sábado, 3 de abril de 2021

Anne Sexton (EUA: 1928 – 1974)

 

Do livro “Poemas de amor”

 

I / XXV – O toque

 

Por meses minha mão esteve confinada

em uma caixa de metal. Lá havia apenas trilhos de metrô.

Talvez ela esteja ferida, pensei,

e é por isso que a encarceraram.

Mas quando a olho ela está lá, quieta.

Poder-se-ia dizer a hora por ela, pensei,

como um relógio, por seus cinco nós

e o fino subterrâneo das veias.

Lá está ela, como uma mulher inconsciente

alimentada por tubos dos quais não sabe nada.

 

A mão desabara,

um pequeno pombo de madeira

posto em isolamento.

Virei-a e a palma estava envelhecida,

suas linhas traçadas como finos pontos de agulha

costurados nos dedos.

Era gorda e suave e cega em alguns lugares.

Nada além de vulnerável.

 

E tudo isso é metáfora.

Uma mão banal – apenas solitária

em busca de algo em que tocar

e que a toque de volta.

O cachorro não fará isso.

Seu rabo abana no brejo por uma rã.

Não sou melhor que uma caixa de ração.

Ela possui sua própria fome.

Minhas irmãs não farão isso.

Elas moram na escola, exceto pelos botões

e as lágrimas escorrendo como limonada.

Meu pai não fará isso.

Ele vem com a casa e mesmo à noite

vive em uma máquina feita por minha mãe

e bem lubrificada por seu trabalho, seu trabalho.

O problema é

que eu deixaria meus gestos congelarem.

O problema não estava

na cozinha ou nas tulipas

mas apenas em minha cabeça, minha cabeça.

 

Então tudo isso se transformou em história.

Sua mão encontrou a minha.

A vida corre para meus dedos como um coágulo de sangue.

Oh, meu carpinteiro,

os dedos são reconstruídos.

Eles dançam com os seus,

Eles dançam no sótão e em Viena.

Minha mão está viva em toda parte do país.

Nem mesmo a morte a parará,

a morte tirando seu sangue.

Nada a parará, pois este é o reino

e o reino chegou.

 

 

 

I / XXV – The Touch

 

For months my hand had been sealed off

in a tin box. Nothing was there but subway railings.

Perhaps it is bruised, I thought,

and that is why they have locked it up.

But when I looked in it lay there quietly.

You could tell time by this, I thought,

like a clock, by its five knuckles

and the thin underground veins.

It lay there like an unconscious woman

fed by tubes she knew not of.

 

The hand had collapsed,

a small wood pigeon

that had gone into seclusion.

I turned it over and the palm was old,

its lines traced like fine needlepoint

and stitched up into the fingers.

It was fat and soft and blind in places.

Nothing but vulnerable.

 

And all this is metaphor.

An ordinary hand — just lonely

for something to touch

that touches back.

The dog won't do it.

Her tail wags in the swamp for a frog.

I'm no better than a case of dog food.

She owns her own hunger.

My sisters won't do it.

 

They live in school except for buttons

and tears running down like lemonade.

My father won't do it.

He comes with the house and even at night

he lives in a machine made by my mother

and well oiled by his job, his job.

The trouble is

that I'd let my gestures freeze.

The trouble was not

in the kitchen or the tulips

but only in my head, my head.

 

Then all this became history.

Your hand found mine.

Life rushed to my fingers like a blood clot.

Oh, my carpenter,

the fingers are rebuilt.

They dance with yours.

They dance in the attic and in Vienna.

My hand is alive all over America.

Not even death will stop it,

death shedding her blood.

Nothing will stop it, for this is the kingdom

and the kingdom come.

 

sábado, 6 de março de 2021

Pablo Neruda (Chile: 1904 – 1973)

De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”

 

A canção desesperada

 

Emerge tua lembrança da noite em que estou.

O rio junta ao mar o seu lamento obstinado.

 

Abandonado como os cais na alvorada.

É hora de partir, oh abandonado!

 

Sobre o meu coração chovem frias corolas.

Oh porão de escombros, feroz furna de náufragos! [*]

Em ti se acumularam as guerras e os voos.

