a até enlouquecê-la
e um impudico beijo
esculpindo-a
e um obsceno desejo derramando-me
em seus cabelos
em suas axilas recém perfumadas
em suas coxas de damasco
que se elevavam sem compreender
que estavam possuídas
por pássaros incansáveis
no domo de seu sexo frágil
que em minha língua
se iluminava como um astro.

Distantes estão as mãos que
souberam
tantas vezes
das formas visíveis de seu
corpo
de seus últimos estertores
que eram sempre um bater de asas
querendo partir.
Distantes estão
porque essas mãos já foram
de outros ventres
e não existem.
Apenas sobra o olho
atrás do pestilo
descobrindo
os voos indescritíveis que
brotavam de seus seios
livres e desafiantes
de sua carne beijada como uma flor
de minhas sílabas calcinadas por seus
mamilos
tíbios e intumescidos.

Em seus seios púberes
minha voz aprendeu a ser desejo
e semente
vinho
e poesia


Recordatorio


Fue en sus senos pequeños y
delicados
que mis palabras aprendieron
a cavilar sobre brasas
cuando era tierna todavía
y tímida
y no amada
y yo era un sexo ávido
transitándola hasta enloquecerla
y un impúdico beso
esculpiéndola
y un obsceno deseo derramándome
en sus cabellos
en sus axilas recién perfumadas
en sus muslos de albaricoque
que se elevaban sin comprender
que estaban poseídos
por pájaros incansables
en la bóveda de su sexo frágil
que en mi lengua
se iluminaba como un astro.
Distantes están las manos que
supieron
tantas veces
de las formas visibles de su
cuerpo
de sus íntimos estertores
que eran siempre un batir de alas
queriendo partir.
Distantes están
porque esas manos ya han sido
de otros úteros
y no existen.
Sólo queda el ojo
tras el pestillo
descubriendo
los vuelos indescriptibles que
brotaban de sus senos
libres y desafiantes
de su carne besada como una flor
de mis sílabas calcinadas por sus
pezones
tibios y enlechados.
En sus senos púberes
mi voz aprendió a ser deseo
y semilla
vino
y poesía.



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Karina Gálvez (Equador: 1964 – )





Cascatas de lembranças


Flutuando em minha memória, ainda se agita aquela lembrança
De quando fazias cascatas de vinho em meus seios.
Daquela flauta doce que cortava o silêncio,
Quando o mesmo Zamfir celebrava nossos beijos. [1]

Recordo teu olhar encalhado no meu,
Jogando o jogo eterno de amar-nos pela vida.
Ainda bailo entre teus braços, de olhos abertos,
Flutuando em nosso espaço, nossa dança em silêncio.

Pequenina em tuas mãos, mansa como uma gatinha,
Ronronando em teu colo, repousando contigo.
O passar dos dias não conseguiu apagar-te
Desta vivência minha que tem sido o adorar-te.

Poderão passar cem anos e ainda seguirei sentindo
Que foi hoje pela manhã que me comeste aos beijos.
Intensa, amor, que intensa, esta vida contigo;
Nosso lar tem tua essência fundida em seus tijolos.

És tu meu passado, meu presente e meu futuro.
Embora estejas ou não, meu corpo é apenas teu.
Tua é também minha alma, tua também minha vida,
Tuas serão minhas lágrimas, teu é sempre meu riso.

Flutuando em minha memória, ainda vibra esse poema
Do declínio do sol que amornava o oceano,
Ainda vibram os vulcões que visitamos juntos,
E aqueles mananciais que banham nosso mundo.

Flutuando em minha memória, sempre tu me acompanhas,
Teu amor é a cascata com a qual tu me banhas.
Flutuando em minha memória, minhas horas tornam-se versos
Que fluem qual cascatas, dizendo-te “Te Amo”.


Cascadas de Recuerdos 


Flotando en mi memoria, aun vibra aquel recuerdo
De cuando hacías cascadas de vino con mis senos.
De aquella flauta dulce que cortaba el silencio,
Cuando el mismo Zamfir laudaba nuestros besos.

Recuerdo tu mirada encallada en la mía,
Jugando al juego eterno de amarnos con la vida.
Aún bailo entre tus brazos, con los ojos abiertos,
Flotando en nuestro espacio, nuestra danza en silencio.

Chiquitita en tus manos, mansa como un minino,
Ronroneando en tu cuello, reposando contigo.
El paso de los días no ha logrado borrarte
De esta vivencia mía que ha sido el adorarte.

Podrá pasar cien años y aun seguiré sintiendo
Que fue hoy por la mañana que me comiste a besos.
Intensa, amor, qué intensa, esta vida contigo;
Nuestro hogar tiene tu esencia fundida en sus ladrillos. 

