quinta-feira, 4 de março de 2021

Pablo Neruda (Chile: 1904 – 1973)

De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”

 

Poema XIX / XXI

 

Menina morena e ágil, o sol que faz as frutas,

o que endurece os trigos, e o que retorce as algas,

fez teu corpo alegre, teus luminosos olhos

e tua boca que possui o sorriso da água.

 

Um sol negro e ansioso se enrola nos fios

da negra cabeleira, quando estiras os braços.

Tu brincas com o sol como com um arroio

e ele deixa em teus olhos dois escuros remansos.

 

Menina morena e ágil, em ti nada me aproxima.

em ti tudo me afasta, como do meio-dia.

És a delirante juventude da abelha,

a embriaguez da onda, a força da espiga.

 

Meu coração sombrio ainda assim te busca,

e amo teu corpo alegre, tua voz solta e delicada.

Borboleta morena doce e definitiva,

como um trigal e o sol, a papoula e a água.

 

 

Poema XIX / XXI

 

Niña morena y ágil, el sol que hace las frutas,

el que cuaja los trigos, el que tuerce las algas,

hizo tu cuerpo alegre, tus luminosos ojos

y tu boca que tiene la sonrisa del agua.

 

Un sol negro y ansioso se te arrolla en las hebras

de la negra melena, cuando estiras los brazos.

Tú juegas con el sol como con un estero

y él te deja en los ojos dos oscuros remansos.

 

Niña morena y ágil, nada hacia ti me acerca.

Todo de ti me aleja, como del mediodía.

Eres la delirante juventud de la abeja,

la embriaguez de la ola, la fuerza de la espiga.

 

Mi corazón sombrío te busca, sin embargo,

y amo tu cuerpo alegre, tu voz suelta y delgada.

Mariposa morena dulce y definitiva,

como el trigal y el sol, la amapola y el agua.

quarta-feira, 3 de março de 2021

Pablo Neruda (Chile: 1904 – 1973)

De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”

 

Poema XVIII - Aqui te amo.

 

Nos escuros pinheiros se desenreda o vento.

Fosforesce a lua sobre as águas errantes.

Correm dias iguais se perseguindo.

Desata-se a névoa em dançantes figuras.

Uma gaivota de prata se desprende do ocaso.

Às vezes uma vela. Altas, altas estrelas.

Ou a verga negra de um barco.

Só.

Às vezes amanheço, e até minha alma está úmida.

Soa, ressoa o mar distante.

Este é um porto.

Aqui te amo.

Aqui te amo e em vão te oculta o horizonte.

Estou te amando mesmo entre estas frias coisas.

Às vezes vão meus beijos nesses barcos graves,

que correm pelo mar até onde não chegam.

Já me vejo esquecido como estas velhas âncoras.

São mais tristes os molhes quando atraca a tarde.

Fatiga-se minha vida inutilmente faminta

Amo o que não tenho. Estás tu tão distante.

Meu fastio porfia com os lentos crepúsculos.

Mas a noite chega e começa a cantar para mim.

A lua faz girar sua roda de sonho.

Olham-me com teus olhos as estrelas maiores.

E como eu te amo, os pinheiros, ao vento, querem cantar teu nome com suas folhas de arame.

 

 

Aqui te amo – Poema XVIII

 

En los oscuros pinos se desenreda el viento.

Fosforece la luna sobre las aguas errantes.

Andan días iguales persiguiéndose.

Se desciñe la niebla en danzantes figuras.

Una gaviota de plata se descuelga del ocaso.

A veces una vela. Altas, altas estrellas.

O la cruz negra de un barco.

Solo.

A veces amanezco, y hasta mi alma está húmeda.

Suena, resuena el mar lejano.

Este es un puerto.

Aquí te amo.

Aquí te amo y en vano te oculta el horizonte.

Te estoy amando aún entre estas frías cosas.

A veces van mis besos en esos barcos graves,

que corren por el mar hacia donde no llegan.

Ya me veo olvidado como estas viejas anclas.

Son más tristes los muelles cuando atraca la tarde.

Se fatiga mi vida inútilmente hambrienta.

Amo lo que no tengo. Estás tú tan distante.

Mi hastío forcejea con los lentos crepúsculos.

Pero la noche llega y comienza a cantarme.

La luna hace girar su rodaje de sueño.

Me miran con tus ojos las estrellas más grandes.

Y como yo te amo, los pinos en el viento, quieren cantar tu nombre con sus hojas de alambre.