 

De ti alçaram asas os pássaros do canto.

A tudo tragaste, como a distância.

Como o mar, como o tempo. Tudo em ti foi naufrágio!

 

Era a alegre hora do assalto e do beijo.

A hora do assombro que ardia como um farol.

 

Ansiedade de piloto, fúria de mergulhador cego,

turva embriaguez de amor, tudo em ti foi naufrágio!

 

Na infância de névoa, minha alma alada e ferida.

Descobridor perdido, tudo em ti foi naufrágio!

 

Tu enlaçaste a dor, te agarraste ao desejo.

Derrubou-te a tristeza, tudo em ti foi naufrágio!

 

Fiz recuar a muralha de sombra.

Andei até mais além do desejo e do ato.

 

Oh carne, carne minha, mulher que amei e perdi,

a ti nesta hora úmida, evoco e entoo cantos.

 

Como um copo albergaste a infinita ternura,

e o infinito esquecimento triturou-te como a um copo.

 

Era a negra, a negra solidão das ilhas,

e ali, mulher de amor, me acolheram teus braços.

 

Era a sede e a fome, e tu foste a fruta.

Era a dor e as ruínas, e tu foste o milagre.

 

Ah mulher, não sei como pudeste abrigar-me

na terra de tua alma, e na cruz de teus braços!

 

Meu desejo de ti foi o mais terrível e breve,

o mais tumultuoso e ébrio, o mais tenso e ávido.

 

Cemitério de beijos, ainda há fogo em tuas tumbas,

ainda os cachos ardem, bicados pelos pássaros.

 

Oh a boca mordida, oh os beijados membros,

oh os famintos dentes, oh os corpos entrelaçados.

 

Oh a cópula louca de esperança e esforço

em que nos unimos e nos desesperamos.

 

E a ternura, leve como a água e a farinha.

E a palavra mal começada nos lábios.

 

Esse foi meu destino e nele viajou meu anseio,

e nele caiu meu anseio, tudo em ti foi naufrágio!

 

Oh porão de escombros, em ti tudo caía,

que dor não exprimiste, que ondas não te afogaram.

 

De tombo em tombo ainda chamejaste e cantaste

de pé como um marinheiro na proa de um navio.

 

Ainda floresceste em cantos, ainda brotaste em correntes.

Oh porão de escombros, poço aberto e amargo.

 

Pálido mergulhador cego, desventurado fundeiro.

 

O cinturão ruidoso do mar cinge a costa.

Surgem frias estrelas, migram negros pássaros.

 

Abandonado como os cais na alvorada.

Apenas a sombra trêmula se retorce em minhas mãos.

Ah até mais além de tudo. Ah até mais além de tudo.

 

É hora de partir. Oh abandonado.

 

La canción desesperada

 

Emerge tu recuerdo de la noche en que estoy.

El río anuda al mar su lamento obstinado.

 

Abandonado como los muelles en el alba.

Es la hora de partir, oh abandonado!

 

Sobre mi corazón llueven frías corolas.

Oh sentina de escombros, feroz cueva de náufragos!

En ti se acumularon las guerras y los vuelos.

 

De ti alzaron las alas los pájaros del canto.

Todo te lo tragaste, como la lejanía.

Como el mar, como el tiempo. Todo en ti fue naufragio!

 

Era la alegre hora del asalto y el beso.

La hora del estupor que ardía como un faro.

 

Ansiedad de piloto, furia de buzo ciego,

turbia embriaguez de amor, todo en ti fue naufragio!

 

En la infancia de niebla mi alma alada y herida.

Descubridor perdido, todo en ti fue naufragio!

 

Te ceñiste al dolor, te agarraste al deseo.

Te tumbó la tristeza, todo en ti fue naufragio!

 

Hice retroceder la muralla de sombra.

anduve más allá del deseo y del acto.

 

Oh carne, carne mía, mujer que amé y perdí,

a ti en esta hora húmeda, evoco y hago canto.

 

Como un vaso albergaste la infinita ternura,

y el infinito olvido te trizó como a un vaso.

