Poema
03 / 24
Aos
meus amigos e graúnas pretas
que
brincam alvoroçadas sobre os telhados de casas em ruínas
Exarchia
Patisia Metaxurgio Metz [1]
Eles
fazem o que pinta. [2]
Vendedores
de livros de culinária e enciclopédias
constroem
estradas e conectam desertos
propagandeiam
bares miseráveis da rua Zynonos
rebeldes
profissionais
encurralados
e forçados a baixar as calças nos velhos tempos
hoje
eles engolem pílulas e álcool para dormir
mas são
assaltados por sonhos e não dormem.
Penso
que meus amigos são arames tensos
sobre
telhados de casas antigas
Exarchia
Victoria Gookaki Geazy.
Com um
milhão de cavilhas de aço vocês os aguilhoaram com
suas
culposas decisões de partido vestidos emprestados
queimaduras
cefaleias estranhas
silêncios
ameaçadores vaginites
eles se
apaixonam por homossexuais
triconomíases
períodos atrasados
o
telefone o telefone o telefone
vidros
partidos e ninguém uma ambulância.
Eles
fazem o que pinta.
Meus
amigos estão sempre de mudança
pois
vocês não cederam nem um milímetro.
Todos
os meus amigos pintam com a cor preta
pois
vocês degradaram para eles o vermelho
eles
escrevem numa língua simbólica
pois a
de vocês só serve pra lamber rabos.
Meus
amigos são graúnas pretas e arames
nas
mãos. Na sua garganta.
Meus
amigos.
Poema 3
/ 24
To my
friends and blackbirds
playing
see-saw on roofs of crumbling houses
Exarchia
Patisia Metaxurgio Metz.
They do
whatever comes along.
Peddlers
of cookbooks and encyclopedias
they
build roads and connect deserts
barkers
for Zinonos St. dives
professional
rebels
cornered
in the old days and forced to pull down their pants
now
they swallow pills and alcohol to sleep
but
they see dreams so they don't sleep.
To memy
friends are taut wires
on the
roofs of old houses
Exarchia
Victoria Gookaki Geazy.
With a
million steel pegs you pinned them with
your
guilt party-meeting decisions borrowed dresses
burn-marks
strange headaches
threatening
silences vaginitis
they
fall in love with gays
triconoma
late-periods
the
telephone the telephone the telephone
bronken
glasses and no one an ambulance.
They do
whatever comes along.
My
friends always are on the move
because
you haven't given them an inch.
All my
friends paint with black
because
you've debased the red for them
they
write in a symbolic tongue
because
your own's only for asslicking.
My
friends are blackbirds and wires
in your
hands. At your throat.
My
friends.
Do livro Três Cliques à Esquerda: o título refere-se à ordem militar para que um operador de metralhadora corrija a mira girando o cano da arma sobre o tripé três furos à esquerda (nesta caso)
Notas:
[1] Na
época em que os poemas foram escritos, bairros residenciais da classe média
baixa de Atenas.
[2]
Face à linguagem francamente coloquial utilizada por Katerína Gógou em seus
poemas, permito-me fazer uso do verbo pintar, gíria dos anos 1960 para
"tornar-se realidade no tempo e no espaço; ocorrer, acontecer"
(Houaiss)