 

 

 

 

Pablo Neruda (Chile: 1904 – 1973)


De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”

 

Poema XVII / XXI

 

Pensando, entretecendo sombras na profunda solidão,

Tu também estás distante, ah mais distante que ninguém, sepultando lâmpadas.

Campanário de brumas, quão distante, lá no alto!

Afogando lamentos, moendo esperanças sombrias, moleira taciturna,

vem de bruços a noite, distante da cidade.

 

Tua presença é alheia, é-me estranha como uma coisa.

Penso, caminho longamente, por minha vida antes de ti.

Minha vida antes de ninguém, minha áspera vida.

O grito em frente ao mar, por entre as pedras

correndo livre, louco, no eflúvio do mar.

A fúria triste, o grito, a solidão do mar.

Desbocado, violento, estendido até o céu.

 

Tu, mulher, o que eras ali, que arraia, que varinha

desse leque imenso? Estavas distante como agora.

Incêndio no bosque! Arde em cruzes azuis.

Arde, arde, chameja, faíscas em árvores de luz.

Precipita-se, crepita. Incêndio. Incêndio.

E minha alma baila ferida por fagulhas de fogo.

Quem chama? Que silêncio povoado de ecos?

Hora da nostalgia, hora da alegria, hora da solidão,

hora minha entre todas!

Concha pela qual o vento passa cantando.

Tanta paixão de pranto desnudada em meu corpo.

 

Desapossada de todas as raízes,

assalto de todas as ondas!

Girava, alegre, triste, interminável, minha alma.

 

Pensando, sepultando lâmpadas na profunda solidão.

Quem és tu, quem és?

 

 

Poema XVII / XXI

 

Pensando, enredando sombras en la profunda soledad.

Tú también estás lejos, ah más lejos que nadie.

Pensando, soltando pájaros, desvaneciendo imágenes, enterrando lámparas.

Campanario de brumas, qué lejos, allá arriba!

Ahogando lamentos, moliendo esperanzas sombrías, molinero taciturno,

se te viene de bruces la noche, lejos de la ciudad.

 

Tu presencia es ajena, extraña a mí como una cosa.

Pienso, camino largamente, mi vida antes de ti.

Mi vida antes de nadie, mi áspera vida.

El grito frente al mar, entre las piedras,

corriendo libre, loco, en el vaho del mar.

La furia triste, el grito, la soledad del mar.

Desbocado, violento, estirado hacia el cielo.

 

Tú, mujer, qué eras allí, qué raya, qué varilla

de ese abanico inmenso? Estabas lejos como ahora.

Incendio en el bosque! Arde en cruces azules.

Arde, arde, llamea, chispea en árboles de luz.

Se derrumba, crepita. Incendio. Incendio.

Y mi alma baila herida de virutas de fuego.

Quién llama? Qué silencio poblado de ecos?

Hora de la nostalgia, hora de la alegría, hora de la soledad,

hora mía entre todas!

Bocina en que el viento pasa cantando.

Tanta pasión de llanto anudada a mi cuerpo.

 

Sacudida de todas las raíces,

asalto de todas las olas!

Rodaba, alegre, triste, interminable, mi alma.

 

Pensando, enterrando lámparas en la profunda soledad.

Quién eres tú, quién eres?

segunda-feira, 1 de março de 2021

Pablo Neruda (Chile: 1904 – 1973)

 

De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”

 

Poema XVI / XXI

 

Parafraseando Rabindranath Tagore

 

Em meu céu ao crepúsculo és como uma nuvem

e tua cor e forma são como eu as quero.

És minha, és minha, mulher dos lábios doces,

e vivem em ti meus infinitos sonhos.

 

A lâmpada de minha alma torna rosa os teus pés,

o ácido vinho meu é mais doce em teus lábios:

oh ceifadora da minha canção do entardecer,

como te sentem minha meus sonhos solitários!

 

És minha, és minha, vou gritando na aragem

da tarde, e o vento arrasta minha voz viúva.

Caçadora do fundo dos meus olhos, teu furto

detém como a água tua face noturna.

 

Na rede de minha música estás presa, meu amor,

e minhas redes de música são amplas como o céu.

Minha alma nasce nas bordas dos teus olhos de luto.

Em teus olhos de luto começa o país do sonho.

 

       

Poema XVI / XXI

 

Paráfrasis a Rabindranath Tagore

 

En mi cielo al crepúsculo eres como una nube

y tu color y forma son como yo los quiero

Eres mía, eres mía, mujer de labios dulces,

y viven en tu vida mis infinitos sueños.