 

Era la negra, negra soledad de las islas,

y allí, mujer de amor, me acogieron tus brazos.

 

Era la sed y el hambre, y tú fuiste la fruta.

Era el duelo y las ruinas, y tú fuiste el milagro.

 

Ah mujer, no sé cómo pudiste contenerme

en la tierra de tu alma, y en la cruz de tus brazos!

 

Mi deseo de ti fue el más terrible y corto,

el más revuelto y ebrio, el más tirante y ávido.

 

Cementerio de besos, aún hay fuego en tus tumbas,

aún los racimos arden picoteados de pájaros.

 

Oh la boca mordida, oh los besados miembros,

oh los hambrientos dientes, oh los cuerpos trenzados.

 

Oh la cópula loca de esperanza y esfuerzo

en que nos anudamos y nos desesperamos.

 

Y la ternura, leve como el agua y la harina.

Y la palabra apenas comenzada en los labios.

 

Ese fue mi destino y en él viajó mi anhelo,

y en el cayó mi anhelo, todo en ti fue naufragio!

 

Oh sentina de escombros, en ti todo caía,

qué dolor no exprimiste, qué olas no te ahogaron.

 

De tumbo en tumbo aún llameaste y cantaste

de pie como un marino en la proa de un barco.

 

Aún floreciste en cantos, aún rompiste en corrientes.

Oh sentina de escombros, pozo abierto y amargo.

 

Pálido buzo ciego, desventurado hondero,

descubridor perdido, todo en ti fue naufragio!

 

Es la hora de partir, la dura y fría hora

que la noche sujeta a todo horario.

 

El cinturón ruidoso del mar ciñe la costa.

Surgen frías estrellas, emigran negros pájaros.

 

Abandonado como los muelles en el alba.

Sólo la sombra trémula se retuerce en mis manos.

Ah más allá de todo. Ah más allá de todo.

 

Es la hora de partir. Oh abandonado.

 


[*] A palavra Sentina, que traduzi por “porão”, é empregada por Neruda, suponho eu e creio que acertadamente, com a acepção de “porão das galés”, mais uma de suas tantas metáforas marinhas presentes neste poema e em tantos outros do autor.

sexta-feira, 5 de março de 2021

Pablo Neruda (Chile: 1904 – 1973)

De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”

 

Poema XX / XXI

 

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: “A noite está estrelada,

e cintilam, azuis, os astros, a distância”.

 

O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

 

Eu a quis, e às vezes ela também me quis.

 

Em noites como esta a tive entre meus braços.

Beijei-a por tantas vezes sob o céu infinito.

 

Ela me quis, às vezes eu também a queria.

Como não haver amado seus vastos olhos fixos.

 

Posso escrever os versos mais tristes esta noite

Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.

 

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.

E o verso cai à alma como ao pasto o orvalho.

 

Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la.

A noite está estrelada e ela não está comigo.

 

Isso é tudo. A distância alguém canta. A distância.

Minha alma não se reconcilia com havê-la perdido.

 

Como para aproximar-me meu olhar a busca.

Meu coração a busca, e ela não está comigo.

 

A mesma noite que faz embranquecer as mesmas árvores.

Nós, os de então, já não somos os mesmos.

 

Já não a quero, é certo, porém quanto a quis.

Minha voz buscava o vento para tocar seu ouvido.

 

De outro. Será de outro. Como antes de meus beijos.

Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.

 

Já não a quero, é certo, porém talvez a queira.

É tão breve o amor, e é tão longo o esquecimento.

 

Porque em noites como esta a tive entre meus braços,

minha alma não se reconcilia com havê-la perdido.

 

Ainda que esta seja a última dor que  ela me causa,

e estes sejam os últimos versos que eu escrevo.

 

Poema XX / XXI

 

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Escribir, por ejemplo: "La noche esta estrellada,

y tiritan, azules, los astros, a lo lejos".

 

El viento de la noche gira en el cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

 

Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

 

En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.

La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

 

Ella me quiso, a veces yo también la quería.

Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.

 

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

 

Oír la noche inmensa, más inmensa sin ella.

Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.

 

Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.

