terça-feira, 19 de maio de 2020

Chinua Achebe (Nigéria: 1930 – 2013)




Mãe em Campo de Refugiados


Nenhuma ‘Madona e a Criança’ se igualaria
àquele quadro de ternura de uma mãe
por um filho que logo ela teria de esquecer.
O ar estava carregado de odores

de diarreia de crianças não lavadas
de costelas erodidas e descarnados
traseiros esforçando-se em penosos
passos atrás de barrigas estufadas. Ali

muitas mães há tempos haviam cessado
de importar-se mas esta; sustentou
um esboço de sorriso entre seus dentes,
e em seus olhos o que restou do orgulho
de uma mãe ao pentear o que sobrara
do cabelo ferruginoso em seu crânio e então –

o canto em seus olhos – começou com cuidado
a reparti-los... Em outra vida este
teria sido um pequeno ato rotineiro
e insignificante antes do seu
café da manhã e da escola; agora ela
  
o fazia como se depositando flores
sobre uma minúscula sepultura.


A Mother In A Refugee Camp


No Madonna and Child could touch
that picture of a mother's tenderness
for a son she soon would have to forget.
The air was heavy with odours
of diarrhoea of unwashed children
with washed-out ribs and dried-up
bottoms struggling in laboured
steps behind blown empty bellies. Most
mothers there had long ceased
to care but not this one; she held
a ghost smile between her teeth
and in her eyes the ghost of a mother's
pride as she combed the rust-coloured
hair left on his skull and then -
singing in her eyes - began carefully
to part it… In another life this
would have been a little daily
act of no consequence before his
breakfast and school; now she
did it like putting flowers
on a tiny grave.


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