Eres tú mi pasado, mi presente y mi futuro.
Aunque estés o no estés, mi cuerpo es sólo tuyo.
Tuya es también mi alma, tuya también mi vida,
Tuyas serán mis lágrimas, tuya es siempre mi risa.

Flotando en mi memoria, aun vibra ese poema
De la caída de sol que entibiaba al océano,
Aun vibran los volcanes que visitamos juntos,
Y aquellos manantiales que bañan nuestro mundo. 

Flotando en mi memoria, siempre tú me acompañas,
Tu amor es la cascada con la que tú me bañas.
Flotando en mi memoria, mis horas se hacen versos
Que fluyen cual cascadas, diciéndote “Te Quiero”.



[1] Gheorghe Zamfir, músico romeno.



quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Eduardo Mitre (Bolívia: 1943 –)




Com a língua

Desejo escrever uma loa
em honra ao teu sexo:
ninho oculto entre a folhagem
e os cerros de teu corpo.

Abro o dicionário
da língua espanhola.
Suavemente meus dedos
separam suas sábias folhas.

Leio e releio e, após uma pausa,
transcrevo ao pé da letra:
Adufa: prancha, comporta
para cortar o fluxo da água.

Corola: segundo verticilo
das flores completas...
Brasa: carbono em chamas,
rubro pela total incandescência...
Salto, faiscante, à letra esse: [1]
Saguão: espaço coberto
situado dentro de uma casa,
e que a ela serve de entrada...


Con la lengua


Deseo escribir una loa
en honor de tu sexo:
Nido oculto entre la fronda
y las lomas de tu cuerpo.

Abro el Diccionario
de la Lengua Española.
Suavemente mis dedos
separan sus sabias hojas.

Leo, releo y, tras una pausa,
transcribo al pie de la letra:
Adufa: plancha, compuerta
para cortar el paso del agua.

Corola: segundo verticilo
de las flores completas...
Brasa: carbón encendido,
rojo por la total incandescencia...

Salto, chispeante, a la zeta:
Zaguán: espacio cubierto
situado dentro de una casa,
y que sirve de entrada a ella...

 [1] no original, letra zê.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Eduardo Mitre (Bolívia: 1943 –)




Ao pé da letra

A mulher que de repente
aparece na esquina
como a passante de Baudelaire.
Seus olhos de noite do Líbano,
brilhantes como a pele
das tâmaras,
enigmáticos como as linhas
que traça o destino
nas folhas de coca.
Seu corpo esbelto,
seu talhe fino,
seu andar de palmeira à brisa,
seus cabelos que ao ar
açoitam e perfumam,
suas longas pernas
pressentidas sob a saia rubra,
seus seios como duas ondas
que quebram
a ponto de se perderem no mar.

E o mantel que prolonga a neve
sobre a mesa do bar
sob o olhar que lê
o que ao azar a realidade inventa.

E o poema que diz
ao pé da letra.


Al pie de la letra


a Guillermo Sucre

La mujer que de pronto
aparece en la esquina
como la pasante de Baudelaire.
Sus ojos de noche del Líbano,
brillosos como la piel
de los dátiles,
enigmáticos como las líneas
que traza el destino
en las hojas de coca.
Su cuerpo esbelto,
su talle fino,
su andar de palmera con brisa,
su cabellera que al aire
latiga y aroma,
sus largas piernas
presentidas bajo la falda roja,
sus senos como dos olas
rompientes
a punto de perderse en el mar.

Y el mantel que prolonga a la nieve
sobre la mesa del bar
bajo la mirada que lee
lo que al azar la realidad inventa.

Y el poema que dice
al pie de la letra.


terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Antonio José de Sainz (Bolívia: 1894 –1959)



Prólogo


O extraordinário,
com sua repetição,
acaba por converter-se também em rotina.
O que está distante,
pela própria inércia do tempo,
se desfigura como um sonho,
como a visão de um pressentimento,
como o improvável.

Apenas permanecem as palavras,
seus lampejos,
cada vez mais reduzidos e débeis.
Aquele quarto,
o sol sobre os pátios
atravessando com seu ouro as cortininhas,
os estímulos casuais,
já sem interesse, sem densidade real,
só podem ser apenas motivos literários,
impressões obscuras,
idênticas às palavras de agora,
símbolos,
palavras.

Contempla às vezes o vale,
as montanhas,
volta, alguns minutos ociosos,
a folhear as páginas do caderno.
Só desejaria a rotina,
submergir o que acontece,
o que há de acontecer,
na disposição idêntica dos dias,
cada objeto, cada ação
encaixados em seu lugar,
em seu momento irrevogável.
E escrever ou deixar de fazê-lo
também terá seu acomodamento.