La noche está estrellada y ella no está conmigo.

 

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.

Mi alma no se contenta con haberla perdido.

 

Como para acercarla mi mirada la busca.

Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

 

La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.

Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

 

Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.

Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

 

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.

Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

 

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.

Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.

 

Porque en noches como esta la tuve entre mis brazos,

mi alma no se contenta con haberla perdido.

 

Aunque éste sea el último dolor que ella me causa,

y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.

 

quinta-feira, 4 de março de 2021

Pablo Neruda (Chile: 1904 – 1973)

De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”

 

Poema XIX / XXI

 

Menina morena e ágil, o sol que faz as frutas,

o que endurece os trigos, e o que retorce as algas,

fez teu corpo alegre, teus luminosos olhos

e tua boca que possui o sorriso da água.

 

Um sol negro e ansioso se enrola nos fios

da negra cabeleira, quando estiras os braços.

Tu brincas com o sol como com um arroio

e ele deixa em teus olhos dois escuros remansos.

 

Menina morena e ágil, em ti nada me aproxima.

em ti tudo me afasta, como do meio-dia.

És a delirante juventude da abelha,

a embriaguez da onda, a força da espiga.

 

Meu coração sombrio ainda assim te busca,

e amo teu corpo alegre, tua voz solta e delicada.

Borboleta morena doce e definitiva,

como um trigal e o sol, a papoula e a água.

 

 

Poema XIX / XXI

 

Niña morena y ágil, el sol que hace las frutas,

el que cuaja los trigos, el que tuerce las algas,

hizo tu cuerpo alegre, tus luminosos ojos

y tu boca que tiene la sonrisa del agua.

 

Un sol negro y ansioso se te arrolla en las hebras

de la negra melena, cuando estiras los brazos.

Tú juegas con el sol como con un estero

y él te deja en los ojos dos oscuros remansos.

 

Niña morena y ágil, nada hacia ti me acerca.

Todo de ti me aleja, como del mediodía.

Eres la delirante juventud de la abeja,

la embriaguez de la ola, la fuerza de la espiga.

 

Mi corazón sombrío te busca, sin embargo,

y amo tu cuerpo alegre, tu voz suelta y delgada.

Mariposa morena dulce y definitiva,

como el trigal y el sol, la amapola y el agua.

quarta-feira, 3 de março de 2021

Pablo Neruda (Chile: 1904 – 1973)

De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”

 

Poema XVIII - Aqui te amo.

 

Nos escuros pinheiros se desenreda o vento.

Fosforesce a lua sobre as águas errantes.

Correm dias iguais se perseguindo.

Desata-se a névoa em dançantes figuras.

Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.

Às vezes uma vela. Altas, altas estrelas.

Ou a verga negra de um barco.

Só.

Às vezes amanheço, e até minha alma está úmida.

Soa, ressoa o mar distante.

Este é um porto.

Aqui te amo.

Aqui te amo e em vão te oculta o horizonte.

Estou te amando mesmo entre estas frias coisas.

Às vezes vão meus beijos nesses barcos graves,

que correm pelo mar até onde não chegam.

Já me vejo esquecido como estas velhas âncoras.

São mais tristes os molhes quando atraca a tarde.

Fatiga-se minha vida inutilmente faminta

Amo o que não tenho. Estás tu tão distante.

Meu fastio porfia com os lentos crepúsculos.

Mas a noite chega e começa a cantar para mim.

A lua faz girar sua roda de sonho.

Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.

E como eu te amo, os pinheiros, ao vento, querem cantar teu nome com suas folhas de arame.

 

 

Aqui te amo – Poema XVIII

 

En los oscuros pinos se desenreda el viento.

Fosforece la luna sobre las aguas errantes.

Andan días iguales persiguiéndose.

Se desciñe la niebla en danzantes figuras.

Una gaviota de plata se descuelga del ocaso.

A veces una vela. Altas, altas estrellas.

O la cruz negra de un barco.

Solo.

A veces amanezco, y hasta mi alma está húmeda.

Suena, resuena el mar lejano.

Este es un puerto.

Aquí te amo.

Aquí te amo y en vano te oculta el horizonte.

