segunda-feira, 18 de maio de 2020

Federico García Lorca (Espanha: 1898 – 1936)




Soneto do Doce Queixume

Tenho receio de perder o encanto
de teus olhos de estátua e a pronúncia
com que a solitária flor de teu hálito
à noite minha face acaricia.

Tenho pena de ser aqui nesta orla
tronco sem galhos; e o que mais lamento
é não dispor de flor, polpa ou argila,
pro vaga-lume de meu sofrimento.

Se tu és a minha cruz e a dor molhada,
se és o tesouro que guardo ocultado,
se sou o cão de teu senhor e mais nada,

não deixes que de ti seja eu privado,
e a água de teu rio conserva ornada
com folhas de meu outono alienado.


Soneto de la Dulce Queja


Tengo miedo a perder la maravilla
de tus ojos de estatua, y el acento
que de noche me pone en la mejilla
la solitaria rosa de tu aliento.

Tengo pena de ser en esta orilla
tronco sin ramas; y lo que más siento
es no tener la flor, pulpa o arcilla,
para el gusano de mi sufrimiento.

Si tú eres el tesoro oculto mío,
si eres mi cruz y mi dolor mojado,
si soy el perro de tu señorío,

no me dejes perder lo que he ganado
y decora las aguas de tu río
con hojas de mi otoño enajenado.
 

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