 

La lámpara de mi alma te sonrosa los pies,

el agrio vino mío es más dulce en tus labios:

oh segadora de mi canción de atardecer,

cómo te sienten mía mis sueños solitarios!

 

Eres mía, eres mía, voy gritando en la brisa

de la tarde, y el viento arrastra mi voz viuda.

Cazadora del fondo de mis ojos, tu robo

estanca como el agua tu mirada nocturna.

 

En la red de mi música estás presa, amor mío,

y mis redes de música son anchas como el cielo.

Mi alma nace a la orilla de tus ojos de luto.

En tus ojos de luto comienza el país del sueño.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Pablo Neruda (Chile: 1904 – 1973)

De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”

 

Poema XV / XXI

 

Gosto quando calas porque estás como ausente,

e me ouves de longe, e minha voz não te toca.

Parece como se teus olhos houvessem voado

e parece que um beijo te cerrará a boca.

 

Como todas as coisas estão plenas de minha alma

emerges destas coisas, plena de alma minha.

Borboleta de sonho, tu te pareces à minha alma,

e tu te pareces à palavra melancolia;

 

Gosto quando calas e estás como distante.

E estás como te queixando, borboleta em arrulho.

E me ouves de longe, e minha voz não te alcança:

deixa que eu me cale com o silêncio teu.

 

Deixa que te fale também com teu silêncio

claro como uma lâmpada, simples como um anel.

És como a noite, calada e constelada.

Teu silêncio é de estrela, tão distante e simples.

 

Gosto quando calas porque estás como ausente.

Distante e dolorosa como se houvesses morrido.

Uma palavra agora, um sorriso bastam.

E estou alegre, alegre porque não seja seguro.

 

Poema XV / XXI

 

Me gustas cuando callas porque estás como ausente,

y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.

Parece que los ojos se te hubieran volado

y parece que un beso te cerrara la boca.

 

Como todas las cosas están llenas de mi alma

emerges de las cosas, llena del alma mía.

Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,

y te pareces a la palabra melancolía;

 

Me gustas cuando callas y estás como distante.

Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.

Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:

déjame que me calle con el silencio tuyo.

 

Déjame que te hable también con tu silencio

claro como una lámpara, simple como un anillo.

Eres como la noche, callada y constelada.

Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

 

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.

Distante y dolorosa como si hubieras muerto.

Una palabra entonces, una sonrisa bastan.

Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Pablo Neruda (Chile: 1904 – 1973)

De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”

 

Poema XIV / XXI

 

Brincas todos os dias com a luz do universo.

Sutil visitante, chegas até a flor e a água.

És mais que esta branca e pequena cabeça que aperto

como a um cacho em minhas mãos, a cada dia.

 

Com ninguém te assemelhas pois te amo.

Deixa-me deitar-te entre guirlandas amarelas.

Quem escreve teu nome com letras de fumaça entre as estrelas do sul?

Ah deixa-me recordar como tu eras então, quando ainda não existias.

 

De repente o vento uiva e golpeia minha janela fechada.

O céu é uma rede repleta de peixes sombrios.

Aqui vêm dar todos os ventos, todos.

Despe-se a chuva.

 

Passam em fuga os pássaros.

O vento. O vento.

Só posso lutar contra a força dos homens.

O temporal redemoinha folhas escuras,

soltam-se todos os barcos que na noite passada atracaram no céu.

 

Tu estás aqui. Ah tu não foges.

Responder-me-ás até o último grito.

Enovela-te ao meu lado como se tivesses medo.

No entanto por vezes passou uma sombra estranha por teus olhos.

 

Agora, também agora, pequena, trazes-me madressilvas,

e até os seios tu os tens perfumados.

Enquanto o vento triste galopa matando borboletas.

Amo-te, e minha alegria morde tua boca de ameixa.

 

Quanto haverá doído em ti o acostumar-te a mim,

à minha alma solitária e selvagem, ao meu nome que a todos afugenta.

Vimos por tantas vezes Vênus arder ao nos beijar nos olhos

e sobre nossas cabeças distorcerem-se os crepúsculos em leques giratórios.

Minhas palavras choveram sobre ti, acariciando-te.

Amei desde sempre teu corpo de madrepérola exposto ao sol.

Até creio que és dona do universo.

Das montanhas te trarei flores alegres, copihues, [*]

avelãs escuras, e cestas silvestres de beijos.

 

Quero fazer contigo

o que a primavera faz com as cerejeiras.