Te estoy amando aún entre estas frías cosas.

A veces van mis besos en esos barcos graves,

que corren por el mar hacia donde no llegan.

Ya me veo olvidado como estas viejas anclas.

Son más tristes los muelles cuando atraca la tarde.

Se fatiga mi vida inútilmente hambrienta.

Amo lo que no tengo. Estás tú tan distante.

Mi hastío forcejea con los lentos crepúsculos.

Pero la noche llega y comienza a cantarme.

La luna hace girar su rodaje de sueño.

Me miran con tus ojos las estrellas más grandes.

Y como yo te amo, los pinos en el viento, quieren cantar tu nombre con sus hojas de alambre.

 

 

 

 

Pablo Neruda (Chile: 1904 – 1973)


De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”

 

Poema XVII / XXI

 

Pensando, entretecendo sombras na profunda solidão,

Tu também estás distante, ah mais distante que ninguém, sepultando lâmpadas.

Campanário de brumas, quão distante, lá no alto!

Afogando lamentos, moendo esperanças sombrias, moleira taciturna,

vem de bruços a noite, distante da cidade.

 

Tua presença é alheia, é-me estranha como uma coisa.

Penso, caminho longamente, por minha vida antes de ti.

Minha vida antes de ninguém, minha áspera vida.

O grito em frente ao mar, por entre as pedras

correndo livre, louco, no eflúvio do mar.

A fúria triste, o grito, a solidão do mar.

Desbocado, violento, estendido até o céu.

 

Tu, mulher, o que eras ali, que arraia, que varinha

desse leque imenso? Estavas distante como agora.

Incêndio no bosque! Arde em cruzes azuis.

Arde, arde, chameja, faíscas em árvores de luz.

Precipita-se, crepita. Incêndio. Incêndio.

E minha alma baila ferida por fagulhas de fogo.

Quem chama? Que silêncio povoado de ecos?

Hora da nostalgia, hora da alegria, hora da solidão,

hora minha entre todas!

Concha pela qual o vento passa cantando.

Tanta paixão de pranto desnudada em meu corpo.

 

Desapossada de todas as raízes,

assalto de todas as ondas!

Girava, alegre, triste, interminável, minha alma.

 

Pensando, sepultando lâmpadas na profunda solidão.

Quem és tu, quem és?

 

 

Poema XVII / XXI

 

Pensando, enredando sombras en la profunda soledad.

Tú también estás lejos, ah más lejos que nadie.

Pensando, soltando pájaros, desvaneciendo imágenes, enterrando lámparas.

Campanario de brumas, qué lejos, allá arriba!

Ahogando lamentos, moliendo esperanzas sombrías, molinero taciturno,

se te viene de bruces la noche, lejos de la ciudad.

 

Tu presencia es ajena, extraña a mí como una cosa.

Pienso, camino largamente, mi vida antes de ti.

Mi vida antes de nadie, mi áspera vida.

El grito frente al mar, entre las piedras,

corriendo libre, loco, en el vaho del mar.

La furia triste, el grito, la soledad del mar.

Desbocado, violento, estirado hacia el cielo.

 

Tú, mujer, qué eras allí, qué raya, qué varilla

de ese abanico inmenso? Estabas lejos como ahora.

Incendio en el bosque! Arde en cruces azules.

Arde, arde, llamea, chispea en árboles de luz.

Se derrumba, crepita. Incendio. Incendio.

Y mi alma baila herida de virutas de fuego.

Quién llama? Qué silencio poblado de ecos?

Hora de la nostalgia, hora de la alegría, hora de la soledad,

hora mía entre todas!

Bocina en que el viento pasa cantando.

Tanta pasión de llanto anudada a mi cuerpo.

 

Sacudida de todas las raíces,

asalto de todas las olas!

Rodaba, alegre, triste, interminable, mi alma.

 

Pensando, enterrando lámparas en la profunda soledad.

Quién eres tú, quién eres?

Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

  Argonautas   E se a alma deve conhecer-se a si mesma ela deve voltar os olhos para outra alma: * o estrangeiro e inimigo, vim...