Contempla a luz pálida do céu no verão daqui.
Às vezes olha o que há dentro
e ainda o surpreende
a confusão desnudada de sua consciência,
escorregadia,
de ser por sua vez tantos e nenhum.
Nada acata a vontade
dos símbolos.
E, no fundo,
tudo fica de fora, do outro lado,
no fim do poema


Prólogo


Lo extraordinario,
con su repetición,
acaba también por convertirse en rutina.
Lo distante,
por la propia inercia del tiempo,
se desfigura como un sueño,
como la visión de un presentimiento,
como lo improbable.

Sólo quedan las palabras,
sus destellos,
cada vez más menguados y débiles.
Aquel cuarto,
el sol sobre los patios
atravesando su oro los visillos,
los estímulos casuales,
ya sin interés, sin densidad real,
sólo pueden ser ya motivos literarios,
huellas oscuras,
idénticas a las de ahora,
símbolos,
palabras.

Contempla a veces el valle,
las montañas,
vuelve, algunos minutos ociosos,
a hojear las páginas del cuaderno.
Sólo desearía la rutina,
sumergir lo que suceda,
lo que ha de suceder,
en la disposición idéntica de los días,
cada objeto, cada acción
encajados en su lugar,
en su momento irrevocable.
Y escribir o dejar de hacerlo
tendrá también su acomodo.

Contempla la luz pálida del cielo en el verano de aquí.
A veces mira hacia adentro
y aún le sorprende
la confusión anudada a su conciencia,
resbaladiza,
de ser a la vez tantos y ninguno.
Nada acata la voluntad
de los símbolos.
Y, en el fondo,
todo queda afuera, al otro lado,
al final del poema.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

María Josefa Mujia (Bolívia: 1812 – 1888)



O amor


Ídolo falso que o mortal adora
E que insensato te erige um altar,
Por quem o homem sua miséria chora,
De quem só recebe um triste pesar.

Não entoa teus triunfos menino cego;
Não ferir-me pode teu horrível arpão;
De tuas setas, de teu ardente fogo,
Conservo ileso e livre o coração.

Nunca manche as cordas de minha lira
Derramando nelas o pranto e a dor
De erros mil que tua deidade espira,
Com que penas sem fim causas, traidor.

Meu puro lábio em tua taça ímpia
Jamais sente o empeçonhado mel,
Que ao brindar vertes com sagaz falsia
Morte, veneno e amargura e fel.

Nunca meu ouvido inclinou-se à tua fala;
Sempre a tua lisonja achei falaz.
Minha alma pura não perdeu uma só hora
Da doce calma e da tranquila paz.

Nunca cantar, algoz, tua vitória
Nem tributar-te vil adoração
É meu laurel, orgulho, êxito e glória
E o mais grato prazer do coração.

Se minha face em pranto se umedece
E se no coração trago amargor,
Se em minha angústia, o sofrimento cresce,
Não é do acre de tua taça, amor.

Não te conheço, e disto me glorio!
Teu nome odioso escuto com horror,
E, ao ver que causas males mil, ímpio,
Disse-te meu lábio: Maldição, amor!

Sei que interesse te vence, abate, humilha;
Sei que os céus te dão grande temor;
Sei que o mortal frente a ti se ajoelha.
Eu te menosprezo e te xingo, amor!


El amor


Ídolo falso que el mortal adora
Y que insensato te erigió un altar,
Por quien el hombre su miseria llora,
De quien recibe solo un gran pesar.

Jamás cante tus triunfos, niño ciego;
No herirme pudo tu terrible arpón;
De tus saetas, de tu ardiente fuego,
Conservo ileso y libre el corazón.

Nunca manche las cuerdas de mi lira
Regando en ellas llanto de dolor
De engaños mil que tu deidad respira,
Con que penas sin fin causas traidor.

Mi puro labio de tu copa impía
Jamás gusto la emponzoñada miel,
Que al brindar viertes con sagaz falsía
Muerte, veneno y amargura y hiel.

Nunca mi oído se inclinó a tu acento;
Siempre tu halago lo creí falaz.
Mi alma inocente no perdió un momento
Su dulce calma, su tranquila paz.

Nunca cantar, tirano, tu victoria
Ni tributarte vil adoración
Es mi laurel, mi orgullo, dicha y gloria
Y el mas grato placer del corazón.

Si mi mejilla en llanto se humedece
Y si en el corazón hay amargor,
Si en el la angustia, la dolencia crece,
No es del acíbar de tu copa, amor.

No te conozco, y de esto me glorío!
Tu nombre odioso escucho con horror,
Y, al ver que causas males mil, impío,
Te dice el labio: ¡Maldición, amor!

Se que interés te vence, abate, humilla;
Se que los celos te dan gran temor;
Se que el mortal te inclina la rodilla.
Yo te desprecio y te maldigo, amor!


Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

  Argonautas   E se a alma deve conhecer-se a si mesma ela deve voltar os olhos para outra alma: * o estrangeiro e inimigo, vim...