 

 

Poema XIV / XXI

 

Juegas todos los días con la luz del universo.

Sutil visitadora, llegas en la flor y en el agua.

Eres más que esta blanca cabecita que aprieto

como un racimo entre mis manos cada día.

 

A nadie te pareces desde que yo te amo.

Déjame tenderte entre guirnaldas amarillas.

Quién escribe tu nombre con letras de humo entre las estrellas del sur?

Ah déjame recordarte como eras entonces cuando aún no existías.

 

De pronto el viento aúlla y golpea mi ventana cerrada.

El cielo es una red cuajada de peces sombríos.

Aquí vienen a dar todos los vientos, todos.

Se desviste la lluvia.

 

Pasan huyendo los pájaros.

El viento. El viento.

Yo solo puedo luchar contra la fuerza de los hombres.

El temporal arremolina hojas oscuras

y suelta todas las barcas que anoche amarraron al cielo.

 

Tú estás aquí. Ah tú no huyes

Tú me responderás hasta el último grito.

Ovíllate a mi lado como si tuvieras miedo.

Sin embargo alguna vez corrió una sombra extraña por tus ojos.

 

Ahora, ahora también, pequeña, me traes madreselvas,

y tienes hasta los senos perfumados.

Mientras el viento triste galopa matando mariposas

yo te amo, y mi alegría muerde tu boca de ciruela.

 

Cuanto te habrá dolido acostumbrarte a mí,

a mi alma sola y salvaje, a mi nombre que todos ahuyentan.

Hemos visto arder tantas veces el lucero besándonos los ojos

y sobre nuestras cabezas destorcerse los crepúsculos en abanicos girantes.

Mis palabras llovieron sobre ti acariciándote.

Amé desde hace tiempo tu cuerpo de nácar soleado.

Hasta te creo dueña del universo.

Te traeré de las montañas flores alegres, copihues,

avellanas oscuras, y cestas silvestres de besos.

 

Quiero hacer contigo

lo que la primavera hace con los cerezos.

 

[*] Flor nacional do Chile.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Pablo Neruda (Chile: 1904 – 1973)

De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”

 

Poema XIII / XXI

 

Fui marcando com cruzes de fogo o atlas branco de teu corpo.

Minha boca era uma aranha que o cruzava se escondendo.

Em ti, atrás de ti, temerosa, sedenta.

 

Histórias a contar-te à margem do crepúsculo,

boneca triste e doce, para que não te sentisses triste.

Um cisne, uma árvore, algo distante e alegre.

O tempo das uvas, o tempo maduro e frutífero.

 

Eu que vivi em um porto de onde te amava.

A solidão entrecruzada pelo sonho e o silêncio.

Aprisionado entre o mar e a tristeza.

Calado, delirante, entre dois gondoleiros imóveis.

 

Entre os lábios e a voz, algo vai morrendo.

Algo com asas de pássaro, algo de angústia e de esquecimento.

Assim como as redes não retêm a água.

Boneca minha, apenas caem gotas que estremecem.

No entanto, algo canta entres estas palavras fugazes.

Algo canta, algo sobe até minha ávida boca.

Oh poder celebrar-te com todas as palavras de alegria.

Cantar, arder, fugir, como um campanário em mãos de um louco.

Triste ternura minha, em que te tornas de repente?

 

Poema XIII / XXI

 

He ido marcando con cruces de fuego

el atlas blanco de tu cuerpo.

Mi boca era una araña que cruzaba escondiéndose.

En ti, detrás de ti, temerosa, sedienta.

 

Historias que contarte a la orilla del crepúsculo,

muñeca triste y dulce, para que no estuvieras triste.

Un cisne, un árbol, algo lejano y alegre.

El tiempo de las uvas, el tiempo maduro y frutal.

 

Yo que viví en un puerto desde donde te amaba.

La soledad cruzada de sueño y de silencio.

Acorralado entre el mar y la tristeza.

Callado, delirante, entre dos gondoleros inmóviles.

 

Entre los labios y la voz, algo se va muriendo.

Algo con alas de pájaro, algo de angustia y de olvido.

Así como las redes no retienen el agua.

Muñeca mía, apenas quedan gotas temblando.

Sin embargo, algo canta entre estas palabras fugaces.

Algo canta, algo sube hasta mi ávida boca.

Oh poder celebrarte con todas las palabras de alegría.

Cantar, arder, huir, como un campanario en las manos de un loco.

Triste ternura mía, qué te haces de repente?


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Pablo Neruda (Chile: 1904 – 1973)

 

De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”

 

Poema XII / XXI

 

Para meu coração bastam teus seios,

para tua liberdade bastam minhas asas.

De minha boca chegará ao céu

o que adormecia sobre a tua alma.

 

Em ti se encontra a ilusão de cada dia.

Chegas como o orvalho às corolas.

Golpeias o horizonte com tua ausência.

Eternamente em fuga como uma onda.

 

Eu disse que cantavas no vento

como os pinheiros e como os mastros.

Como eles és alta e taciturna.

E te entristeces de súbito como uma viagem.

 

Acolhedora como um velho caminho.

Povoam-te ecos e vozes nostálgicas.

Despertei e às vezes emigram e fogem

pássaros que dormiam em tua alma.

 

 

Poema XII / XXI

 

Para mi corazón basta tu pecho,

para tu libertad bastan mis alas.

Desde mi boca llegará hasta el cielo

lo que estaba dormido sobre tu alma.

 

Es en ti la ilusión de cada día.

Llegas como el rocío a las corolas.

Socavas el horizonte con tu ausencia.

Eternamente en fuga como la ola.

 

He dicho que cantabas en el viento

como los pinos y como los mástiles.

Como ellos eres alta y taciturna.

Y entristeces de pronto como un viaje.

 

Acogedora como un viejo camino.

Te pueblan ecos y voces nostálgicas.

Yo desperté y a veces emigran y huyen

pájaros que dormían en tu alma.

 

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Pablo Neruda (Chile: 1904 – 1973)

De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”

 

Poema XI / XXI

 

Quase fora do céu âncora entre duas montanhas, a metade da lua,

giratória, errante noite, a escavadora de olhos.

Vejamos quantas estrelas trituradas no charco.

 

Traça uma cruz de luto entre meus olhos, foge.

Forja de metais azuis, noites das caladas lutas,

meu coração volteia como uma roda enlouquecida.

Menina vinda de tão longe, trazida de tão longe,

às vezes fulgura sua face sob o céu.

Queixume, tempestade, redemoinho de fúria,

cruza sobre meu coração, sem se deter.

Vento dos sepulcros leva, destroça, dispersa tua raiz sonolenta.

Desarraiga as grandes árvores ao outro lado dela.

Porém tu, clara menina, indaga sobre fumaça, espiga.

Era a que ia formando o vento com folhas iluminadas.

Atrás das montanhas noturnas, branco lírio de incêndio,

ah não posso dizer nada! Era feita de todas as coisas.

Angústia que feriste meu peito a punhaladas,

é hora de seguir outro caminho, onde ela não sorria.

Tempestade que sepultou os sinos, turvo alvoroço de tormentas

por que tocá-la agora, por que entristecê-la.

 

Ai, seguir o caminho que se distancia de tudo,

que não seja atalho para a angústia, a morte, o inverno,

com seus gélidos olhos abertos no orvalho.

 

 

Poema XI / XXI

 

Casi fuera del cielo ancla entre dos montañas

la mitad de la luna.

Girante, errante noche, la cavadora de ojos.

A ver cuántas estrellas trizadas en la charca.

 

Hace una cruz de luto entre mis cejas, huye.

Fragua de metales azules, noches de las calladas luchas,

mi corazón da vueltas como un volante loco.

Niña venida de tan lejos, traída de tan lejos,

a veces fulgurece su mirada debajo del cielo.

Quejumbre, tempestad, remolino de furia,

cruza encima de mi corazón, sin detenerte.

Viento de los sepulcros acarrea, destroza, dispersa tu raíz soñolienta.

Desarraiga los grandes árboles al otro lado de ella.

Pero tú, clara niña, pregunta de humo, espiga.

Era la que iba formando el viento con hojas iluminadas.

Detrás de las montañas nocturnas, blanco lirio de incendio,

ah nada puedo decir! Era hecha de todas las cosas.

Ansiedad que partiste mi pecho a cuchillazos,

es hora de seguir otro camino, donde ella no sonría.

Tempestad que enterró las campanas, turbio revuelo de tormentas

para qué tocarla ahora, para qué entristecerla.

 

Ay seguir el camino que se aleja de todo,

donde no esté atajando la angustia, la muerte, el invierno,

con sus ojos abiertos entre el rocío.


Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

  Argonautas   E se a alma deve conhecer-se a si mesma ela deve voltar os olhos para outra alma: * o estrangeiro e inimigo, vim...